Busca por autonomia tem levado paraenses a investir em empreendimentos próprios

Ter atenção duranteo processo e planejar o melhor momento para deixar a carteira assinada é a dica dada por especialista

Camila Azevedo
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Cada vez mais os trabalhadores paraenses estão em busca de autonomia dentro do mercado. O empreendedorismo, seja de produtos ou serviços, é um das opções que tem ganhado espaço neste contexto: o levantamento mais recente da Junta Comercial do Estado do Pará (Jucepa) mostra que, somente em 2022, 80.104 novas empresas foram abertas. De acordo com especialistas, saber o momento ideal para efetivar uma transição entre a carteira assinada e o próprio negócio exige atenção e planejamento para não comprometer o orçamento mensal.

A farmacêutica e empresária Carla Lima, de 27 anos, trabalhou em uma varejista de medicamentos entre 2017 e 2021. Ela conta que a decisão de mudar de ramo para abrir uma doceria surgiu a partir de 2020, com a insegurança que a pandemia da covid-19 trouxe, a demissão de alguns funcionários da empresa e o próprio rebaixamento de cargo. Na época, uma alternativa para ter uma fonte de renda extra foi pensada e colocada em prática: a venda de fatias de bolo para os amigos do trabalho. A iniciativa deu tão certo que ficou conhecida em todas as unidades da firma.

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“Então, eu fui demitida da empresa. Durante o tempo em que eu estava trabalhando, já estava investido em um negócio, era só delivery. Eu cheguei a vender dentro do trabalho as fatias de bolo e comecei a ficar conhecida por estar vendendo. Usei uma situação que me deixou triste naquele momento, como força. Assim, minha aposta mais alta foi no meu negócio. O meu primeiro desafio foi ter a decisão de abrir mão da minha profissão. Ainda bem que não foi preciso, porque fui demitida, mas o desafio é, às vezes, você abrir mão daquilo que é seguro para ingressar em algo que não sabe que vai dar certo”, afirma.

Curso de gestão ajudou no processo

A ideia de vender os bolos surgiu a partir de uma viagem com a família para o interior do Pará. A transição de carreira foi possível, também, através de conhecimentos adquiridos em cursos que Carla buscou no Sebrae. O objetivo era o aprimoramento na gestão. “Eu sabia que queria empreender, mas não sabia no que. Em uma viagem para Maracanã, eu vi uma prima minha desenvolver um curso de confeitaria, ensinando mulheres a fazer bolo. Achei o máximo! Vi uma oportunidade ali e a chamei para conversar. Reunimos várias ideias e, assim, fiz um filtro para aplicar dentro do negócio”, diz.

image A empresária Carla Lima, que também é farmacêutica, investiu em um empreendimento e buscou cursos profissionalizantes para gerir o negócio (Marx Vasconcelos / Especial para O Liberal)

Empresária vê diversos benefícios em empreender

Trabalhar com metas é o lema diário seguido por Carla. Atualmente, contando com sete funcionários e um ponto físico no bairro do Castanheira, em Belém, os benefícios que a empresária vê em ter o próprio negócio vão de autonomia e responsabilidade, até humildade. “Ter responsabilidade, onde você se vê como provedora. Não se trata mais apenas de você, mas de todos que trabalham com você, de quem depende daquele negócio. Então, eu digo que hoje não é só mais por mim, é por um todo e isso me motiva muito. Olhar para trás e ver onde eu estou, pelo que já passei, olhar que eu posso chegar onde eu quero é muito bom”, destaca.

Empreender foi necessidade frente à crise

O desejo de autonomia e a insegurança com a crise que veio na pandemia da covid-19 também foram fatores determinantes para que a costureira Elisangela Moraes, de 45 anos, optasse por pedir demissão de um ateliê para investir na rotina própria para a produção de roupas. A indenização ganha no processo foi fundamental. “O salário diminui, já não tinha quase confecções, a gente teve que dar uma parada e ficamos trabalhando para receber pouco. Resolvi entregar o lugar e trabalhar por conta própria. Fiquei trabalhando em casa, porque eu já tinha minhas máquinas, sempre tive”, relembra.

A empreendedora costura desde os 14 anos - aos 24 teve a carteira de trabalho assinada pela primeira vez - e ressalta que o maior desafio é conseguir se estabelecer dentro do mercado. “Eu moro em casa alugada, então, não tem um lugar fixo para trabalhar, dependendo do local que eu alugo, é lá meu trabalho. Além disso, teve o medo de talvez não dar certo, não conseguir entregar no prazo a mercadoria, porque, a partir do momento em que você começa a trabalhar por conta própria, você é o responsável pelo seu salário, por entregar na data certa, dar uma satisfação para o cliente”.

Investimento

Elisangela investiu o dinheiro que ganhou quando pediu demissão na compra de materiais novos e mais modernos, tudo com o objetivo de aperfeiçoar o trabalho e poder oferecer com mais qualidade as tendências que surgem no dia a dia. "A gente vai prestando atenção, olhando nas lojas os modelos, conforme vão mudando os modelos de roupas, a gente vai se aperfeiçoando. Hoje, eu trabalho com tudo, moda praia, social, infantil, malharia, estamparia, tem tudo isso. Dessa forma a gente vai se mantendo e tem dado certo, completa a empreendedora.

Se planejar antes de tomar a decisão final é muito importante, diz especialista

Estar preparado para deixar um emprego e, junto, uma estabilidade, para ir em busca do negócio próprio requer planejamento. Miguel Pantoja, analista do Sebrae, afirma que essa decisão deve ser tomada a partir de alguns indicativos dentro do ambiente de trabalho, como insatisfações e remuneração. “Eu tenho desde pessoas que estão insatisfeitas, que não gostam das pessoas ou empresas. São vários os motivos e as pessoas que já trabalham de carteira assinada, mas tem um hobbie e fazem quando não estão no emprego formal, precisam se planejar”,

Não apenas a saída da empresa precisa ser levada em consideração durante o período de mudança, mas como será o empreendimento também. “Tem que planejar a saída, não é uma saída abrupta, deixar de uma hora pra outra, de repente pode negociar, conseguir uma demissão. Já para o negócio eu preciso ter um planejamento, qual a concorrência, como vou divulgar. É preciso derrubar os mitos, não vai trabalhar a hora que quiser e quando quiser, a palavra chave é controle, saber quanto de dinheiro está entrando, se está tendo lucro ou não”, alerta o analista.

Empreendedores devem ter cuidado

Miguel fala que todo empreendimento tem risco, bom ou mau. Ter cuidado com alguns fatores na hora do planejamento pode ser importante para evitar prejuízos. “Tem que observar se esse empreendimento não é só sazonal, se funciona só em um determinado período. O outro cuidado para tomar essa decisão de trabalhar por conta própria, é saber se tem a estrutura, ou já pronta, ou se tem dinheiro para investir. Por mais que o meu produto tenha saída, quem é o público que está consumindo, são só meus amigos e família? Isso é perigoso, porque se eu fico só nesse círculo, é muito pouco para manter uma empresa, preciso ter uma escala maior, um público maior”, finaliza o especialista.

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