Negócios feitos em casa expandem rendas familiares e ganham espaço no mercado
Em épocas movimentadas, o empreendimento de produção de biscoitos feito por Glauce Martins chega a representar 70% do orçamento da família
Negócios que foram iniciados ou continuam dentro de casa têm se tornado uma tendência, que se intensificou, principalmente, após a pandemia. Além de permitir o aumento da renda familiar, também é a porta de entrada para a profissionalização em novas áreas para expandir o empreendimento. Glauce Machado, que trabalha com a produção de biscoitos em sua casa, no bairro da Pedreira, em Belém, é um desses casos. Formada na área de gerência, o empreendimento como biscoiteira iniciou após o nascimento do segundo filho.
Segundo Alexandre Alves, coordenador da Agência Metropolitana do Sebrae no Pará, o período pandêmico mudou hábitos de consumo e mostrou que é possível empreender com estrutura reduzida, mais flexibilidade e menores investimentos. “Muitos negócios começam dentro de casa por necessidade, mas se consolidaram como modelo viável e até estratégico. Além disso, empreender em casa permite maior equilíbrio entre vida pessoal e profissional, redução de custos com aluguel e transporte, e mais autonomia na rotina”, explicou o gestor.
A ideia do empreendimento no ramo alimentício de Glauce começou em 2021, ainda na pandemia, com a venda de marmitas de alimentos. Na época, o filho mais novo ainda era pequeno e Glauce já avaliava a possibilidade de não retornar ao emprego. “O orçamento ia apertar e nós encaramos. Mas fizemos isso por apenas dois meses. Veio o final de ano, começamos no final de dezembro, paramos para as festas de final de ano, voltamos em janeiro, mas só vendíamos duas vezes na semana. Eu tava com criança pequena e, nessa época, meu esposo trabalhava fora como motorista. Era muito corrido e restrito”, explicou. A ideia dos biscoitos começaria em fevereiro, após cogitar fazer um monteiro lopes.
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Após a aprovação da família, começou a produção dos biscoitos para a cunhada vender no trabalho. Com a boa quantidade de vendas e orçamento apertado, ela decidiu se dedicar à produção. Por um breve período, a empreendedora também chegou a preparar sanduíches, mas abandonou a ideia e passou a produzir o segundo tipo de biscoito: o de casadinho, com cupuaçu e doce de leite.
Com os dois produtos estabelecidos, Glauce decidiu se especializar na área. “Começamos a vender esses dois biscoitos em abril de 2022 e pensei: ‘Para poder oferecer algo melhor, preciso estudar’. Foi quando eu fui fazer cursos. Fiz um curso presencial aqui e comecei a pesquisar e comprei vários cursos online, com pacotes onde você tinha vídeo-aulas. Meus pais foram meus grandes incentivadores, que me ajudaram na compra de cursos, de materiais”, comentou.
Os cursos, segundo Glauce, foram o pontapé inicial para ela aprimorar e abrir os olhos de como entrar no mundo de empreendimentos de biscoitos. “Eu nunca pensei em trabalhar com biscoitos. A minha formação é gerencial. Me formei, trabalhei na área e depois da minha a segunda gravidez que parei. Nunca pensei trabalhar nessa área. Foi por necessidade, por olhar em como eu poderia ajudar a minha família e estar contribuindo no nosso orçamento, para trazer um sustento para dentro de casa. Hoje eu posso dizer que sou apaixonada por isso”, confessou a empreendedora. A principal diferença que os cursos trouxeram foi o olhar mais técnico para o processo de preparo e preparo das embalagens.
Funcionalidade do negócio em casa
Toda a produção dos biscoitos é feita por Glauce, mas recebe apoio dos pais, marido e cunhada. Atualmente, o empreendimento atua com encomendas individuais e em eventos, produzindo brindes para casamentos, aniversários e eventos na igreja. Além disso, o negócio também possui parcerias com clínicas e empresas que pedem biscoitos personalizados, que são um público fixo. Atualmente, a venda dos biscoitos, que possui dez opções no cardápio atual, já chegou a países como Alemanha, Estados Unidos, Suécia, Portugal e Dinamarca.
Datas comemorativas específicas começaram a integrar o calendário do planejamento há dois anos, como Natal e Dia das Mães. Glauce explica que sempre espera que o trabalho, de algum modo, também seja uma forma de aproximar as pessoas. A quantidade de biscoitos produzidos, entretanto, oscila de acordo com a demanda. “Há meses em que a gente tem uma produção baixa, com uma média de 150 biscoitos. Mas ontem, por exemplo, eu tive uma encomenda só de um cliente com 150 biscoitos”, explicou Glauce. No Dia dos Pais, por exemplo, foram mais de 500 unidades feitas.
Apesar de não ser a principal renda da família, em épocas de datas específicas, o valor arrecadado com a produção chega a representar 70% do orçamento da casa. Glauce explica também que ainda não conseguiu ter uma rotina que permita a venda de biscoitos a pronta entrega e, por isso, tem o foco nas encomendas. Desde de setembro, por exemplo, já começam as procuras para as vendas de Natal.
Parte dos clientes procura os serviços por indicação e outros através do Instagram, após terem contato com algum produto em um evento. O valor das encomendas depende do tipo do biscoito, tamanho e se é personalizado ou não. Em um mês em que a demanda não é alta, o faturamento varia de R$ 400 a R$ 500. Em meses com alta demanda ou que possuem datas comemorativas, o valor é de R$ 2 mil a R$ 3 mil.
Formalização e desafios
Segundo Alexandre Alves, negócios feitos em casa já representam, para muitos empreendedores, a principal fonte de renda. Há um crescimento consistente de pessoas que começaram em casa por necessidade ou como complemento de renda, mas acabaram profissionalizando o negócio e tornando a atividade principal. Ums dos principais passos para a formalização de pequenos empreendedores, segundo ele, é se tornar Microempreendedor Individual (MEI). “Permite ao empreendedor ter CNPJ, emitir nota fiscal, acessar crédito com melhores condições e até vender para o governo. O processo é totalmente gratuito e pode ser realizado online, sem a necessidade de intermediários, mas o Sebrae também realiza esse serviço gratuito em todas as suas 13 agência pelo estado”, explicou.
Glauce afirma que, por ter sua casa como seu ambiente de trabalho, são necessários alguns cuidados. A maior parte do equipamento utilizado é o mesmo usado para a preparação das refeições da casa, com exceção de uma batedeira profissional. O forno elétrico também está nos planos de aquisição para melhorar a produtividade do negócio, além de também se tornar MEI. As assadeiras, embalagens e outros materiais usados nas encomendas, entretanto, ficam em caixas separadas.
O principal desafio, segundo ela, é saber equilibrar as demandas da casa com as demandas da vida profissional — que, em seu caso, compartilham o mesmo ambiente. Além das preocupações com as demandas e prazos de entrega, ainda há a preocupação de cuidar da casa, família e filhos.
Apesar de desafiador, Glauce explica que também encontra apoio na fé para lidar com a rotina. “Tem dias que você fica cansada, exausta, mas você olha e em tudo nós devemos dar graças. Hoje, já temos colhido frutos. Até aqui, Deus tem nos abençoado”, finaliza.
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