Pai Ayrton Soeiro: sacerdote de matriz africana mais antigo de Ananindeua vira nome de rua

Projeto foi aprovado na Câmara Municipal de Ananindeua e já está em vigor

Fernando Assunção
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Em celebração ao Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé e ao Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, em 21 de março, a Câmara Municipal de Ananindeua aprovou a mudança do nome da antiga Rua Nova, no bairro do Coqueiro, para Rua Pai Ayrton Soeiro, em homenagem ao sacerdote de matriz africana mais antigo do município. Há quase 60 anos, a via abriga o terreiro fundado por Pai Ayrton, o Teucy - Ilê Ase Oyá Egunitá - Mansu Manso Bando Keke Bisneta. A alteração está em vigor desde a última terça-feira (21).

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Paraense, nascido em Belém, no ano de 1932, Pai Ayrton Soeiro foi referência no trabalho de assistência à comunidade. Desde cedo já apresentava sinais mediúnicos e, em 28 de outubro de 1946, fundou o Teucy, que, além de consultas espirituais, desenvolveu intenso trabalho social junto à comunidade, com distribuição de cestas básicas, remédios, recuperação de dependentes químicos e até abrindo as portas do terreiro para abrigar pessoas em situação de vulnerabilidade. A atuação do terreiro e do sacerdote, falecido em 2002 aos 69 anos, foi reconhecida internacionalmente e alvo de pesquisas acadêmicas.

Pai Lucas Irain, sacerdote e bisneto de Pai Ayrton, comemora a homenagem: “Pai Ayrton teve sua vida terrena 100% dedicada a servir à espiritualidade com total devoção, deixando esse legado a nós, frutos do seu amor, de amar e servir aos Orixás, da mesma maneira que ele ensinou”. Para ele, o reconhecimento é um marco dentro do município na promoção da liberdade religiosa. “O racismo estrutural tem sido a maior luta de todos nós, afrodescendentes. Por isso, ter esse reconhecimento é um feito histórico para nosso município e uma vitória coletiva de todos os filhos do Axé”, destaca, ainda. 

“Que isso possa servir como exemplo e incentivo às lideranças [afrorreligiosas] e, também, aos nossos representantes de outros municípios e, até mesmo, na esfera estadual, porque existem sacerdotes com uma história linda no estado do Pará, que também mereciam ter nomes de ruas, praças, etc. Acredito, que assim como existe a [travessa] Padre Eutíquio, entre outras, com o nome de outros sacerdotes de outras religiões, que eu acho lindo e plausível, a gente também precisa ocupar esses espaços. Até para combater a ‘demonização’ que nós sofremos, para ajudar a gente a dizer quem de fato nós somos. Que isso possa se estender por todo o nosso estado e Brasil afora”, agrega Pai Lucas Irain.

O projeto de mudança do nome da rua foi apresentado pela vereadora Francy Pereira e aprovado por unanimidade na Câmara Municipal de Ananindeua. Na ocasião, também foi aprovada a Comenda Municipal Pai Ayrton Soeiro. A sessão contou com a presença da Mãe Yacira, Yalorixá do Teucy, além de familiares, amigos, adeptos de religiões de matrizes africanas e membros da Coordenação de Igualdade Racial do Município de Ananindeua.

"Nosso povo, infelizmente, ainda sofre com muita intolerância religiosa e, para mim, é uma alegria, como mulher e negra, ser uma representante das minorias dentro da nossa Câmara Municipal de Ananindeua. Os nomes das nossas ruas são um indicativo de quem homenageamos e respeitamos em sociedade. Dar a uma rua o nome do Pai Ayrton Soeiro, que tem uma linda história de luta e resistência, é reconhecer a luta contra a discriminação racial e a favor das tradições de raizes de matrizes africanas e nações do candomblé", destaca a vereadora Francy Pereira.

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