‘Genocídio’: Brasil critica Israel e poupa Rússia sobre guerras ao discursar nos Brics

Ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira classificou a reação de Israel como desproporcional e defendeu a proposta do Brasil e da China para o fim da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Jéssica Nascimento
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O Brasil fez uma crítica dura contra a operação militar israelense na Faixa de Gaza, mas foi mais brando ao abordar a invasão da Ucrânia pela Rússia durante discurso na sessão ampliada da Cúpula dos Brics, grupo de países formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Em 1 de janeiro de 2024, Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Etiópia e Irã aderiram ao bloco como membros plenos. (Com informações da CNN)

Representando o país na cúpula, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, classificou a guerra de Israel contra o Hamas como uma “punição coletiva” aos palestinos após o ataque de 7 de outubro.

Para o chanceler, não há justificativa para atos terroristas como os praticados pelo Hamas, mas a reação desproporcional de Israel tornou-se punição de vários grupos ao povo palestino.

“Já foram lançados sobre Gaza mais explosivos do que os que atingiram Dresden, Hamburgo e Londres na Segunda Guerra Mundial”, declarou Vieira. 

O ministro defendeu ainda as iniciativas dos países do Sul Global em meio ao conflito. São elas: a iniciativa pela paz da Liga Árabe, o papel do Catar na mediação das negociações por um cessar-fogo e a ação movida pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça contra o que classificou como “genocídio” na Faixa de Gaza.

Segundo Mauro Vieira, o papel desempenhado por outros países tem sido, no mínimo, decepcionante.

“Os que se arrogam defensores dos direitos humanos fecham os olhos diante da maior atrocidade da história recente”, afirmou.

No discurso, o chanceler brasileiro também afirmou que “não haverá paz enquanto não houver um Estado palestino independente”.

Rússia X Ucrânia

Sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia, Mauro Vieira evitou críticas ao Kremlin e defendeu a proposta do Brasil e da China para o fim do conflito.

Segundo a iniciativa bilateral, haveria um processo de 6 etapas que teria como ponto de partida negociações diretas entre o Kremlin e Kiev e o congelamento do front de batalha como está neste momento, sem mais nenhum avanço territorial.

Críticos da proposta, a Ucrânia e aliados afirmam que esse seria um plano “pró-Rússia”, uma vez que não exige a retirada imediata dos soldados russo do território ucraniano.

Já o chanceler Mauro Vieira defende um clube da paz para o diálogo e a busca por uma solução a longo prazo. “Essa solução duradoura só virá com o respeito ao direito internacional, incluindo os propósitos e princípios consagrados na Carta da ONU, e o papel central das Nações Unidas no sistema internacional”, avaliou Vieira. 

Transição energética e revolução digital

Por fim, o ministro das Relações Exteriores apresentou uma lista das questões que os países de renda baixa ou média precisam enfrentar em um cenário de concentração global da renda e de revoluções tecnológicas que podem tornar esse processo bem mais acentuado. 

Para o chanceler, essa lista é composta pelos seguintes desafios: a transição energética para uma economia que não dependa da exploração de combustíveis fósseis; o desenvolvimento de ferramentas de Inteligência Artificial; e o fomento à industrialização.

No entanto, para cumprir os objetivos, Mauro Vieira argumentou que o Sul Global precisa se articular para mudar a estrutura dos organismos de cooperação internacional. 

Além disso, voltou a repetir a possibilidade de convocar uma espécie de constituinte para reescrever a Carta da ONU. Essa proposta foi avaliada por Lula durante um evento paralelo à Assembleia Geral das Nações Unidas, realizada em Nova York no mês passado.

Segundo Vieira, o Brasil quer explorar esses temas ao longo do período de presidência dos Brics, em 2025, que terá como lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global por uma Governança mais Inclusiva e Sustentável.”

 

 

 

 

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