Transações financeiras por meio digital ganham destaque e adeptos
Com o avanço da tecnologia, clientes têm aderido cada vez mais aos bancos e às transações pela internet
O Norte foi a segunda região do país que mais cresceu no percentual de participação nas transações por PIX entre novembro de 2020 e dezembro de 2021. Segundo dados do Banco Central (BC), neste período, a alta no valor transferido ou recebido pelos brasileiros foi de mais de 3.500%. Deste total, o Norte respondia por 6,92% e passou para 9,03%, o que representa um crescimento de 2,11 pontos percentuais (pp). Com as transformações ocorridas nos últimos anos e aceleradas pela pandemia da covid-19, o ambiente digital passa a ser cada vez mais presente na vida das pessoas, e especialistas apontam que o futuro dos bancos é digital.
Estas fintechs, ou seja, produtos tecnológicos relacionados às finanças, têm se consolidado cada vez mais no Brasil e no mundo. Dentro da região Norte, por exemplo, 6% da população teve o primeiro acesso a serviços financeiros justamente por meio de um banco digital, de acordo com pesquisa realizada pelo Nubank em maio de 2021. Informações enviadas pela Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs) à reportagem do Grupo Liberal mostram que existem hoje no país um total de 96 fintechs.
O assessor de investimentos Idean Alves não tem dúvidas: o futuro dos bancos é, de fato, digital, com boa parte dos serviços, produtos e atendimento disponível por meio de site e aplicativos, de forma intuitiva, global e de fácil acesso, a maioria sem custo direto para o cliente. É possível que, em um futuro próximo, aliado ao digital mais eficiente, haja também um modelo híbrido, casando os serviços online e o atendimento presencial personalizado, e tornando o serviço financeiro cada vez mais humanizado.
“O movimento que aconteceu lá fora, de ‘desbancarização’ e digitalização, foi acelerado no Brasil em razão da pandemia. Foram cinco anos em cinco meses na digitalização financeira, segundo presidentes dos maiores bancos do país. Quem usou a primeira vez o serviço gostou e não pretende voltar a usar rotineiramente a agência física. Hoje, no Brasil, em média 88% da população opera via bancos tradicionais, e a tendência é que esse número inverta para bancos digitais e instituições independentes, seguindo o mesmo movimento dos Estados Unidos”, aponta.
Diferenças
A maior divergência entre bancos tradicionais e digitais é a ausência de agências físicas no caso deste último. Ou seja, todos os serviços e produtos podem ser acessados digitalmente, na maioria das vezes dentro de um aplicativo de celular, com todas as possibilidades na palma da mão do cliente. Além disso, essas fintechs trazem também uma maior democratização do acesso aos serviços financeiros: de qualquer lugar com acesso à internet, com o mínimo de burocracia, sem custo e com o foco no cliente e na experiência do usuário. Para criar uma conta, por exemplo, o cliente só precisa baixar o aplicativo, preencher as informações necessárias e enviar fotos de seus documentos oficiais, sem precisar esperar em filas. E o melhor, sem custo para o uso da conta.
“Muitos se preocuparam em ouvir as demandas dos clientes, principalmente comparando com o que eles reclamavam dos bancos tradicionais, como taxas abusivas, burocracia para abertura de conta, constrangimento na concessão de empréstimos e investimentos não tão eficientes. Eliminaram o que os clientes não gostavam e se preocuparam em ofertar produtos e serviços que visam a superar as expectativas dos clientes”, avalia Idean.
Um exemplo de vantagem, segundo o assessor, é a conta remunerada oferecida por quase todos, em que o correntista vê seu dinheiro render mais do que na poupança apenas existindo dentro daquele banco, parado na conta. Outra vantagem é o cartão de crédito, com um acesso mais fácil e transparente e que devolve parte do dinheiro gasto por meio do chamado “cashback” – dinheiro de volta, na tradução livre. Além disso, não há cobrança de anuidade. E com base no histórico de uso, as empresas conseguem conceder aos clientes empréstimos a juros mais baixos, assim como calcular o seguro de vida de forma mais barata, tudo por meio do celular.
Outra mudança importante trazida pelos bancos digitais tem relação com investimentos. Segundo Idean, com o aumento da digitalização no país, houve uma quebra do controle da distribuição dos produtos financeiros por meio bancos digitais e corretoras, adotando-se um modelo mais aberto, em que o cliente consegue investir de uma única instituição em várias outras do mercado, sem ter que, obrigatoriamente, abrir conta em cada uma delas. Ele pode também investir em fundos, na Bolsa de Valores, fazer seguros e empréstimos, com o benefício da comparação e acesso a mercados brasileiros e internacionais.
“O melhor é que a pessoa não precisa ter grandes valores, estamos falando da democratização dos investimentos, um exemplo de que é para todos, o que também está ajudando bastante para o crescimento da educação financeira no país. Investimento, que antigamente era tabu para muitos, virou conversa de bar, todos querem participar e entender um pouco mais. A intenção dos bancos digitais e corretoras é deixar o mercado de capitais cada vez mais acessível a todos, e vamos ver cada vez mais pessoas investindo na Bolsa de Valores por meio deles”, adianta.
Desvantagens
Entre os pontos negativos dos bancos digitais, na opinião do especialista Idean Alves, está a margem para erro na experiência do cliente, principalmente em relação ao uso dos aplicativos, já que nem todos são familiarizados com as novas tecnologias. Além disso, com o crescimento acelerado, muitas empresas acabam atendendo a uma demanda superior à que podem naquele momento, o que resulta em sites e aplicativos mais lentos. Alguns clientes também podem ver como desvantagem a falta do atendimento físico, porque, em caso de eventual problema, só poderá ser resolvido por e-mail ou telefone.
Já para os bancos tradicionais também pode haver impacto negativo. “A concorrência está aumentando a concorrência, o número de clientes reduzindo e, consequentemente, a margem de lucro dos bancos tradicionais também, e eles precisam buscar outras fontes de receita para compensar. Pouca gente sabe, mas os maiores bancos do Brasil são as empresas com os maiores lucros do país, eles sem dúvida não vão querer perder esse posto tão facilmente”, afirma.
Mas, de modo geral, tudo isso é positivo para o cliente, pois ele tem várias opções e pode usar o melhor de cada um de acordo com o que está precisando. Ademais, os bancos tradicionais já estão se adaptando a essas mudanças digitais.
Cliente usa vários bancos
A escolha por um banco ideal passa pelo estudo das necessidades de cada cliente. Mas, nem todos fazem essa opção – alguns preferem ter várias contas correntes e usar uma ferramenta de cada instituição financeira. É o caso do médico Bernardo Martins, de 25 anos. Logo no início de sua vida financeira, ele aderiu aos bancos digitais, antes mesmo de ter conta em um dos tradicionais. A primeira conta foi aberta em 2018 e, agora, ele já é cliente de quatro bancos digitais, dos quais só dois utiliza com mais frequência na rotina. Com o passar dos anos, percebeu que também era necessário ter contas nos bancos tradicionais do mercado: abriu em três recentemente.
“Nos digitais, as vantagens são a facilidade de comunicação, o uso de aplicativo e recursos, maior agilidade tanto desse uso de recursos quanto de resolução de problemas, possibilidade de ter avisos importantes como de faturas e compras no mesmo instante, a na grande maioria a isenção de taxas em praticamente todos os recursos que eu preciso. Já o motivo de eu ter aberto contas tradicionais agora foi a necessidade de recebimento de salários, principalmente – isso em um dos bancos. Nos outros dois foi por conta de promoções de cartões de crédito, em que ter a conta já aberta me ajudaria a conseguir melhores benefícios com o uso dos cartões solicitados”, explica.
Bernardo conta que os dois bancos lançaram promoção de anuidade grátis vitalícia para algumas modalidades de cartões emitidos por eles, com condições de gastos e outras vantagens. “Solicitei, abri as contas e não pago taxa de manutenção em um e tenho desconto no outro. Eu diria que o único motivo foi o cartão de crédito, se não eu continuaria não tendo conta neles. Mas há a vantagem de acumular pontos para usar como milhas, então, sem anuidade, eu acumulo milhas da melhor forma possível usando eles”, comenta o médico.
Cenário de crescimento
Uma pesquisa recente desenvolvida pela N26 em parceria com a Accenture buscou mapear o mercado de bancos digitais e apontou que, globalmente, cerca de um em cada quatro (23%) cliente de serviços financeiros possui contas em bancos digitais, mas há uma projeção de que este número chegue a 70% em um futuro próximo. Até porque quase metade (46%) da população global com recursos bancários é estimada como potencial usuária de serviços digitais. Com essas estimativas, a entidade adianta que há um grande mercado potencial para os bancos digitais, que pode chegar a 1,4 bilhão de clientes em 28 mercados.
Em relação ao Brasil, especificamente, o país é apontado como um dos líderes entre os que possuem a maior quota de seus mercados de clientes de serviços financeiros já possuindo conta bancária exclusivamente digital: 44%. Ele perde apenas para a Arábia Saudita (54%) e os Emirados Árabes Unidos (51%). Atrás do Brasil aparece a China (42%). Já os países classificados com maior potencial para adoção de bancos digitais em grande escala são os Estados Unidos, Brasil e Japão, cada um com mais de 40 milhões de clientes em 2020 e apresentando trajetórias de crescimento positivas, segundo a N26 e a Accenture.
O Brasil é também o segundo mercado que cresce mais rápido (73% entre 2018 e 2020). Se mantiver essa taxa, em breve terá a maior parcela de clientes de bancos digitais entre todos os países pesquisados. Um dos fatores importantes para a aceitação dessas fintechs pelos consumidores é a confiança – e a nação brasileira lidera o ranking de confiança, com mais de 78% dos clientes de bancos exclusivamente digitais declarando que confiam em bancos digitais para seus dados, à frente inclusive dos Estados Unidos, que chega a 68%. Outros fatores são aplicativo móvel ou experiência no site simples e conveniente (38%), comunicações bancárias claras e simples (27%) e preços competitivos (34%).
O gênero é também um diferencial no Brasil. Embora no mundo todo os homens constituam a maior parcela dos clientes de bancos digitais – 59% contra 41% para mulheres –, o Brasil, por outro lado, possui marginalmente mais clientes de bancos digitais do sexo feminino (52%) do que do sexo masculino (48%). Outra diferença é referente à faixa de renda. Globalmente, as duas instituições mostram que os clientes de bancos digitais têm sido mais frequentemente pessoas de alta renda que são entusiastas da tecnologia móvel em primeiro lugar, porque estariam mais propensas a assumir riscos. Nos Estados Unidos, por exemplo, a maioria dos usuários de bancos digitais têm renda mais alta (63%). Já no Brasil, há um equilíbrio mais uniforme entre os clientes de baixa e média renda.
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