Envelhecimento da população do país gera efeitos no mercado de trabalho e na demanda por serviços

De acordo com uma pesquisa da empresa Ernst & Young e a agência Maturi de 2022, realizada em quase 200 empresas no Brasil, aponta que a maioria das companhias tem de 6% a 10% de pessoas com mais de 50 anos em seu quadro funcional

Luciana Carvalho
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O Brasil está passando por um processo de envelhecimento de sua população, ao mesmo tempo em que a taxa de natalidade vem diminuindo, conforme apontado pelo Censo. Dados de Características Gerais dos Domicílios e dos Moradores 2022 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), também apontam que a parcela idosa da população brasileira, com 60 anos ou mais, subiu para 15,1% em 2022. Dez anos antes, em 2012, o percentual era de 11,3%. Ainda de acordo com o levantamento, 10,2% da população tem 60 anos ou mais. Essas mudanças demográficas terão impactos significativos no mercado de trabalho e na demanda por serviços.

De acordo com o diretor da Associação Brasileira de Recursos Humanos no Pará (ABRH- PA), Saulo Pedroso, de 34 anos, apesar de ainda existirem uma resistência em relação a contratação de pessoas da melhor idade, esse cenário já vem apresentando melhoras. “Ainda há muita barreira em relação a absolver esses profissionais, eu não digo nem a partir dos 50, mas passou dos 40, 45 anos, muitas empresas já olham diferente. Elas acreditam que essas pessoas já não têm tanto pique, energia e motivação, principalmente, empresas que prezam por contratar colaboradores para trilhar uma longa carreira. Mas isso vem melhorando. Hoje, a gente já vive no Brasil uma expectativa de vida em torno de 74 anos. A idade da aposentadoria aumentou. Quando a gente avalia, uma pessoa de 50 anos hoje em relação a uma pessoa de 50 anos há quinze, vinte anos atrás, a gente vê realmente uma melhora muito grande”, avalia.

De acordo com Saulo Pedroso, há uma outra tendência que o mercado está começando a reconhecer. As novas gerações e os profissionais mais jovens estão buscando muito mais propósito em seu trabalho, desejando atuar em áreas que realmente apreciam. Assim, quando ingressam em uma empresa e não se identificam, têm facilidade em pedir demissão. As empresas também estão percebendo que pessoas mais velhas, a partir dos 50 anos, já passaram por essa fase de buscar novas experiências e agora valorizam a estabilidade.

“Hoje existe uma questão comportamental, onde, contratamos com base no currículo, mas demitimos com base no comportamento. Muitos jovens estão precisando desenvolver inteligência emocional e outras habilidades para lidar com as demandas do ambiente de trabalho. Como resultado, a rotatividade dos profissionais mais jovens hoje é grande. Então, há uma tendência de que os profissionais mais velhos permaneçam mais tempo nas empresas. Hoje, as empresas começaram a considerar esses aspectos ao contratar pessoas com mais de 50 anos, buscando características como estabilidade, persuasão, paciência, resiliência e habilidades de trabalho em equipe, que ainda são carentes entre os profissionais mais jovens” pontua.

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No Brasil, dados do IBGE mostram que apenas 1% dos aposentados é independente financeiramente. Ou seja, tem renda passiva suficiente para pagar todas as despesas. Além disso, a grande maioria da população aposentada (64%) recebe apenas um salário mínimo

Dessa forma, é natural que muitos trabalhadores com 60 anos ou mais estejam no mercado porque precisam complementar a renda da aposentadoria. É o caso de Elizabeth Abensur Monte, de 61 anos, aposentada desde outubro de 2022, mas continua trabalhando no setor de departamento de pessoal em um escritório de Contabilidade. “Ainda preciso complementar a aposentadoria com o salário. Gosto muito do que faço, gosto de trabalhar e, sinceramente, ainda não me vejo totalmente aposentada tendo de ficar sem fazer o que gosto” afirma.

Além disso, Elizabeth enfatiza que, no caso de pessoas já aposentadas e ativas no mercado de trabalho como ela, há menos pressão e cobrança. “Não que as cobranças não existam em qualquer idade, mas ficamos menos temerosos de perder o emprego ou trabalho. Mesmo estando aposentado, acredito que as empresas deveriam continuar oferecendo oportunidades de trabalho para esse público, pois é muita experiência que adquirimos e acumulamos em anos de carreira” pontua.

Mercado Sênior

Uma pesquisa da empresa Ernst & Young e a agência Maturi de 2022, realizada em quase 200 empresas no Brasil, mostrou o perfil do mercado de trabalho para pessoas com mais de 50 anos. A maioria das companhias pesquisadas tem de 6% a 10% de pessoas com mais de 50 anos em seu quadro funcional.

Segundo Saulo Pedroso, a tendência é que esse percentual aumente ainda mais. “Imagina, se hoje a expectativa de vida no Brasil é de 74 anos, daqui há 20 anos, isso já deve estar chegando a 80 anos. Então, essas pessoas com 40, 50 anos ainda vão estar ali na metade da sua vida produtiva. E dentro desse novo cenário, o mercado tem absorvido pessoas a partir de 50 e nas mais diversas áreas, desde vagas operacionais até vagas mais seniores. Hoje a gente vê os jovens comandando a grande força de trabalho que são muito produtivas e inovadoras, mas falta a direção. E os 50+ atuando em cargos muito operacionais ou de gestão, ou seja, vagas que exigem essa maturidade”, avalia.

Qualificação Sênior

Os profissionais mais velhos enfrentam algumas dificuldades no mercado de trabalho. Na visão das empresas, o maior problema é a falta de flexibilidade e adaptação às mudanças. Lidar com novas tecnologias, manter-se atualizado com as exigências do mercado também são pontos difíceis para quem tem mais de 50 anos e ainda trabalha.

De acordo com o diretor da ABRH-PA, é crucial que pessoas nessa faixa etária compreendam a importância de se manterem constantemente atualizadas e qualificadas do ponto de vista tecnológico. É fundamental que elas acompanhem as tendências do mercado, compreendam o que está acontecendo e busquem familiarizar-se com as novas tecnologias ou, pelo menos, adquirindo uma noção de como elas funcionam e como podem ser aplicadas.

“Uma pessoa de 50 anos ou mais, não precisa se tornar um programador para estar no mercado, mas ela precisa entender pelo menos o que é um Power BI, sobre como fazer a gestão de uma rede social (pelo menos o básico), de chat GPT, por exemplo, que é a nova tecnologia de inteligência artificial. Então, esses profissionais precisam estar sempre se qualificando, entendendo para onde o mercado vai, o que está acontecendo. Buscando essas novas tecnologias e novas competências, pelo menos tendo noção do que é, agregando com a sua experiência e com a sua maturidade, aquilo que falta nos jovens” pontua.

Envelhecimento abre novas oportunidades

Com o envelhecimento da população, Saulo identifica uma tendência crescente de serviços voltados para pessoas com mais de 50 anos, especialmente aqueles que oferecem apoio e cuidados nessa faixa etária. Ele destaca serviços como academias com programas específicos para idosos, agências de viagens especializadas em roteiros adaptados, serviços de caminhadas e grupos de apoio, bem como cuidadores profissionais.

“O serviço de informática direcionado para qualificar e atualizar esse público será cada vez mais procurado. Nos Estados Unidos, por exemplo, existem empresas especializadas em cuidar de idosos, indo além das casas de repouso, enviando colaboradores para suas casas alguns dias da semana para fazer companhia e auxiliar nas tarefas domésticas. No Brasil, embora ainda esteja em estágio inicial, essa tendência também se fortalecerá nos próximos anos, representando um nicho de mercado em crescimento. Dentro desse contexto de cuidadores, encontraremos desde profissionais diaristas responsáveis pela limpeza até enfermeiros qualificados para assistir e acompanhar a saúde dos idosos ao longo do dia. Portanto, essas são áreas que serão cada vez mais requisitadas” avalia o diretor.

“Além disso, outros serviços como conservação e jardinagem, bem como atrações de lazer em geral, também terão uma alta demanda. Outro aspecto interessante é a oferta de serviços educacionais voltados para o desempenho cognitivo, exercícios cerebrais e prevenção do declínio mental. Com o aumento do estudo e conhecimento sobre doenças como o Alzheimer, que afeta cada vez mais pessoas devido ao estilo de vida estressante e outros fatores, escolas especializadas nesse campo surgirão. Essas instituições buscarão melhorar a memória, concentração e prolongar a vida ativa dos idosos. Consequentemente, a demanda por esses serviços também aumentará progressivamente” conclui.

(Luciana Carvalho, estagiária da Redação sob supervisão de Keila Ferreira, Coordenadora do Núcleo de Política).

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