Nobel da Paz vai para María Corina Machado, líder da oposição da Venezuela
Machado está escondida desde janeiro e não aparece em público desde então
O Prêmio Nobel da Paz de 2025 foi concedido a María Corina Machado, líder da oposição da Venezuela. O Comitê Norueguês do Nobel destacou seu “trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos para o povo venezuelano e sua luta por uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia”.
Segundo o presidente do comitê, Jørgen Watne Frydnes, Machado foi uma “figura-chave e unificadora em uma oposição política antes profundamente dividida, que encontrou um ponto comum na demanda por eleições livres e governo representativo”.
“No último ano, a Sra. Machado foi forçada a viver escondida. Apesar das sérias ameaças à sua vida, ela permaneceu no país, uma escolha que inspirou milhões”, afirmou Frydnes. “Quando autoritários tomam o poder, é crucial reconhecer os corajosos defensores da liberdade que se levantam e resistem.”
VEJA MAIS
Contexto político na Venezuela
O governo de Nicolás Maduro perseguiu diversos oponentes antes das eleições presidenciais do ano passado. Machado seria candidata, mas foi desqualificada pelo regime. Em seu lugar, apoiou o diplomata Edmundo González Urrutia.
O período eleitoral foi marcado por repressão, prisões e violações de direitos humanos. Após o Conselho Nacional Eleitoral, dominado por aliados de Maduro, declarar vitória do presidente, protestos tomaram o país. A resposta do governo resultou em mais de 20 mortos e em rompimento diplomático com nações como a Argentina.
Machado está escondida desde janeiro e não aparece em público desde então. Já González recebeu asilo político na Espanha após um mandado de prisão emitido pela Justiça venezuelana.
Questionado se a líder poderá comparecer à cerimônia de entrega do Nobel, prevista para dezembro, em Oslo, Frydnes afirmou que a presença depende das condições de segurança.
“É muito cedo para dizer. Sempre esperamos ter o laureado conosco, mas esta é uma situação de segurança séria”, disse.
Reação de Trump à escolha do comitê
A escolha de María Corina Machado frustrou as expectativas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que havia afirmado publicamente merecer o Nobel da Paz. O republicano esperava ser reconhecido pelo cessar-fogo entre Israel e o grupo Hamas, anunciado na quarta-feira (8).
Frydnes foi questionado sobre se a campanha pública de Trump poderia ter influenciado a decisão. Ele respondeu que o comitê recebe cartas todos os anos apoiando candidatos específicos, mas segue apenas os princípios definidos por Alfred Nobel.
Trump vem demonstrando interesse pelo prêmio há anos e já foi indicado em diversas ocasiões. O Nobel da Paz de 2025, porém, reconhece conquistas relativas ao ano de 2024 — período anterior ao retorno do republicano à Casa Branca.
Como funciona o Nobel da Paz
O Prêmio Nobel da Paz é concedido desde 1901 a pessoas ou organizações que contribuem para o progresso da humanidade, conforme o desejo de Alfred Nobel, inventor sueco e criador da premiação.
O prêmio é entregue pelo Comitê Norueguês do Nobel, composto por cinco membros escolhidos pelo Parlamento da Noruega. O vencedor recebe uma medalha de ouro e um valor em dinheiro — em 2023, o prêmio foi de 11 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 4,8 milhões).
As indicações são feitas até o fim de janeiro e avaliadas até outubro. A lista final, com até 20 nomes, é debatida e votada pelos jurados. A entrega ocorre em dezembro, mas o comitê pode decidir não conceder o prêmio em determinado ano — algo que já aconteceu 20 vezes, a mais recente em 1972. Desde 1974, os estatutos determinam que o Nobel não pode ser concedido postumamente, salvo se o ganhador falecer após o anúncio.
Premiados recentes
Em 2024, o Nobel da Paz foi concedido à ativista iraniana Narges Mohammadi pela luta contra a discriminação e a opressão às mulheres no Irã. Mesmo presa, ela continuou atuando em defesa dos direitos femininos e foi uma das vozes dos protestos que se seguiram à morte de Mahsa Amini.
Em 2023, a organização japonesa Nihon Hidankyo, formada por sobreviventes das bombas de Hiroshima e Nagasaki, recebeu o prêmio por sua atuação pelo fim das armas nucleares.
Nos anos anteriores, o prêmio foi concedido a nomes como:
• Ales Bialiatski, ativista de Belarus;
• Maria Ressa e Dmitri Muratov, jornalistas das Filipinas e da Rússia;
• O Programa Mundial de Alimentos da ONU (2020);
• E a paquistanesa Malala Yousafzai (2014), a mais jovem laureada, reconhecida pela defesa do direito à educação.
(Com informações da Associated Press)
Palavras-chave