Geração Z e o primeiro emprego: como lidar com a ansiedade no início da carreira?
Pressão por resultados, redes sociais e autocobrança tornam o início da vida profissional mais desafiador para jovens da geração hiperconectada
Os primeiros passos na vida profissional sempre representaram um conjunto de desafios. Demandas do mercado, oscilações econômicas e sociais — que indicam momentos de maior ou menor aquecimento nas contratações — e fatores pessoais que influenciam as decisões de cada jovem compõem esse cenário. Para a Geração Z, esses elementos se somam a outro fator: a tecnologia e a hiperconectividade. Em um mundo movido por redes sociais, onde a comparação é constante e os "likes" funcionam como termômetro de validação, como essa geração lida com o primeiro emprego?
A estudante universitária Jéssica Guimarães, do curso de Engenharia Elétrica e estagiária em um projeto de energia solar, conta que sua primeira experiência no mercado de trabalho tem sido marcada por descobertas. “A ansiedade que eu senti foi mais pela sensação do novo, pois eu não fazia ideia de como seria a experiência. No entanto, eu estava no lugar que eu sempre quis estar.”
Esse novo universo profissional traz sensações inéditas e obriga os jovens a lidar com uma característica marcante da vida adulta: a cobrança. “Fico ansiosa quando sou cobrada de algo, pois tenho receio de fazer algo errado”, revela Jéssica.
Pressão por resultados
O início da carreira costuma ser um período de aprendizado e adaptação. É o momento em que muitos jovens deixam o ambiente escolar e passam a enfrentar uma nova realidade, na qual são cobrados por resultados — algo comum em qualquer ambiente profissional.
Jéssica acredita que essa pressão vem não apenas de si mesma, mas também das expectativas externas. “Essa pressão ocorre porque, além da autocobrança, há também a expectativa da sociedade. E quando esse resultado não vem, nós temos que lidar com as nossas frustrações e com as expectativas frustradas que terceiros colocaram sobre nós".
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Os Desafios da Geração Z no mercado
A gerente de Recursos Humanos Ana Padinha reforça que começar no mercado de trabalho sempre foi desafiador. No entanto, para os jovens da Geração Z — que cresceram em um ambiente acelerado, digital e cheio de expectativas — esse início tem sido ainda mais complexo. “Não é só ‘nervosismo de estreia’. A ansiedade tem aparecido de forma intensa, e como RH, vejo isso de perto todos os dias".
Segundo ela, os jovens chegam carregando pressões diversas — da sociedade, da família e deles próprios. “Querem fazer tudo certo, rápido e, de preferência, com reconhecimento imediato. Ao mesmo tempo, lidam com um mercado que cobra experiência de quem ainda nem teve chance de acumulá-la. Isso gera um conflito enorme: a vontade de dar conta de tudo versus o medo de falhar".
Ana também alerta que sentir certo nervosismo é normal. O problema é quando a ansiedade se torna constante e começa a afetar a saúde mental. “Quando atrapalha o sono, causa crises ou faz a pessoa duvidar o tempo todo de si mesma, é hora de procurar ajuda. As empresas também precisam estar preparadas para acolher esses jovens e identificar sinais de esgotamento emocional.”
O impacto das redes sociais
Ana aponta ainda que, embora as redes sociais possam facilitar a comunicação, elas também alimentam comparações prejudiciais. “Ver colegas aparentemente ‘bem-sucedidos’ com 20 e poucos anos pode gerar um sentimento de insuficiência constante. Fora que a mente permanece ativa o tempo todo, mesmo fora do expediente".
Jéssica sente esses efeitos, mas observa que tudo depende do estado emocional em que se encontra. “Existem dias que eu estou muito preocupada com o futuro, muito preocupada em dar retorno imediato, e são nesses momentos que a comparação vem. No entanto, existem dias que na minha mente toca aquela música do Billy Joel, ‘Vienna’. Então eu me dou conta que tenho somente 19 anos, e que cada pessoa tem o seu tempo".
Como lidar com a ansiedade e a pressão
Para Ana, começar com medidas simples pode fazer toda a diferença. “Tenha horário para trabalhar, mas também para parar. Dormir bem, comer direito, fazer alguma atividade física — tudo isso ajuda mais do que parece. E desconectar das redes de vez em quando. Ah, e lembre-se: errar faz parte. Você está aprendendo. Leve um dia de cada vez".
Jéssica também encontrou formas de lidar com a ansiedade. “Alguns hábitos que me ajudam muito são: orar sempre, escrever, cantar, ouvir música ou conversar com alguém sobre a vida. A ansiedade é normal, o que difere é a forma que nós lidamos com ela".
O que as empresas podem fazer
Segundo Ana Padinha, as empresas não podem ser apenas locais de cobrança por resultados. “Precisam ser espaços que entendem, orientam e oferecem suporte. Criar uma cultura de acolhimento, com líderes que escutam de verdade e com programas de saúde emocional, faz toda a diferença. Um jovem bem cuidado vira um profissional engajado, produtivo e com vontade de crescer. No fim das contas, não é só sobre trabalho. É sobre gente. E gente precisa ser cuidada — desde o primeiro dia".
*Thaline Silva, estagiária de jornalismo, sob supervisão de Keila Ferreira, coordenadora do núcleo de Política e Economia
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