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Saiba como é a vida na mais antiga Floresta Nacional da Amazônia: “alimento sempre tem”

Flona do Caxinauã, no Pará, completa 60 anos, neste domingo (28)

O Liberal
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No arquipélago do Marajó, em uma exuberante região que abrange os municípios de Portal e Melgaço, está localizada a Unidade de Conservação mais antiga da Região Amazônica, que completa 60 anos neste domingo (28). O território da Floresta Nacional (Flona) de Caxiuanã tem cerca de 322.400 hectares e abriga 118 famílias distribuídas em sete comunidades: Caxiuanã, Laranjal, Pedreira, Cariatuba, São Tomé do Pracupi, Glória e Anjo da Guarda.

As populações local têm como a atividade econômica e de subsistência o extrativismo do açaí, da castanha do Pará e extração de óleos de copaíba, além do manejo de cipós, fibras e talas para fabricação de utensílios domésticos como vassouras, peneiras e tipitis. Caça e pesca são realizadas somente para consumo, assim como a coleta de frutos, óleos e resinas. Os agricultores cultivam roças para produção de mandioca que vai originar a farinha que, além de consumida, é comercializada em pequena escala, assim como milho e melancia.

A Flona é lar de 118 famílias (Ascom / ICMBio)

A gestão do local é realizada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), com a participação dessas comunidades que habitam seu interior. Segundo Simone Albarado Rabelo, analista ambiental e chefe do ICMBio Breves, o Instituto atua em diferentes frentes: “fiscalização e proteção do meio ambiente, apoio ao acesso de políticas públicas, apoio à realização de pesquisas científicas, mas acredito que a mais forte e importante atuação na região é o apoio, fomento e realização do manejo florestal comunitário madeireiro e não madeireiro. Além disso, o ICMBio colabora com ordenamento territorial do Marajó, elaborando e publicando o Plano de Manejo, Acordos de Gestão Territorial e Perfil de famílias beneficiárias”, destaca.

Criada em 1961, a Flona tem como objetivo o uso racional dos recursos naturais e o desenvolvimento de pesquisas científicas. Antes mesmo de sua criação, populações ribeirinhas já moravam na área. De acordo com Plano de Manejo da Unidade - documento técnico destinado a estabelecer as normas de uso das áreas e dos recursos -, o nome Caxiuanã aparece na história da região a partir do século XVIII, ainda no Brasil colônia, quando uma missão, a serviço do governo da província do Grão-Pará, esteve na região para fazer uma avaliação das madeiras ali existentes. Acredita-se que provavelmente a palavra tenha origem indígena, referente aos índios que habitaram aquela região em passado remoto. Ou, como preferem os habitantes: caxiuanã quer dizer terra de muita cobra.

Maria Carvalho do Nascimento, de 51 anos, conhecida como Dalva, é moradora da comunidade Caxiuanã, que se casou com um morador da Flona na década de 1990 e mudou-se para a unidade. “Para mim é um privilégio grande morar aqui. Não quero sair daqui. Só quero ampliar minha moradia e continuar vivendo aqui, por causa da tranquilidade, da paz, da alimentação. Aqui se você não tiver dinheiro você vai no rio, pega um peixe, e tem o que comer. Alimento sempre tem. Fico imaginando quem mora em uma cidade e não tem condições. Por isso mesmo temos que conservar, garantir que tudo isso não acabe”, explica.

Para ela, o papel de quem mora no território é ter consciência ambiental e por isso é importante se organizar e seguir lutando por melhorias, para que todas as gerações tenham acesso aos recursos naturais.

Morador da comunidade São Tomé, Augusto Ramos da Costa, de 61 anos, nasceu, cresceu e vive no território. Ele diz que a vida na região tem restrições, em virtude da necessidade de conservar o ambiente, retirando o que precisa para susbsistência com respeito às regras do instituo, mas afirma entender o porquê disso: “eu vivo da agricultura, faço a roça, tudo para consumo próprio, faço a coleta da castanha e produzo farinha para vender e conseguir um dinheiro, então posso dizer que a vida aqui é muito boa. Aqui a gente tem direito de uso da terra, então de certa forma é nossa também, por isso é preciso trabalhar de forma correta, respeitando, não degradando. É por isso que tem muito peixe, muita caça, muita fruta”, contou.

A Floresta Nacional de Caxiuanã é uma das áreas mais pesquisadas na Amazônia oriental (Ascom / ICMBio)

Pesquisas

Em 1993, a base de pesquisas científicas do Museu Goeldi/MCTI, estação Científica Ferreira Pena (ECFPn) foi implementada no município de Melgaço, com objetivo de apoiar estudos científicos sobre a sociobiodiversidade da Amazônia, além de atividades de educação em ciências e educação ambiental. Na estação, são realizados eventos como treinamentos, visitas orientadas, cursos de campo para alunos de graduação e pós-graduação e treinamentos de extensão rural para moradores de Caxiuanã.

O professor e pesquisador do Museu, Leandro Valle Ferreira, possui uma relação de vida com o território. “Conheci Caxiuanã em 1994 logo após a inauguração da Estação. Trabalhei durante muitos anos como pesquisador da coordenação Botânica na Ferreira Pena, publicando diversos artigos. Fui responsável pela integração dos dados para a confecção do Plano de Manejo feito em 2011. Fui Coordenador da Estação de 2014 a 2018. Atualmente coordeno um dos sítios de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração com apoio do CNPq, o único nessa região”, conta Leandro.

Segundo ele, a Estação Científica Ferreira Penna representa a principal base de pesquisa do Museu Paraense Emílio Goeldi e a única na região do Centro de Endemismo do Xingu, contribuindo de forma significativa para o avanço de conhecimentos sobre a biodiversidade amazônica. “O Sítio PELD atua em quatro eixos principais de pesquisa: avaliação de Impactos antrópicos e simulação de secas prolongadas, simulando o efeito de mudanças globais; monitoramento da biomassa e dinâmica Florestal; monitoramento da biota em longo prazo; educação ambiental e formação de recursos humanos”, destaca o professor.

A Floresta Nacional de Caxiuanã é uma das áreas mais pesquisadas na Amazônia oriental. As investigações científicas realizadas no território contribuíram para o conhecimento da biodiversidade amazônica, formação de recursos humanos e o fortalecimento das interações com a comunidade local.

Com as pesquisas, já foram reconhecidas mais de 1.500 espécies de plantas e 1.800 espécies de animais, alguns ameaçadas de extinção.

 

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