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Lutador amapaense se torna o primeiro lutador de MMA em atividade a se assumir gay

Apelidado de “Princesinha Dourada”, Washington Duarte Sousa busca ascensão na modalidade e espera que outros atletas homens se sintam encorajados a se assumirem

Aila Beatriz Inete

Nunca um atleta do MMA em atividade havia se declarado gay. Mas em Laranjal do Jari, sul do Amapá, Washington Duarte Sousa rompeu este tabu e assumiu ser homessexual. Conhecido como “Princesinha Dourada'', o lutador de 29 anos tem sete lutas como profissional, sendo cinco vitórias e duas derrotas. 

A história de Washington foi contada no Fantástico, da Rede Globo. Na reportagem, o lutador relatou como é ser um lutador gay, em um esporte que, infelizmente, ainda é tão machista. Segundo ele, na academia, onde treina com o ex-UFC Tiago Trator, sempre foi muito bem tratado pelos colegas, mas fora, vez ou outra, sofre preconceito por parte do público e de outros competidores. 

“Primeira parte de preconceito que tive dentro do MMA foi um rapaz de uma cidade vizinha. Ele falou pro meu professor de jiu-jítsu que, se ele perdesse pra mim, ele iria embora da cidade. Eu ganhei a luta no primeiro round, nocauteei o menino e ele saiu da cidade”, contou Washington à reportagem. 

O amapaense é uma aposta na modalidade. Segundo o treinador Tiago Trator, o lutador está pronto para lutar contra “o top 1 do Brasil” dos 61 kg. 

Atleta com treinadores na academia (Raphael Marinho)

Washington também aproveitou a reportagem para contar para mãe sobre sua orientação sexual. E apesar do nervosismo do filho, dona Maria de Fátima sorriu e disse que sabia desde a infância dele. O momento de compreensão, carinho e amor foi selado com um abraço entre os dois. 

Conhecido como um esporte de força e virilidade, o MMA é historicamente ocupado por homens. Apenas na história recente, mulheres conquistaram espaço dentro da modalidade, mas mesmo assim, ainda há muitas barreiras. E quando o assunto é a orientação sexual dos lutadores, a situação afunila ainda mais. 

Jéssica “Bate-Estaca”, ex-campeã do UFC e assumidamente homossexual, falou sobre o assunto e acredita que o machismo e a homofobia são fatores que podem impedir outros atletas homens a se assumirem gays. 

“Mulheres a gente costuma ver bastante, agora é muito difícil ter homens assumidos. Acredito que o mesmo preconceito que há de ter mulheres lutando MMA na visão das pessoas de ‘ah, não é uma profissão para mulheres’, também seria uma coisa muito machista de um homem assumir que é gay e ser lutador de MMA. A visão que é passada de lutador de MMA é do cara fortão, super hétero, que bate, que briga”, disse Jéssica à reportagem.

Até o momento, Washington só lutou em eventos no Amapá. Enfrentando os preconceitos, quebrando barreiras e levantando a bandeira contra a homofobia, o amapaense sonha em um dia ter oportunidade de mostrar o seu talento em uma grande organização de MMA. 

“Meu sonho é lutar em grandes eventos de MMA e ter uma oportunidade que até hoje não tive. Acredito em mim mesmo e tenho potencial para isso. O único [gay] assumido [no MMA] está sendo eu. Sei que tem mais pessoas, só que elas têm medo do preconceito, do que as pessoas vão falar. Elas têm medo da reação da academia. [Peço para eles] aparecerem e dizerem seus nomes, baterem no peito. Estou aqui, também vim fazer parte, somar e quero que eles tenham essa coragem. Mostrar para as pessoas que a gente pode ir além daquilo que tentam nos  limitar”, finalizou Washington. 

(Aila Beatriz Inete, estagiária, sob supervisão de Pedro Cruz, coordenador do Núcleo de Esportes)

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