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Da sala de aula à beira do gramado: entenda como a CBF forma técnicos no Brasil

Ignácio Neto, auxiliar técnico do Paysandu, detalha a experiência e o impacto do curso para a formação de novos treinadores

Pedro Garcia

O trabalho de um técnico no futebol é primordial, principalmente quando é bem feito, a ponto de explorar o potencial máximo de cada peça do elenco. Além disso, é uma das profissões mais lembradas pelos torcedores. A título de curiosidade, quantos jogadores passaram pelo Porto FC que conquistou o título da Liga dos Campeões da UEFA em 2003? É praticamente impossível lembrar o nome de todos, mas o de José Mourinho, treinador da equipe portuguesa na época, é lembrado até hoje.

No Brasil, existem outros nomes icônicos que alcançaram grandes feitos durante suas carreiras, como Marcelo Oliveira, bicampeão brasileiro pelo Cruzeiro em 2013 e 2014; Oswaldo de Oliveira, campeão mundial pelo Corinthians em 2000; e Givanildo Oliveira, vencedor da Copa dos Campeões de 2002 pelo Paysandu. Ao ver a trajetória desses nomes tão importantes, surge a pergunta: qual o caminho para se tornar um treinador de futebol em solo brasileiro? É isso que o Núcleo de Esportes de O Liberal vai te contar.

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Em contato com a CBF Academy, instituição de ensino da Confederação Brasileira de Futebol que visa profissionalizar e modernizar o futebol brasileiro, a entidade explicou como funciona o passo a passo para se tornar um técnico no país. A trilha de formação começa na Licença C, que permite atuar em escolinhas de futebol. Na sequência, a Licença B prepara o profissional para trabalhar em categorias de base, enquanto a Licença A habilita para o nível profissional no Brasil. Por fim, a Licença PRO também é voltada para o nível profissional, mas permite atuar em competições no exterior, como a Copa Libertadores, a Copa Sul-Americana e em outros países da Europa. Para iniciar a jornada, o requisito básico da Licença C é possuir ensino médio completo.

Avançar na carreira exige o cumprimento de pré-requisitos específicos. Para a Licença B, é necessário ter concluído a Licença C ou comprovar experiência de, no mínimo, sete temporadas (84 meses) como atleta profissional de futebol, ou ter pelo menos cinco temporadas (60 meses) de experiência como treinador principal de equipes de categoria de base, sendo exigido o ensino médio completo em todos os casos. As Licenças A e PRO, por sua vez, exigem o avanço sequencial: é preciso possuir a Licença B para se inscrever na Licença A e possuir a Licença A para cursar a Licença PRO.

Com as opções de licenciamento disponíveis, a Licença Pro é ofertada por R$ 24.090,00, com a possibilidade de pagamento à vista, parcelamento em até 12x no cartão de crédito ou em seis parcelas fixas no boleto de R$ 4.015,00 cada. As demais opções incluem a Licença A por R$ 13.200,00*, a Licença B por R$ 9.030,00 e a Licença C por R$ 5.880,00. Para estas, o pagamento à vista concede 5% de desconto, sendo possível pagar via boleto (à vista) ou em até 12x sem juros no cartão.

Experiência na prática

Para entender melhor como é a experiência de se tornar um treinador, o Núcleo de Esportes de O Liberal entrevistou Ignácio Neto, atual auxiliar técnico permanente do Paysandu, que já comandou a Tuna Luso nas temporadas de 2024 e 2025. O professor detalhou o processo de aprendizado, desde a teoria até a parte prática do curso.

“Foi uma experiência única. As aulas aconteciam às segundas, quartas e sextas-feiras, no horário das 18h30 às 22h30. O conteúdo teórico e prático, dividido em 260 horas, correspondeu às minhas expectativas. Durante os 10 dias de aula prática em Florianópolis, tivemos diversas dinâmicas de grupo em que tínhamos que desenvolver as atividades e defendê-las para que os colegas pudessem avaliar e pontuar”, disse o treinador.

O auxiliar técnico do Papão comentou sobre a conciliação entre a rotina de trabalho e os estudos, afirmando que a experiência em campo acabou contribuindo para o aprendizado.

“Não tive dificuldade alguma no decorrer do curso. No momento em que tirei a minha primeira licença, eu estava disputando a Copa do Brasil Sub-20. Meus colegas de turma puderam acompanhar e, em alguns momentos do curso, debatemos sobre os jogos e sobre o contexto do clube em que eu estava inserido na época, que era a Tuna Luso. O mais interessante, no entanto, foram as amizades construídas com grandes nomes que atuam no futebol brasileiro. Poder conviver e trocar experiências em alto nível com esses profissionais me proporcionou momentos incríveis e únicos”, detalhou Ignácio.

A vivência no curso não se limitou à sala de aula. Ignácio Neto também destacou que o aprendizado foi além do conteúdo programático, valorizando especialmente a troca com outros profissionais e as oportunidades geradas. Segundo ele, a certificação da CBF Academy funciona como um catalisador de carreira, abrindo portas em âmbito nacional.

"A troca de experiências com base científica me encantou e ampliou minha visão metodológica dentro da minha filosofia de trabalho. O networking também foi muito enriquecedor — pude me destacar no curso, ser convidado a ministrar o módulo de Treinamento Técnico na Adolescência na Licença B e passar a integrar o quadro de docentes da CBF ao lado de grandes nomes do futebol. Além disso, as amizades e conexões feitas com profissionais de várias áreas certamente abrirão novas portas e oportunidades na carreira", afirmou o técnico.

Para concluir, Ignácio Neto ressaltou a importância crescente das licenças da CBF Academy no mercado de trabalho e o futuro da profissionalização no futebol brasileiro. O treinador enfatizou que, embora o certificado ainda não seja universalmente exigido, ele já é um fator determinante para a credibilidade e a competitividade do profissional.

“As licenças da CBF Academy são mais do que um diferencial — representam um selo de credibilidade no futebol brasileiro. Hoje, em clubes das Séries A e B, já são obrigatórias e aumentam o poder de barganha do profissional, enquanto nas Séries C e D funcionam como um diferencial competitivo importante. Acredito que, em breve, essas licenças se tornarão um requisito formal em todos os níveis, porque o futebol nacional precisa cada vez mais desse olhar técnico e científico para continuar evoluindo. Por isso, sigo me capacitando para alcançar patamares maiores dentro desse mercado tão competitivo”, concluiu.