Empreendimentos familiares sobrevivem por várias gerações em Belém

Imigrantes que chegaram à capital paraense no século passado fundaram negócios que já estão na terceira geração de administradores

Gabriel da Mota

De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), cerca de 80% a 90% desses empreendimentos no país têm perfil familiar. Até 2017, o percentual de empresas paraenses que tinham parentes como sócios e/ou empregados era de 37%. A longevidade de um negócio em família depende da convivência harmônica entre as diferentes gerações, afirmam sócios-proprietários belenenses que herdaram a função de seus antecessores. Além disso, a orientação jurídica é que não se confunda hierarquia familiar com empresarial. 

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Manuel Santos (55 anos) e a esposa, Cristiane Santos (47 anos), administram uma perfumaria localizada na travessa Frutuoso Guimarães, bairro da Campina, em Belém. O empreendimento foi fundado em 1931 pelo tio-avô de Manuel, Antônio Gomes, que veio de Portugal para empreender na capital paraense. O atual sócio-proprietário assumiu a perfumaria em 1987, que também foi gerida pelo pai e por um tio de Manuel, entre as décadas de 1950 e 1990.

image Desde 1987, Manuel Santos (55 anos) dá prosseguimento ao negócio fundado pelo tio-avô, em 1931 (Foto: Marx Vasconcelos | Especial para O Liberal)

“Quando eu cheguei aqui, não foi como ‘filho do patrão’. Comecei de baixo, onde a gente vai aprendendo tudo, aos poucos. Eles [pai, tio e tio-avô] ficavam comigo no início”, conta o empresário, que já foi embalador, preparador de perfumes e responsável pela compra de matérias-primas, antes de ser gerente. Manuel acredita que o respeito à hierarquia e o interesse por aprender com os antecessores foram facilitadores do processo de sucessão: “Quando a família convive em harmonia, não existem desafios”, avalia.

Atualmente, a perfumaria possui oito funcionários, incluindo pessoas que não possuem vínculo familiar com o proprietário. Os dois filhos de Manuel, com 17 e 19 anos de idade, ajudam em algumas atividades empresariais quando estão de férias, de maneira semelhante à do pai: junto aos empregados mais experientes. “Até o momento, o plano é que meus filhos levem o negócio até onde puderem, passando por todos os obstáculos que toda empresa tem”, projeta o empresário, pensando na possibilidade de uma quarta geração da família Santos assumir a perfumaria. 

Barraca que se tornou um restaurante

De origem rural, no município paraense de Tomé-Açu, a família de Cláudia Wada montou uma barraca nas Centrais de Abastecimento do Pará (Ceasa) em 1994. Ela, o irmão Gerson Wada e a mãe, Kumiko Wada, vendiam café, tapiocas, lamen e refeições bentô, que é uma espécie de marmita japonesa. Em 1999, a família transformou a barraca em um restaurante, localizado na esquina da avenida Rômulo Maiorana com a travessa Timbó, bairro do Marco, em Belém.

“É muito desafiador trabalhar em família. Minha sócia é a minha mãe; tenho que ter respeito e administrar barreiras, como a tradição cultural japonesa, a hierarquia, a voz de comando compartilhada. O ambiente se confunde entre empresarial e familiar, e também misturamos linguagem portuguesa com japonesa”, conta Cláudia. 

De acordo com a empresária, os desafios vão além da dinâmica familiar. “Os que mais se destacam vão da falta de insumos da culinária japonesa até as cargas tributárias; burocracias que, ao invés de incentivarem o empreendedor, só fazem desmotivar”, analisa. Para manter o negócio de pé em um mercado cada vez mais competitivo, Cláudia diz que a terceira geração da família (filhos de seu irmão) está em vias de assumir o negócio, cuja equipe é composta por 18 pessoas.

Como administrar um negócio familiar?

A advogada Marina Rodrigues, especialista em direito de família, elenca os principais desafios encontrados em empresas familiares. “A hierarquia familiar acaba se confundindo com as relações empresariais. Na maioria dos casos, existe uma gestão paternalista, onde um membro, normalmente mais velho ou que fundou a empresa, concentra todas as decisões para si, de modo que os seus sucessores possuem dificuldade de manejo para mudanças e até descentralizar esse tipo de responsabilidade”, explica.

Segundo a advogada, a elaboração de um plano sucessório, bem como o esforço para uma comunicação clara e profissional das decisões, pode ser decisiva para a manutenção do negócio. Outra solução pode ser a criação de uma holding familiar: um tipo de sociedade empresarial responsável por administrar bens familiares, para que fique bem definido o que pertence à família, e o que pertence à empresa. 

“O advogado é de extrema importância nessas relações familiares e empresariais, pois é ele que irá analisar o que se caracteriza como empresa e onde está a relação e os direitos familiares. Com essa visualização clara, a família poderá trabalhar de forma mais clara e pacificadora, que é o maior objetivo dessas relações”, finaliza a especialista em direito de família.

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