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Cacau produzido no Pará impulsiona mercado brasileiro

Safra paraense representou mais da metade de toda a produção nacional em 2021 e ajudou a colocar o Brasil na sétima posição entre os maiores exportadores de cacau do mundo

Eduardo Laviano
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Com produção superior a 144 mil toneladas no ano passado, o cacau do Pará ganha destaque no cenário nacional e coloca o Estado entre as referências do País quando o assunto é a matéria-prima do chocolate. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a colheita paraense em 2021 representou mais da metade de toda a produção nacional e ajudou a colocar o Brasil na sétima posição entre os maiores exportadores de cacau do mundo. Com produtividade de 900 quilos por hectare em território paraense, as exportações também cresceram nos últimos anos, contribuindo para a diversificação da pauta de negociações com o mercado internacional. 

Conforme explica a coordenadora do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Federação das Indústrias do Pará (Fiepa), Cassandra Lobato, a amêndoa de cacau contribui de maneira muito significativa para a balança comercial do estado, que foi sempre muito fundamentada no minério. Mesmo com a queda de 23,57% nas exportações registradas em 2021 na comparação com 2020, ela avalia que o momento é positivo e que o mercado está otimista para 2022. 

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"Temos em abundância e com possibilidade de crescimento não só da amêndoa, mas também do cacau partido pronto ou torrado, que o principal comprador é o Japão. Só no ano passado, este item teve um faturamento de U$ 1,34 milhão. Ainda precisa de muita estruturação e mentoria para o processo de internacionalização ser mais robusto, claro, mas já é uma força a ser reconhecida. Muitas vezes temos feito a exportação de maneira indireta, que é uma das formas. Isso demonstra uma mentalidade exportadora madura dos nossos produtores. Precisamos cada vez mais ganhar novos mercados e fidelizar compradores, pois o cacau da Amazônia virou o representante maior do nosso país", diz ela, ao lembrar que o avanço da vacinação tende a retomar o circuito internacional de feiras e exposições onde o cacau paraense pode ser divulgado. 

A primeira vez que a produção do cacau paraense ultrapassou a da Bahia foi em 2017, posto que foi retomado pelo Estado nordestino em 2018, por uma diferença tímida de 4 mil toneladas a mais. Em 2019, o Pará voltou à liderança, alargando a margem para o segundo colocado, com 25 mil toneladas a mais que os baianos. Já no ano seguinte (2020), a diferença em favor do Pará cresceu ainda mais, chegando a 36 mil . Com a queda das exportações paraenses em 2021, a Bahia voltou ao topo da lista de amêndoas processadas segundo a Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), mas o Pará segue liderando quando considerado também o cacau partido pronto ou torrado. 

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O cacau paraense mudou a vida de Hélia Felix a partir de 1997. Foi nesse ano que ela casou com um agricultor que possuía propriedades no Pará e desde então se apaixonou pela cultura do fruto. "Sabe aquela história de ver o nosso trabalho dar frutos? Com o cacau é literalmente isso. A gente vê a plantinha crescer, frutificar, ser colhida", diz ela, que há 12 anos se dedica a Cacauway, uma cooperativa com 38 associados que produzem cacau de alto padrão, levado para todo o Brasil. Segundo ela, o Pará se destacou no mundo dos chocolates por desenvolver cacaus finos, que não chegam a 1% da produção mundial e são focados em amêndoas fermentadas, de aroma marcante, com maturação e colheita calculadas, dias certos para quebra e fermentação, que pode durar até oito dias, e secagem especial. Para ela, o cacau fino é uma revolução não só para a indústria do chocolate, mas também para a economia do Pará. 

image Pará se destacou no mundo dos chocolates por desenvolver cacaus finos (Filipe Bispo/O Liberal)

"Hoje, as pessoas tem uma concepção de que o Pará ou não produz cacau ou produz cacau muito timidamente. Ainda há aquela concepção de que o cacau é da Bahia, mas ele é amazônico. Ele só retornou para casa. Uma das economias mais fortes do Pará é a do cacau, alavancanada sobretudo por Medicilândia, a capital nacional do cacau, na região da Transamazônica. Não utilizamos nenhum tipo de corante, aromatizante. Tudo vem da própria amêndoa. São iniciativas bem jovens que estão crescendo no Pará e a cooperativa vai incentivando, em sistema de parceria agrícola, aumentando esse elo entre os paraenses que dependem do cacau como principal fonte de renda", afirma ela, ao lembrar que só em Medicilândia, pelo menos duas mil pessoas são impactadas direta ou indiretamente na cultura do cacau. 

Cacau de Medicilândia começou a ser plantado nos anos de 1970

O cacau na Transamazônica, especialmente na região de Medicilândia, começou a ser plantado na década de 1970, mas até meados de 2010 era considerado um produto de baixa qualidade e inclusive aparecia em algumas publicações como não recomendado para fabricação de chocolates finos. "O cacau fino da Transamazônica tem diferenças marcantes, tanto no sabor, quanto a textura. Alguns chocolatiers dizem que é mais macio, aveludado. Esta é uma característica causada por ter um teor maior de manteiga (gordura). Seu aroma e sabor é marcante, com notas de frutas secas, amadeirado, caramelo, florais, cítrico, com uma leve acidez, que é uma característica do nosso cacau", conta Karla Moraes, da Cooperativa Agroindustrial da Transamazônica.

Além do Japão, o cacau paraense tem galgado reconhecimento na Áustria, na Alemanha e em diversos concursos internacionais, com vitórias em prêmios importantes que refletem a qualidade do cacau fino da região. A partir de 2013, com o surgimento do primeiro Festival Internacional do Chocolate em Belém e com a primeira participação no Salão do Chocolate, em Paris, o cacau paraense começa a ser redescoberto pelo Mundo e pelo próprio Brasil. E a cada ano foi se aprimorando, ganhando cada vez mais destaque no cenário Nacional e Internacional, ganhando duas vezes como o melhor cacau do Brasil na categoria “blend”. 

A amêndoa de cacau produzida no município de Novo Repartimento, no assentamento Turuê, por exemplo, se tornou uma das 50 melhores amêndoas do planeta e concorreu ao prêmio Cacau de Excelência, do Salão de Chocolate de Paris, o festival do chocolate mais importante do mundo. Para 2022, Hélia quer que o produto ganhe cada vez mais reconhecimento local para poder chegar forte no topo da preferência mundial. "Precisamos aqui mesmo consumir mais cacau com valor agregado para que ele se firme na lavoura e seja viável para os agricultores. Criamos a cooperativa no intuito de gerar emprego e renda e adquirir mais a matéria-prima dos nossos associados, oportunizando renda para a produção local. Isso precisa ser valorizado", diz Hélia.

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