Praticagem e Marinha assinam protocolo para aumentar carregamento de embarcações no Rio Amazonas
A implementação do novo sistema pode aumentar arrecadação do Pará e atrair novos empregos

A Cooperativa de Apoio e Logística aos Práticos da Zona de Praticagem 1 (Unipilot) e o Comando do 4º Distrito Naval assinaram, nesta terça-feira (8), um protocolo com o objetivo de implantar um sistema de calado dinâmico na barra norte do Rio Amazonas. Calado é a designação dada à profundidade a que se encontra o ponto mais baixo da quilha de uma embarcação, em relação à linha d'água. A assinatura pode significar aumento de arrecadação de impostos e geração de novos empregos para o Pará, Amapá e Amazonas.
VEJA MAIS
O sistema integrado de coleta e processamento de dados calcula o quanto um navio pode aumentar o seu volume submerso, sem risco de encalhar. Esse dado é fundamental para ampliar o carregamento das embarcações. Conforme o 4º Distrito Naval, é necessário ter em vista que a barra norte é um trecho raso, com lama, de 24 milhas na foz do Rio Amazonas, que delimita o calado (parte submersa) de todos os navios na Bacia Amazônica.
Até o fim do mês, será fundeada a primeira de três boias meteoceanográficas, cujos sensores vão alimentar o sistema com dados de correntes, altura de maré e densidade da água, durante todos os dias da semana, para que o volume submerso das embarcações possa ser aumentado com segurança.
“O desenho hidrodinâmico dos equipamentos foi adaptado para a realidade do maior estuário amazônico, para evitar que saiam da posição. A iniciativa conta com o apoio técnico da Argonáutica, empresa que nasceu na USP (Universidade de São Paulo) e desenvolveu o calado dinâmico no Porto de Santos, e do Laboratório de Dinâmica de Sedimentos Coesivos da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Todas as informações coletadas pelas boias serão compartilhadas via satélite com a Marinha, responsável por autorizar o calado máximo na região”, explica a assessoria de comunicação do Comando do 4º Distrito Naval.
A unidade da Marinha do Brasil afirma ainda que o projeto favorece o governo federal, o agronegócio, “que exporta pelo chamado Arco Norte”, e os Estados do Pará, Amapá e Amazonas, “que se beneficiam do aumento da arrecadação de impostos por embarcação e do potencial para atrair novos terminais portuários, indústrias e gerar empregos”.
O presidente da Unipilot, Adonis dos Santos, destaca que o conjunto de boias vai trazer mais previsibilidade para o carregamento das embarcações e é a base para implementação do sistema de calado dinâmico. “É mais uma contribuição da praticagem para a segurança do tráfego aquaviário e a eficiência das operações portuárias”, afirmou.
A ideia do calado dinâmico começou em 2017, quando a praticagem fez um estudo técnico e instalou um marégrafo, instrumento que registra automaticamente o fluxo e o refluxo das marés em um determinado ponto da costa, no Canal Grande do Curuá, principal acesso ao Rio Amazonas. A informações são compartilhadas com a Marinha e a UFRJ, parceira na análise das marés.
De acordo com a Marinha, as três boias meteoceanográficas vão tornar as previsões mais precisas. A expectativa é aumentar o calado das embarcações dos 11,90 metros, patamar autorizado em fase de testes, para 12,50 metros em certas janelas de maré, o que significa um ganho de dez mil toneladas por navio Panamax (termo que designa os navios que, devido às suas dimensões, alcançaram o tamanho limite para passar nas eclusas do Canal do Panamá), que beneficiará toda a área de abrangência comercial dos portos da Bacia Amazônica.
Será feita também a sondagem regular das profundidades dos rios da região, realizada há mais de dez anos, especialmente no Canal Grande do Curuá, que fica a 70 milhas da barra norte. Isso porque, na Amazônia, bancos de areia se movimentam constantemente sob as águas, alterando os canais de navegação. Os investimentos até o momento em batimetria e estudo das marés contribuíram para a Marinha aumentar o calado de 11,50 metros, em 2017, para os 11,90 metros atuais (ganho de mais de US$ 1 milhão de carga por navio).
Cresce o escoamento pela Bacia Amazônica
Na Amazônia, trafegam cerca de 1.300 embarcações por ano, sendo quase metade com carga do agronegócio. A progressão do calado é apontada como importante para o escoamento da produção crescente. O Mato Grosso, principal produtor, responde por 72 milhões de toneladas de grãos e a estimativa é alcançar 120 milhões em 2030, sendo que dez anos depois 60 milhões serão exportados pelo Arco Norte, segundo o Movimento Pró-Logística de Mato Grosso.
A carga do Centro-Oeste chega em barcaças pelo Rio Madeira até Itacoatiara, no Amazonas, e pelo Rio Tapajós até Santarém. Nos portos, é transferida para os navios que descem o Rio Amazonas.
Companhia Docas do Pará
A Companhia Docas do Pará (CDP), em nota ao Grupo Liberal, iafirma que a implementação de um sistema de calado dinâmico na barra norte do rio Amazonas é uma excelente iniciativa "pois permitirá que navios de maior porte e com maior capacidade de carregamento atraquem no Porto de Santarém, o que otimizará a disponibilidade dos berços de atracação, com a redução dos preços de frete. Consequentemente, este novo procedimento contribuirá para gerar mais atratividade para o escoamento de grãos de origem vegetal, entre outras cargas que possam surgir, pelos portos do Arco Amazônico".
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA