Pesquisa mostra queda nos preços dos combustíveis no Pará

Economista acredita que nova política de preços pode ajudar a baratear os produtos

Camila Azevedo e Fabrício Queiroz
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Os paraenses estão pagando menos para abastecer neste mês de maio, segundo análise feita pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese-PA) com base no levantamento de preços da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Na semana de 7 a 13 de maio, houve recuo de 0,30% no gás de cozinha, de 0,37% na gasolina comum, de 0,43% no etanol e de 3,28% no diesel em relação à semana anterior. Com a nova política de preços da Petrobras, a expectativa é que novas reduções possam ocorrer em breve.

De acordo com a pesquisa, os postos de combustíveis do estado venderam a gasolina a R$ 5,44, em média. Por sua vez, o etanol está custando R$ 4,68, o diesel sai por R$ 5,90 e o valor do botijão de gás de 13 kg está em R$ 113,74. Ainda que todos os produtos tenham ficado mais baratos, o estudo mostra que o Pará possui preços médios de combustíveis elevados. No comparativo com outras unidades da federação, o preço da gasolina, por exemplo, é mais competitivo em estados como Espirito Santo, Santa Catarina, Goiás e o Paraná.

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O economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia dos Estados do Pará e Amapá (Corecon PA/AP), Nélio Bordalo, explica que os paraenses lidam com valores altos dos combustíveis devido às distâncias entre o estado e os centros de importação e refinarias, fazendo com que os custos logísticos e de frete sejam repassados ao consumidor. Para corrigir esse problema, ele avalia que a redução da alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS) poderia baratear os produtos.

“Outra possibilidade de mais impacto seria a implantação de refinarias adequadas para o refino do petróleo brasileiro, que possui especificidades diferentes do petróleo que o Brasil importa no mercado internacional”, sugere.

Mudanças

Nesse contexto, a Petrobras anunciou mudanças em sua política de preços deixando de basear seus preços na paridade internacional. A medida estava em vigor desde 2016 e fazia com que os preços no país acompanhassem as oscilações e a volatilidade do mercado. A partir de agora serão levados em conta duas novas referências: o custo alternativo do cliente, que contempla as alternativas de suprimento, como fornecedores dos mesmos produtos ou produtos substitutos; e o valor marginal para a Petrobras, que abrange alternativas de produção, importação e exportação.

Aliado a isso, o presidente da companhia, Jean Paul Prates, disse em coletiva à imprensa que haverá reduções nos preços da gasolina, diesel e gás de cozinha, com variações de 12,6%, 12,8% e 21,3%, respectivamente. As mudanças logo repercutiram na Bolsa de Valores, onde as ações da Petrobras operaram com valorização de 3% no início da manhã de terça, o que contribuiu para a alta do Ibovespa.

Nélio Bordalo considera que a mudança na estratégia comercial da estatal é audaciosa, mas ainda é preciso esperar para saber o seu impacto nas bombas. “Ainda é cedo para qualquer afirmação sobre os impactos positivos ou negativos da nova política de preços, mas acredito que a Petrobras estudou bem a nova regra, o que pode oferecer mais flexibilidade para praticar preços competitivos”, diz ele, ponderando que, no entanto, que a empresa pode sofrer com aumentos de custos inicialmente.

“Acredito que a nova estratégia de preços não irá refletir em desvalorização da empresa nos próximos meses e, caso isso venha ocorrer, certamente a direção da Petrobras terá instrumentos para fazer os ajustes necessários e evitar essa situação”, acrescenta Nélio, que ressalta os benefícios que o combustível mais barato trariam para o mercado e a população.

“Vamos ter que aguardar os reflexos nos preços dos combustíveis pelo menos nos próximos dois meses, para sabermos se o consumidor final será realmente favorecido. Vamos torcer para que sim, pois a redução certamente irá refletir em outros setores da economia, que utilizam o diesel como insumo, como por exemplo que transporta produtos alimentícios”, destaca.

Por outro lado, o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Estado do Pará (Sindicombustíveis-PA) considera que a mudança na política é danosa para a Petrobras e para o Brasil. "A alteração significa verdadeiro retrocesso para a companhia, para o país e pode ser muito arriscada, beirando a irresponsabilidade. Era assim no passado e a intervenção estatal na empresa trouxe vários prejuízos”, argumenta o advogado do sindicato, Pietro Gasparetto.

Na avaliação do setor, prever redução de preços no momento é uma “falácia” e “especulação”. “Pode melhorar um pouco, no curto prazo, mas pode piorar muito, inclusive com falta de produto. Um dos motivos para a paridade existir é que grande parte do combustível consumido no Brasil é importado e é necessário ter uma adequação entre mercado interno e externo”, esclarece Gasparetto, que diz que a medida da Petrobras pode prejudicar a atuação de empresas privadas que importam combustível, o que pode provocar efeitos como o desabastecimento.

“Para evitar que falte combustível, a Petrobras precisará elevar os preços. Além disso, a manutenção do preço baixo será artificial, gerando prejuízos que no final acabam resvalando no Estado”, afirma o advogado.

Consumidor comemora preços reduzidos

Para João Batista, oficial da Marinha Mercante de 53 anos, toda redução de preço é motivo de comemoração. Ele conta que chega a gastar, em média, três tanques de gasolina por mês e que precisou adequar as saídas com o carro para evitar prejuízos nas contas. “Acho que isso [a redução] já deveria ter acontecido há muito tempo. Tudo que seja para melhorar, é bem-vindo, porque os preços estão absurdos e, infelizmente, a inflação é demais”.

“Eu uso o carro quase todos os dias, se usar direto, não tem condições. Por isso, devo gastar de dois a três tanques por mês, dependendo de como eu rodo, da quantidade que ando. Se ando muito, com certeza vai consumir muito”, completa João.

Para equilibrar as contas, foi preciso abrir mão de certas coisas do dia a dia. “Tem que reduzir porque se não, não tem condições, ou você faz uma coisa, ou faz outra. Se quiser fazer algo, reduz de um lado para poder suprir no outro. Se for tentar fazer tudo, não tem condições”, finaliza João.

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