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Delegação do Brasil na ONU deixa Assembleia-Geral durante discurso de Netanyahu

Estadão Conteúdo

A delegação brasileira se retirou do salão do Debate Geral da Assembleia-Geral da ONU no momento em que o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, subiu ao púlpito nesta sexta-feira, 26. Representantes de outras dezenas de países fizeram o mesmo enquanto o israelense era aplaudido por alguns membros do salão e o presidente da sessão pedia ordem.

Além do Brasil, se retiraram do salão quase todos os representantes de países árabes e muçulmanos, alguns de países africanos e alguns europeus, em protesto à ofensiva israelense na Faixa de Gaza que está perto de completar dois anos.

Imagens do salão vazio mostraram os assentos desocupados da Palestina, Arábia Saudita, Tunísia, Sri Lanka, Coreia do Sul, Turquia, Senegal, Venezuela, Irã (que substituiu sua delegação por imagens de crianças que diziam ter sido mortas por Israel), entre outros.

A saída da delegação brasileira ecoa o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na abertura da Assembleia-Geral na terça-feira, 23, no qual criticou o ataque terrorista do Hamas de 7 de outubro de 2023 e emendou que "nada, absolutamente nada, justifica o genocídio em curso em Gaza".

A delegação americana, que apoiou Netanyahu em sua campanha contra o Hamas, permaneceu no local. As poucas potências mundiais presentes, Estados Unidos e Reino Unido, não enviaram seus funcionários mais graduados ou mesmo seu embaixador na ONU para sua seção. Em vez disso, ela foi preenchida com diplomatas mais juniores e de baixo escalão.

Embora o salão onde ficam os representantes das nações estivesse esvaziado, a galeria onde ficam os convidados dos Estados estava lotada. Israel também trouxe convidados no ano passado, que aplaudiram e comemoraram os comentários de Netanyahu após a saída dos diplomatas.

O premiê abriu os debates do quatro dia de assembleia acusando os líderes que reconheceram o Estado palestino de antissemitismo e disse que os palestinos são contra a solução de dois Estados para dois povos.

Enquanto vozes gritavam repetidamente na plateia, Netanyahu iniciou seu discurso detalhando os ataques de seu país contra oponentes e vizinhos do Oriente Médio, que, segundo ele, eliminaram ameaças a Israel, e leu uma lista com os nomes dos reféns mantidos em Gaza.

Netanyahu enfrenta isolamento internacional, acusações de crimes de guerra e crescente pressão para pôr fim a um conflito que ele continua a agravar. O discurso desta sexta foi sua chance de contestar a maior plataforma da comunidade internacional.

Ele negou que Israel estivesse cometendo genocídio, citando como prova a emissão repetida de ordens de retirada de civis em Gaza.

Esta semana, cerca de 10 países, incluindo França, Reino Unido e Canadá, aliados de longa data de Israel, reconheceram o Estado palestino como parte de um esforço para promover uma solução de dois Estados para o conflito. Em seus discurso hoje, Netanyahu disse que esses países enviaram uma mensagem de que "assassinar judeus compensa".

Em resposta aos reconhecimentos, alguns membros da coalizão de direita de Netanyahu pediram a anexação de toda ou parte da Cisjordânia ocupada por Israel. Isso poderia colocar o líder israelense em desacordo com seu aliado mais forte, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que esta semana garantiu aos líderes mundiais que não permitiria a anexação.

Como já fez muitas vezes nas Nações Unidas, ele ergueu um mapa da região intitulado "A MALDIÇÃO". Subiu ao pódio usando um broche especial para reféns com um QR Code que leva a um local por volta de 7 de outubro, criado especialmente para fins de diplomacia pública internacional. Os membros da delegação do primeiro-ministro, ministros e seus acompanhantes também usavam broches idênticos.

A União Europeia está considerando impor tarifas e sanções contra Israel pelo prolongamento da . A assembleia aprovou este mês uma resolução não vinculativa instando Israel a se comprometer com uma nação palestina independente, o que Netanyahu disse ser inviável.

Mandado de prisão

O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu um mandado de prisão acusando Netanyahu de crimes contra a humanidade, o que ele nega. E a mais alta corte da ONU está avaliando a alegação da África do Sul de que Israel cometeu genocídio em Gaza, que refuta veementemente.

Também houve protestos ao discurso do lado de fora da assembleia. Centenas de manifestantes começaram a se reunir na Times Square, em frente ao prédio das Nações Unidas, logo cedo pela manhã. A multidão aplaudiu ruidosamente quando os organizadores anunciaram que os chefes de Estado haviam saído em massa da Assembleia Geral durante o discurso.

Netanyahu discursou um dia depois do líder palestinos Mahmoud Abbas, no qual condenou o ataque do Hamas e o antissemitismo e disse que está pronto para um governo palestino sem a participação do grupo terrorista. O presidente da autoridade palestina discursou em um vídeo gravado, pois teve o visto para ir aos Estados Unidos negado. (Com agências internacionais).