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Trabalhadores não ganham mais poder de compra com novo mínimo

Segundo especialistas, como o valor foi atualizado apenas pela inflação, o poder aquisitivo não aumenta, em especial por conta da alta dos preços de produtos

Elisa Vaz

O novo salário mínimo nacional, que passou a vigorar no último sábado (1º), no valor de R$ 1.212, não resultará em ganho real para os trabalhadores, segundo especialistas e representantes da classe laboral. O número representa uma alta de mais de 10% em relação à remuneração básica que estava em vigor no ano de 2021, de R$ 1.100, mas, como a atualização seguiu a estimativa da inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), os trabalhadores não ganham mais poder de compra, especialmente por conta das altas nos preços de bens, produtos e serviços, com destaque para a alimentação. No mês de novembro, a cesta básica dos paraenses custou, em média, R$ 550,64, comprometendo cerca de 54% do salário mínimo dos trabalhadores, aponta o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese)

De acordo com o supervisor técnico do órgão, economista Roberto Sena, os trabalhadores paraenses enfrentam, mês a mês, um dos maiores custos de vida do país e a maioria das categorias organizadas não tem nenhuma outra forma de piso salarial. “O crescimento real do salário mínimo é muito importante, uma vez que cerca de 52% dos trabalhadores ocupados (aproximadamente 1,8 milhão pessoas) têm nele a sua remuneração maior. Mas, a cada novo valor do salário mínimo, surgem algumas perguntas: O que a nova renda vai mudar na vida dos paraenses? O que é possível adquirir com os R$ 40,40 a mais no novo salário?”, questiona o especialista.

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Também economista, Nélio Bordalo afirma que o novo mínimo de R$ 1.212, na realidade, repõe apenas a inflação registrada em 2021, sem aumento real. Até o ano de 2019, a correção do salário mínimo era realizada a partir de uma fórmula baseada no Produto Interno Bruto (PIB) do país – a soma das riquezas produzidas - de dois anos anteriores; e a inflação medida pelo INPC. Porém, de 2020 para cá o cálculo mudou e apenas a inflação foi tomada como referencial de reajuste.

“A meu ver, o valor fica abaixo das necessidades do trabalhador e suas famílias diante dos aumentos de preços, principalmente na alimentação. A proposta enviada pelo governo ao Congresso em agosto de 2021 projetava o salário mínimo de R$ 1.169.  No texto aprovado pelo Parlamento no dia 21, no entanto, o valor citado era de R$ 1.210; portanto, observa-se que a mudança ocorreu em função do avanço da inflação nos últimos meses do ano de 2021”, explica.

A remuneração básica ideal, segundo Nélio, para atender às necessidades mínimas de uma família brasileira de quatro pessoas, deveria girar em torno de R$ 5.969,17 até novembro de 2021, como diz a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, realizada mensalmente pelo Dieese. O problema é que aumentar muito o salário mínimo seria negativo para as contas do governo. “Os governos federal, estaduais e municipais não teriam condições de arcar com salário mínimo elevado, porque ele impacta nos benefícios do INSS [Instituto Nacional do Seguro Social] também”, pontua o economista. De acordo com o Ministério da Economia, cada R$ 1 de aumento no  mínimo gera um incremento de R$ 350 milhões ao ano nas despesas do governo federal.

Presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil no Pará (CTB-PA), Cleber Rezende diz que a atualização da remuneração básica está aquém das necessidades da classe trabalhadora brasileira, sendo insuficiente para garantir ganhos aos assalariados “em um momento da conjuntura de degradação das condições de vida do povo”.

“O que temos é um custo médio da cesta básica de alimentos que aumenta constantemente. Observa-se o avanço da carestia, que exige um tempo maior de trabalho para aquisição de alimentos para o sustento do trabalhador, trabalhadora e sua família. E o novo salário mínimo está sem reajuste real, ou seja, sem aumento além da correção inflacionária. A inflação atribuída ao aumento de preços administrados como combustíveis, energia elétrica, água e saneamento – itens que pesam mais no consumo das famílias de menor poder aquisitivo – corrói o poder de compra dos brasileiros e brasileiras”, argumenta.

A situação, segundo Cleber, é agravada por conta do aumento da informalidade, a precarização dos direitos trabalhistas e o avanço do desemprego. A consequência é a redução da renda, a capacidade de consumo reduzida e o aumento da pobreza. A central sindical defende um salário mínimo com ganho real, possibilitando maior capacidade de consumo aos brasileiros e impulsionando as atividades econômicas. “Isso seria possível com a retomada do desenvolvimento nacional, com geração de empregos e distribuição de renda. Que 2022 seja de mudanças favoráveis na cena política nacional, por um Brasil próspero e desenvolvimentista”, torce o presidente.

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Economia
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