Mercado de bicicletas vem crescendo em Belém, desde o início da pandemia
Em todo o Brasil, vendas das empresas do ramos cresceram 34,17% somente no primeiro semestre deste ano

As vendas de bicicletas ao longo da pandemia de covid-19 foram impulsionadas pelo distanciamento social imposto pela covid-19 e o desejo de evitar a armadilha do sedentarismo. Enquanto a maioria dos setores da economia passava sufocos, esse mercado viu as receitas crescerem. Segundo dados da Associação Brasileira do Setor de Bicicletas, o primeiro semestre de 2021 registrou um aumento de 34,17% nas vendas, em pesquisa que ouviu 180 lojistas do ramo em 20 estados brasileiros.
Afonso Ramoa Jr. está desde 2015 trabalhando com o segmento das magrelas e acredita que andar de bicicleta é na verdade um estilo de vida. Em 2020, logo que a pandemia estourou, a loja dele começou a ser muito mais procurada do que em 2019.
"Em alguns estados declararam nossa atividade como serviço essencial, o que ajudou muito. Tivemos muito serviço de oficina, manutenção das bicicletas, muito delivery de bike, cedemos serviços gratuitos para quem precisava. A gente começou a ver que a curva de faturamento, que imaginávamos ser decrescente, começou a se estabilizar, na verdade. E com 20 dias ali já em abril começou a crescer muito, muito mesmo, com pedidos por Whats App e ligação", conta.
Invés de demitir, a empresa dele começou a contratar mais funcionários. Atualmente, são 19 empregados, que fazem parte uma outra estatística positiva do setor: de acordo com um levantamento da Aliança Bike baseado no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), 1.079 brasileiros foram contratados com carteira assinada para fabricar bicicletas e componentes em 2020. No comércio dos veículos, outras 984 pessoas foram empregadas. Nos dois primeiros meses de 2021, as indústrias contrataram formalmente 301 pessoas, e as lojas, 424.
O período próspero também possibilitou reformas na loja e investimentos em outros braços do negócio de Afonso, como uma empresa de aluguel de bicicletas que também funciona em Belém, cidade que conta com mais de 113 quilômetros de ciclofaixas e ciclovias.
"Crescemos bastante. Muitas academias fecharam e galera do crossfit e academia que não tinha como se exercitar comprou bike. Continuamos vendendo mais do que dois anos atrás, mas não era também o que foi no pico da pandemia. Crescemos muito ainda em 2021. 2022 a gente imagina uma estabilização com tendência de leve queda. Mas sei que alguma coisa aconteceu na mente das pessoas, pois hoje elas entendem mais o valor da bicicleta, tanto do ponto de vista ecológico como a questão da saúde", avalia o empresário, que desde criança acredita que bicicletas são sinônimo de liberdade.
Apesar dos louros colhidos, Afonso lembra que o setor também possui desafios que refletem o estado da economia brasileira. O principal dele: a desvalorização do real frente ao dólar, que já soma 16% nos últimos doze meses e anulou boa parte do poder de compra de diversos produtos importados entre as famílias brasileiras. Afonso, inclusive, explica que, por mais que existam marcas brasileiras grandes, a maior parte dos insumos, componentes e equipamentos são originários da indústria estrangeira.
"Meu receio maior é que não se pensem soluções como redução de imposto ou fortalecimento da indústria nacional. Há um lobby muito grande das empresas brasileiras. Um tempo atrás foi aprovada uma redução substancial dos impostos das bikes, mas para infelicidade nossa alguns dias depois conseguiram reverter a ação, beneficiando só algumas empresas do Brasil. Pra uns fica muito interessante, mas pra maioria não fica legal. É uma coisa absurda. você tem muito carro e moto com impostos reduzidos. Sem contar a questão da política econômica brasileira que o governo não consegue reverter. Você pega produtos no mercado que são dez vezes mais caros em função do dólar", afirma.
Alann Rezende é também lojista do ramo, com um empreendimento que cresceu 25% durante a pandemia de covid-19. Agora, apesar de enxergar uma tendência global de incentivo ao transporte de duas rodas, ele acredita que o momento é de retração.
"O que tenho observado não só na minha loja mas com vários fornecedores é que nos últimos três meses já houve uma queda bem brusca e acabou aquele boom de procura da bike como solução de atividade esportiva. Houve um consumo muito grande em todo nível de classe social com uma curva alta de crescimento. Mas ainda existe uma demanda muito grande para produtos de alto valor agregado, que estão em falta no mercado. A queda acentuada foi nos produtos de menor valor mesmo, como as bikes de iniciante. As de competição, mais caras, ainda estão sendo muito procuradas", conta.
A maior parte dos componentes vem da China, de Taiwan e da Indonésia, países que são grandes fornecedores mundiais de diversos insumos mas que atualmente enfrentam dificuldades de produção para atender a demanda mundial, devido a pandemia de covid-19.
Ariel Melo tem 23 anos e é estudante de fisioterapia. Ele conta que comprou a primeira bicicleta em janeiro de 2020, antes da pandemia ser declarada. Melo afirma que seus gastos com ônibus e transporte por aplicativo ao longo de três meses somavam a quantia necessária para comprar uma bike boa. Ele não se arrepende do investimento.
"Eu não gasto quase nada. O que gasto é revisão, ajeitar alguma coisa. Mas isso é porque eu uso muito também. Não sinto falta de andar de carro e acho também que com um tempo mais gente vai aderir a isso. Os gastos são muito menores, nem dá pra comparar. Com o tempo vai ser melhor porque vai ter mais gente e aí a cidade vai ter que se adaptar, ter mais estrutura. De ciclovia que eu digo. Acho que é um mercado que só vai crescer daqui pra frente", diz.
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