Tensão econômica pode prejudicar aporte bilionário do Pará com exportação para o EUA

País americano foi o quinto maior comprador dos produtos paraenses em 2024

Maycon Marte
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Para contrariar a tentativa de substituir o dólar americano por uma moeda própria no comércio exterior, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a ameaçar os membros do Brics, grupo de países emergentes do qual o Brasil faz parte, com a possibilidade de taxar seus produtos em 100%. O país americano é o quinto que mais importa os produtos do Pará, uma relação comercial que gerou no último ano um aporte de aproximadamente R$ 4.805.508.500,00, segundo dados da balança comercial. Caso as tensões entre os países se intensifique, estudiosos do cenário político e econômico avaliam a chance de inflação em produtos essenciais e desvalorização da produção paraense.

Em resposta à afirmação do representante americano, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que “se Trump taxar, vamos taxar de volta”. O doutor em ciências políticas e docente de comunicação social na UNAMA Rodolfo Marques, prevê um cenário de prejuízos para ambos os países. Nessa “guerra comercial”, como vem sendo nomeada, “a imposição mútua de tarifas resultaria em um aumento de preços dos produtos importados, porque se os produtos ficam mais caros em virtude das tarifas, eles vão ficar menos competitivos nos respectivos mercados”.

“Isso pode ter como consequência uma queda no volume do comércio bilateral, no comércio entre dois países, entre um bloco e um país, ou entre dois blocos e obviamente também afeta vários setores econômicos que dependem dessas transações de importações e exportações”, explica o cientista político.

No último ano, os EUA corresponderam a quase 4% da balança comercial do Pará, sendo o nono estado que mais exporta para o destino em todo o país. Entre os principais produtos paraenses de interesse do país, estão: alumina calcinada (US$ 230.742.581); Ferro (US$ 158.950.649); Hidróxido de Alumínio (US$ 113.268.942); Madeira (US$ 53.205.358) e Silício (US$ 42.319.595). Os sucos de frutas também apresentaram um bom desempenho (US$ 29.369.980), categoria responsável pela internacionalização do açaí paraense.

As importações dos produtos americanos para o Pará demonstraram uma redução de quase 7% no último ano. O estado importa principalmente soda cáustica (US$ 205.611.436) e gás natural liquefeito (US$ 82.506.878). No balanço de 2024, essa relação de importações movimentou US$ 640.072.153. Nesse sentido, o cientista político ressalta que “os Estados Unidos representam uma parceira comercial importante e histórica com o Brasil e, claro, com o Pará”.

Barato sai caro

A projeção de futuro, caso essa disputa fique ainda mais acirrada, é de preços elevados e impactos na cadeia produtiva, inclusive com o fechamento de postos de trabalho, avalia o economista Rafael Boulhosa. Ao passo que uma relação comercial vantajosa se encerra, é provável haver inflação sobre produtos como alimentos, matérias-primas e outros essenciais. Nesse sentido, uma ameaça a se considerar é a de perda na competitividade do estado no mercado internacional.

O economista também explica que a taxação tornaria os produtos paraenses exportados mais caros para os americanos e, em um primeiro momento, mais baratos para o nosso mercado interno. No entanto, esse seria o anúncio de uma série de efeitos negativos do fim dessa relação sobre a economia do estado.

“Deve se observar (até por experiências anteriores, tanto no Brasil como em outros países) que em um segundo momento esse cenário causará um desestímulo à produção, acarretando desemprego, queda na renda, na arrecadação, na qualidade do serviço público, e no aumento da dívida pública, na emissão de moeda e da inflação”, explica Boulhosa.

Desdolarização

As autoridades que representam os países membros do Brics avaliam uma alternativa ao uso do dólar americano em transações comerciais internacionais para driblar uma imposição dos EUA sobre essas negociações. Embora a intenção seja potencializar os emergentes, o economista não acredita na força da iniciativa, que, segundo ele, não possui atratividade internacional. “Qualquer iniciativa como essa que desconsidere o interesse do restante do mercado torna uma nova moeda inútil. Para essa reflexão, deve-se refletir sobre quais moedas dos países que compõem o BRICS são desejadas pelo mercado. A resposta é nenhuma”, enfatiza. 

Boulhosa ainda acrescenta que algo “semelhante, mas em direção oposta, ocorreu com o surgimento do euro. No entanto, dentre os países que aderiram ao euro, se tinha moedas como o Franco (França) e o Marco (Alemanha), moedas que eram desejadas pelo mercado internacional”.

Setor produtivo paraense

O cenário atual, na avaliação do presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), Alex Carvalho, alerta para a necessidade de diversificar mercados, além de fortalecer as indústrias a nível regional e nacional. Ele não ignora os impactos indiretos da imposição de políticas tarifárias dos Estados Unidos, mesmo considerando que o principal comprador do Pará atualmente é a China, com 49.52% de participação na receita de exportações do estado. Ainda faz votos de efeitos positivos em outros setores, a exemplo da mineração.

“Olhando por uma perspectiva positiva vemos novas oportunidades, como o fortalecimento das relações comerciais com a União Europeia, impulsionado pelo acordo Mercosul-UE. Além disso, a demanda crescente por minerais estratégicos pode beneficiar a economia do Estado, conforme apontado pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram)”, observa Carvalho.

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Principais produtos

  • Alumina Calcinada - US$ 230.742.581
  • Ferro - US$ 158.950.649
  • Hidróxido de Alumínio (soda cáustica) - US$ 113.268.942
  • Madeira - US$ 53.243.516
  • Silício - US$ 42.319.595
  • Sucos de Frutas - US$ 29.369.980
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