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Mulheres na mineração: trabalhadoras LGBTQIA+ ganham espaço em iniciativas de inclusão e diversidade

Vale, Hydro e Alcoa se destacam na criação de políticas que incluem incentivo à formalização das uniões homoafetivas e benefícios iguais aos oferecidos a casais heterossexuais

Luciana Carvalho
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Ao longo dos anos, as mulheres têm conquistado cada vez mais espaço no mercado de trabalho, inclusive em posições de liderança, antes predominantemente ocupadas por homens. Esse protagonismo feminino vem ganhando destaque e já evidencia uma realidade em transição: dados atuais indicam uma tendência de crescimento do domínio feminino nesses setores. 

De acordo com o último levantamento do Global Gender Gap Index, o mais abrangente estudo sobre desigualdade de gênero no mundo, a participação de mulheres em cargos de liderança subiu de 33% em 2016, para 37% em 2022. O estudo foi divulgado pelo Fórum Econômico Mundial.

Já o relatório Women in Business 2022, da Grant Thornton, uma das maiores empresas globais de auditoria, consultoria e tributos, revela um aumento significativo no número de mulheres ocupando cargos de liderança no Brasil. Entre os anos de 2019 e 2022, o crescimento foi de 13%, saindo de 25% das posições de liderança sob comando feminino no país em 2019 para 39% em 2022.

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Dificuldades dão espaço para avanços na inclusão feminina

As dificuldades que as mulheres enfrentam na corrida pela equidade de gênero não se limitam ao ambiente profissional. A sobrecarga em casa transforma a jornada - que já é intensa - em um trabalho sem descanso. Cuidado com lar, família, filhos e até pets, se somam à batalha contra assédio e desigualdade salarial. A luta pelos direitos, apesar de árdua, é o caminho para as mudanças.

Para quem é LGBTQIAP+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, intersexuais, assexuais e pansexuais), esse percurso pode ser ainda mais desafiador, uma vez que todos os outros obstáculos se unem ao estigma, discriminação e preconceito pela orientação sexual ou identidade de gênero

No entanto, estratégias e ações implantadas no mercado com criação de vagas afirmativas têm mudado esse contexto, como no setor de mineração, que apresenta um cenário predominantemente masculino, e está passando por transformações significativas devido à implementação de iniciativas de diversidade e inclusão de grupos com menores representatividades, incluindo o de mulheres LGBTQIAP+. Um exemplo é a ação da mineradora Vale, que em 2019 estabeleceu a inclusão e a diversidade como um pilar central em sua estratégia corporativa, fortalecendo uma série de iniciativas significativas.

Entre essas ações, a Vale oferece, por exemplo, a cobertura de hormonioterapia e cirurgias de transição de gênero por meio de seu plano de saúde para todos os seus funcionários e seus dependentes que são transgêneros no Brasil. Além disso, a empresa também dispõe de auxílio-creche para casais homoafetivos. As pessoas trans também podem usar seus nomes sociais em crachás, e-mails e em documentações funcionais da empresa.

Pamella Almeida, 31 anos, mãe de um adolescente de 19 anos, é supervisora da área de vulcanização da Vale no polo Serra Norte em Parauapebas e atua na mineração há 13 anos. Ela é uma das funcionárias que faz parte do grupo LGBTQIAP+ e conta que se identificou como uma mulher homoafetiva aos 15 anos. “Quando eu entendi mais sobre o assunto, tive que realmente assumir, primeiramente para a minha família, e na sequência para a sociedade. Até hoje, sinto como se fosse um dia de cada vez, para que a gente se permita falar sobre o tema e se identificar como uma mulher LGBTQIAP+”. 

Para Pâmella, o maior desafio que mulheres LGBTQIAP+ enfrentam na busca por uma vaga no ramo da mineração é se auto declararem como mulheres que fazem parte desse grupo e, também, fazer com que outras sejam incluídas no ramo. 

“Estamos falando de uma evolução cultural que nos últimos 13 ou 14 anos era difícil de ser abordada. Estamos numa jornada que ainda tem, como maior desafio, se auto reconhecer e se auto posicionar. Hoje, as pessoas têm essa afinidade para entrar na mineração e serem quem elas são. Está mais fácil, pois na época em que entrei, essa inclusão foi um desafio imenso para mim”, ressalta a supervisora

 

Em 2021, a mineradora Hydro realizou um censo interno de diversidade e inclusão entre seus colaboradores e, de forma voluntária e anônima,  9,5% dos funcionários dos polos da mineradora se declararam pessoas do grupo LGBTQIAP+. Com o objetivo de aumentar a representação de empregadas para 25% até 2025, a Hydro também desenvolve iniciativas como a implantação de programas voltados para engenheiras, disponibilizando vagas específicas para mulheres. E foi através desse programa que Hellen Silva ingressou na Hydro, em 2022. 

engenheira de manutenção de 33 anos, que se declara LGBTQIAP+, conta que começou a participar do processo seletivo para a Hydro através de um programa de trainee e, em novembro de 2022, conseguiu ser contratada pelo “Mais Engenheiras”.

“Em 2021, eu comecei a participar do programa de trainee e foi quando eu conheci mais a empresa e vi todos os programas que ela desenvolvia. Essa foi a primeira vez, entre todas as entrevistas que fiz em outras mineradoras, que eu fui entrevistada por uma mulher que hoje é minha gerente, e que é um exemplo e uma inspiração pra mim”, afirmou.

 

Para Hellen, o maior desafio das mulheres LGBTQIAP+ é mostrar o potencial de cada colaboradora e não ser apenas só mais um número no índice do público feminino, pois na visão da engenheira, ainda existe muito preconceito por serem mulheres e ainda mais pela orientação sexual delas.

"A gente é igual a qualquer pessoa, a minha orientação sexual não muda o que eu sou. Não muda a cidadã que eu posso ser".

 

Criado em 2007 para fortalecer a comunidade LGBTQIAP+, o programa Rede Eagle, da mineradora Alcoa, está presente em todas as unidades da companhia promovendo ações e estratégias de inclusão e valorização da diversidade para esse público, como por exemplo, o incentivo à formalização das uniões homoafetivas e a licença maternidade/paternidade para casais homoafetivos que adotem bebês. 

técnica de enfermagem do trabalhoGlena Rocha de Farias, de 35 anos, mãe de duas meninas, atua no polo de Juruti, no oeste do Pará. Ela é uma das líderes do programa Eagle na companhia e conta que a sua atual companheira, com quem está há dez anos, também faz parte do quadro de funcionários da mineradora e que, por conta das histórias que sua parceira lhe relatava sobre a empresa, ela também se candidatou a uma vaga na Alcoa.   

 

Glena afirma que no ramo da mineração foi o lugar onde ela se sentiu mais acolhida e mais à vontade de ser quem realmente ela é. “A gente sabe que esse tipo de preconceito existe, mas a gente vem quebrando. Na mineração, na minha experiência, não existiu nenhum tipo de estigma. Dentro da Alcoa foi onde mais fiquei à vontade para ser quem eu sou. Quando eu entrei, logo de cara eu fui chamada pra ser a co-líder da Eagle e depois de três anos, eu fui convidada para me tornar a líder do projeto na cidade de Juruti. Hoje, já estamos com mais de 150 aliados no projeto e sete mulheres autodeclaradas lésbicas ocupando cargos de liderança” pontua.

*Luciana Carvalho, estagiária de jornalismo sob supervisão de Tainá Cavalcante (editora web) e Heloá Canali, coordenadora de O Liberal.com.

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