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Covid-19 na Amazônia: mesmo com alto número de casos e mortes, ritmo de vacinação é abaixo da média

Se fosse um país, a Amazônia Legal Brasileira ocuparia a 17ª posição entre as nações com maior número de casos confirmados e mortes pela Covid-19

Redação Integrada

Apesar da taxa de incidência de casos confirmados de Covid-19 na Amazônia ser maior que a média nacional, o índice de vacinação nos nove Estados que compõe a região ainda é menor que o ritmo médio no restante do país. De acordo com dados da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, de março de 2020 a maio de 2021, a Amazônia já acumula mais de 2 milhões de casos confirmados da doença, gerando uma taxa de incidência da doença em relação à população de 7,5 mil casos para cada cem mil habitantes.

 

Já a média da taxa de incidência no Brasil ficou em 6,9 mil casos a cada 100 mil habitantes, na relação da população com um total acumulado de 14,7 milhões de casos no país desde o início da pandemia. Ainda segundo a Secretaria de Vigilância, a taxa de mortalidade na região amazônica brasileira é de 195,4 mortes para cada cem mil habitantes, enquanto que a média nacional neste item ficou em 191,1 óbitos.

Ao relacionar com os dados de Covid-19 no mundo, compilados pela “Our world in data”, da Universidade de Oxford, a Amazônia brasileira, se fosse um país, ocuparia a 17ª posição global, tanto em número de mortes (54 mil) como em número de casos confirmados (2.082.068). Considerada apenas a população estimada de 25 milhões de habitantes, a Amazônia seria apenas o 56o país do mundo em habitantes e o sexto maior do mundo em extensão territorial. O Brasil ocupa hoje a terceira posição em número de casos de Covid (15,2 milhões) e a segunda posição em número de mortes, com mais de 425 mil vidas perdidas para a doença.

Enquanto os indicadores da doença na região são mais altos que a média nacional brasileira, o ritmo de vacinação na Amazônia segue abaixo do índice médio do país. De acordo com dados do consórcio de veículos de imprensa, baseados nos números informados diariamente pelas secretarias estaduais de Saúde, até 10 de maio de 2021, 12,5% da população dos Estados que compõem a Amazônia Legal brasileira recebeu ao menos uma dose das vacinas disponíveis contra o Coronavírus, enquanto que a média nacional está em 16,6%.

Já em relação ao índice daqueles que já receberam a segunda dose do imunizante, a Amazônia também ficou abaixo da média nacional, com apenas 6,15%, enquanto a média nacional está em 8,3%.

Para ampliar a oferta de vacinas e acelerar o ritmo de vacinação, os governadores de vários Estados brasileiros buscam alternativas no fornecimento do imunizante. O país atualmente conta com lotes da Pfizer (BioNtech), Astrazeneca (Oxford/Fiocruz) e Coronavac (Butantan/Sinovac). Uma das iniciativas é a compra da Sputinik, que foi vedada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que alegou critérios técnicos pela negativa da importação do imunizante.

image População do grupo de risco recebeu vacinação (Michael Dantas / Especial para O Liberal)

No início do mês, o governador do Pará, Helder Barbalho e o governador do Piauí, Wellingtom Dias, estiveram com o embaixador russo no Brasil, Alexey Kazimirovitch, para tratar do tema. "O objetivo é que possamos mediar e facilitar a interlocução entre a Agência Brasileira de Vigilância com o Instituto Gamaleya (responsável pelas pesquisas sobre a vacina russa). A intenção é que, estando esclarecidas as dúvidas e mostrando a eficácia desta vacina, que já está sendo aplicada em 62 países, nós possamos incrementar a oferta de vacinas (no Brasil) com a Sputnik. Desta forma, ampliaremos a quantidade de vacinas disponíveis para a população brasileira", informou o governador do Pará.

Região amazônica tem pior densidade médica do país

Além das conhecidas dificuldades de logística para atendimento de comunidades afastadas e ausência de priorização para atendimento da população na Amazônia, a região enfrenta problemas estruturais e históricos em saúde, como a baixa oferta de equipamentos em relação a outros centros do país, assim como poucos médicos em relação à população.

“A região amazônica é ampla, onde os serviços e os profissionais não ficam, não permanecem para atender as necessidades da população, especialmente a ribeirinha”, destaca Vanja dos Santos, que integra o Conselho Nacional de Saúde.

image Corpos de vítimas da covid-19 são enterrados em Manaus (Michael Dantas / Especial para O Liberal)

Segundo o estudo "Demografia Médica no Brasil 2020", elaborado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Universidade de São Paulo (USP), divulgado no final do ano passado, a região Norte, que abriga sete dos nove Estados da Amazônia Legal, registra o pior índice do país, com 1,3 médicos por cada mil habitantes. O índice é bem abaixo da média nacional, que é de 2,2 médicos por cada mil habitantes. Em todo o país, o Pará, com 1,07, e o Maranhão (que integra em parte a Amazônia Legal), com taxa de 1,08 são os estados com menor número de médicos em relação à população.

De acordo com levantamento, “ao comparar a proporção de médicos e da população, as desigualdades ficam ainda mais evidentes. A região Norte, por exemplo, agrupa 8,8% de toda a população do país, mas conta com 4,6% dos médicos em atividade”, destaca o estudo.

Quando observado o interior do país, o cenário fica ainda pior. Enquanto que no conjunto das capitais brasileiras existem 5,6 médicos por mil habitantes, as cidades do interior ficaram com média de 1,4 médico por mil habitantes. O quadro é, também, ainda mais preocupante entre os estados da Amazônia Brasileira. A região Norte possui razão de apenas 0,54 médico por mil habitantes quando consideradas as cidades do interior da região.

Fotos - galeria - Liberal Amazon 2 episódio

Região possui menor taxa de formação de médicos do país

Ainda segundo o estudo "Demografia Médica no Brasil 2020", a distribuição de escolas e vagas em medicina também é desigual no Brasil. A região Norte, novamente, possui o pior índice entre as regiões, com 3.013 vagas, ou 8% do total das 37.823 vagas do país. O sudeste brasileiro, formado por São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo, concentra 46%, totalizando 148 cursos e 17.404 vagas.

Em todo o país, 62,6% das vagas de graduação médica oferecidas estão no interior dos estados. O índice de interiorização, porém, cai pela metade na região Norte, com 32,3% das vagas ofertadas por cursos localizados no interior. Uma dessas cidades é Santarém, no Oeste do Pará, no coração da Amazônia. O curso de medicina da Universidade do Estado do Pará (Uepa) formou sua primeira turma em 2012. O investimento em educação superior no interior mostra resultados na prática, inclusive no atual cenário de combate à Covid-19.

image Paciente de covid-19 recebe atendimento em casa, no Marajó (Tarso Sarraf / O Liberal)

O médico Eduardo Maia concluiu a formação no dia 30 de abril deste ano. No dia seguinte, se apresentou para atuar na linha de frente da pandemia, no hospital de campanha de Santarém, cidade que nasceu, cresceu e se formou. "Concluir o curso num cenário de pandemia foi inesperado. A festa, a cerimônia, foi algo sonhado por anos por toda minha família, mas foi deixada de lado. Vivemos um cenário em que a cidade precisa de médicos. Trocamos qualquer festa ou cerimônia pelo trabalho. Não foi a formatura que queria, mas era o que minha cidade precisava. É um desafio diário e uma honra. Já tive que entubar parentes e vi rostos conhecidos que viraram estatística. É um momento duro, mas que não falta coragem e entrega dos profissionais de saúde", relata Eduardo. “Acredito que boa parte do resultado positivo, das mortes que evitamos, é muito pela prática e conhecimento que adquirimos aqui, valorizando cada vida. A linha de frente não desiste de um único paciente, em momento algum e é uma mistura de sentimentos, já que ficamos tristes com alguma perda, mas felizes com casos de recuperação e alta médica", enfatiza o jovem médico.

De soldado da borracha a sobrevivente da Covid-19

Um desses momentos de alegria durante o esforço dos atendimentos da pandemia ocorreu há alguns dias, quando Eduardo, de apenas 25 anos, conduziu para fora do hospital – pela porta da frente - o senhor Augusto Menezes de 105 anos, que venceu a Covid-19 após dez dias de tratamento.

image Médico Eduardo Maia conduz a cadeira de rodas que leva o soldado da borracha Augusto Menezes, de 105 anos (Andria Almeida / Ascom HCS)

“Nos primeiros dias ele ficou muito angustiado, mas fizemos um trabalho integrado com equipes de enfermagem, psicossocial, médicos e então ele conseguiu colaborar e teve um quadro de melhora muito rápido”, relata Eduardo.

O aposentado atuou em diversas profissões ao longo da vida. Uma das mais marcantes foi o período em que trabalhou com a extração do látex, retirado da seringueira, na década de 1940. Esses profissionais eram conhecidos como “soldados da borracha”, pois ajudavam a fornecer a matéria-prima utilizada no período da II Guerra Mundial para veículos dos aliados, em especial dos Estados Unidos.

Augusto já perdeu a conta de quantas vezes contraiu malária durante esse tempo, doença característica da região e que vitimou milhares de outros “soldados da borracha”, uma história pouco conhecida globalmente. Agora, Augusto coloca com orgulho no “currículo de doenças superadas” mais uma vitória: é um dos sobreviventes da Covid-19. “Todos estamos muito felizes com a volta dele para casa. Ele, que também trabalhou como pedreiro, sempre foi muito ativo. Gosta de ser produtivo. Todos estamos muito agradecidos pelo tratamento que recebeu no hospital, pois essa foi a primeira vez que ficou internado. No início, ele relutou bastante em ficar no hospital, mas a equipe o acalmou e agora ele está ainda mais feliz por ter vencido a Covid e de volta para casa”, conta Patrícia Sales Lira, neta de Augusto.

O ex-seringueiro, natural do Estado do Ceará, foi ainda jovem para a Amazônia, onde constituiu família: atualmente, são onze filhos, 38 netos e 50 bisnetos. “Ele está muito bem e estamos esperando a segunda dose da vacina. Quando ele contraiu, tinha tomado apenas a primeira, então não estava totalmente imunizado. A gente faz de tudo para segurar ele em casa, não se expor, mas ele é muito ativo. De qualquer forma, está feliz da vida e a gente percebe que é como se ele tivesse nascido de novo, mesmo aos 105 anos”, comenta a neta.

image Apesar dos desafios, atendimento chega a ribeirinhos (Tarso Sarraf / O Liberal)
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