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Petrobras mantém planos para exploração de petróleo no Pará e Amapá

Região amazônica está inserida em projeto que visa ampliar as reservas de combustíveis do Brasil

Fabrício Queiroz

A exploração e produção de petróleo e gás em águas profundas na região conhecida como Margem Equatorial deve receber atenção especial nos investimentos previstos pela Petrobrás. No período de 2023 a 2027, as despesas de investimentos da companhia devem ser de US$ 6 bilhões, dos quais US$ 2,9 bilhões, o equivalente a 49% serão direcionados para os projetos de exploração na região, que se estende desde a costa do Amapá até o estado do Rio Grande do Norte.


No final da semana passada, o novo presidente da empresa Jean Paul Prates anunciou a indicação de cinco novos membros para a Diretoria Executiva. São eles: Claudio Schlosser; na diretoria de Comercialização e Logística; Carlos Travassos, na diretoria de Desenvolvimento da Produção; Joelson Falcão, na diretoria de Exploração e Produção; William França, na diretoria de Refino e Gás Natural; e Carlos Augusto Barreto, na diretoria de Transformação Digital e Inovação. Com exceção do último, os demais são funcionários de carreira da estatal e já ocuparam cargos gerenciais e de direção em diferentes operações. Mesmo assim, as indicações serão submetidas aos procedimentos internos de governança corporativa e precisam de autorização do Conselho de Administração para ocuparem os cargos.

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Apesar das mudanças recentes em sua administração, a Petrobras segue com a Margem Equatorial contemplada em seus planos de curto, médio e longo prazos. “A exploração de novas reservas é essencial para a manutenção dos negócios em petróleo e gás, mesmo num panorama de transição energética, que naturalmente conduzirá à priorização de fontes de energia limpa”, disse em nota a empresa.

Dentro desse plano estão incluídos os projetos de perfuração de 16 poços na região, sendo que a primeira delas deve ocorrer ainda no primeiro trimestre de 2023 no chamado Poço Morpho, localizado no Bloco FZA-M-59, que está a cerca de 175 Km da costa do Amapá e a 2.880 metros de profundidade. Já na bacia Pará-Maranhão, a empresa informa que o processo ainda está em fase de elaboração de estudos ambientais, porém já trabalha com a projeção de perfuração de poços em 2026.

No Poço Morpho, a companhia espera realizar em breve a Avaliação Pré-Operacional (APO), uma espécie de simulado para analisar a atuação em eventuais acidentes com vazamento de óleo.

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Mesmo localizado em outro estado, o Pará está diretamente envolvido nessa operação visto que é aqui foi construído o Centro de Reabilitação e Despetrolização da Fauna, localizado em Icoaraci, para atendimento aos animais afetados, bem como é a estrutura portuária daqui que dará suporte ao simulado, incluindo utilização de mão de obra local. A logística aérea, por sua vez, terá como base o aeroporto de Oiapoque, além do apoio do aeroporto de Macapá.

A projeção inicial indicava que o exercício seria realizado em dezembro do ano passado, porém a falta de uma licença ambiental para o Centro, que deve ser concedida pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), adiou o cronograma. Durante a semana, o gerente geral de exploração, Rogério Cunha, afirmou em evento em Belém que a licença sairia logo, porém nenhuma autorização foi publicada no Diário Oficial do Estado até a sexta-feira, 03.

Segundo a Semas, o prazo para análise do pedido ainda está dentro do prazo, visto que o requerimento foi recebido em 20 de outubro de 2022. “Conforme o Art. 14 da Resolução Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) 237/97, o prazo legal para análise de licenciamento é de até seis meses a contar do ato de protocolar o requerimento até seu deferimento ou indeferimento, ressalvados os casos em que houver Estudo de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) e/ou audiência pública, quando o prazo será de até 12 meses”.

Por sua vez, a Petrobras não informou possíveis datas para o teste, mas ressaltou que está “envidando todos os esforços e mobilizando os recursos necessários para a realização da APO”. “A data para a realização da APO será definida em breve, junto ao IBAMA. Após a realização desta atividade e posterior obtenção da licença a ser emitida pelo IBAMA, a Petrobras estará autorizada a iniciar a perfuração do poço denominado Morpho”, acrescentou a nota.

Margem Equatorial traz perspectivas de desenvolvimento econômico

A atenção voltada para a Margem Equatorial é justificada por inúmeros fatores. Entre eles estão a demanda crescente por combustíveis em todo o mundo aliado ao avanço das atividades de extração de óleo e gás em águas profundas em países vizinhos, como a Guiana e o Suriname. Na Guiana, por exemplo, houve 43 descobertas e 120 poços já foram perfurados desde 2015.

De acordo com a coordenadora de exploração da Petrobrás, Ana Helena Anaisse, os dados das operações naquele país mostram que a produção atual é de 360 mil barris por dia e a tendência é de aumento para até 1,8 milhão de barris por dia no ano de 2032. “Daí a gente tira a importância de estudar a similaridade geológica. Por similaridade, a gente encontra oportunidades exploratórias a serem perfuradas na nossa parte da Margem Equatorial”, afirma a especialista.

Já o gerente geral de exploração, Rogério Cunha, ressalva que mesmo dentro desse contexto nem todas as operações podem ser comercialmente viáveis. “Um exploracionista convive com o risco. O que tentamos tratar é a relação entre risco e prêmio. Mesmo eu tendo um alto risco, se eu tenho um alto prêmio, a gente avalia esse potencial. Nós temos 16 poços na Margem Equatorial para avaliar se tem situação similar no Brasil, mas ainda existe um longo caminho para avaliar esse potencial”.

Contudo, as perspectivas de avanços nas atividades em águas profundas são promissoras e estratégicas para o país e a região, sobretudo porque dentro do planejamento estratégico da Petrobrás há previsão de perfuração de seis poços no Amapá e três no Pará. “Em uma dessas áreas do Pará a gente já tem o sistema petrolífero ativo, comprovado, com um plano de avaliação de descoberta e com uma previsão de iniciar a perfuração em 2026”, pontua Rogério Cunha.

Na avaliação do presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Roberto Ardenghy, os investimentos na área são necessários para conhecer a última fronteira exploratória brasileira.

“Atualmente, as principais regiões produtoras do Brasil são a bacia de Campos, que responde por cerca de 25% da produção, e a bacia de Santos, que é responsável por 50% e elas estão em fase de amadurecimento. Portanto, a Margem Equatorial é importante para manter a produção nacional e transformar isso em riqueza, lógico fazendo a reposição dessa reserva de maneira segura e correta, como já ocorrem nas demais operações que tem o mais alto nível de segurança”, afirma Ardenghy, que chama atenção para o fato de que uma atividade desse porte tende a transformar a realidade socioeconômica das áreas do entorno.

“Uma atividade petrolífera traz royalties, participações especiais e impostos que são pagos, gerando empregos e dinamizando a economia. É o que se espera para as regiões dos estados do Pará, Amapá e Maranhão, por exemplo”, ressalta.

Segundo Ana Helena Anaisse, essa será diretriz seguida pela estatal na região, tendo como referência seus princípios da agenda Ambiental, Social e de Governança (ASG). “A Petrobrás está sendo muito criteriosa e muito cuidadosa, guardando toda uma coerência e observância ao meio ambiente, à sociedade e à governança. Nós temos um tripé muito forte para que nada seja feito fora desses preceitos. Segurança operacional para a Petrobrás é um valor fundamental, isso é inegociável”, reforça.

Entenda o processo de licenciamento e exploração de petróleo

O estudo sobre a produção de petróleo em águas profundas na Amazônia ocorre seguindo cinco etapas. Conheça cada uma delas:

  1. Aquisição de blocos da ANP – Os blocos são colocados em oferta com aval do Ibama para as licitações. Eles podem ser adquiridos individualmente ou por consórcios. A Petrobrás tem participação em 27 blocos ao longo de toda a Margem Equatorial.
  2. Pesquisa da bacia - Nesta fase são realizados estudos de interpretação geológica e geofísica, pesquisa sísmica, entre outros.
  3. Perfuração - Esta fase inclui a Avaliação de Pré-Operacional (APO), que é a etapa final para obtenção da licença ambiental, que deve ser concedida pelo Ibama, para depois ser realizada a perfuração propriamente dita.
  4. Plano de avaliação – Etapa em que se estabelecem os diferentes tipos de poços, como pioneiros, os delimitatórios ou de extensão e os pioneiros adjacentes. Também se delibera sobre a viabilidade econômica da área.
  5. Campo produtor – Fase em que inicia de fato a produção de petróleo. Nesta fase, o Ibama deve conceder uma licença de operação para o empreendimento.
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