Mães de crianças autistas sentem no bolso os reajustes de planos de saúde

Em um dos casos, a responsável diz que demora três meses para pagar cada mensalidade

Elisa Vaz

Famílias de pacientes que precisam de algum tipo de acompanhamento específico têm sofrido com os aumentos nas mensalidades de planos de saúde. Uma reportagem do UOL mostrou que as altas no país podem chegar a 79% com o reajuste anual – mães afirmaram que a média passou de R$ 385,67 para R$ 689,65 para seus filhos, de idades entre cinco e sete anos. No Pará, os reajustes não chegam a tanto, mas, mesmo assim, têm pesado no orçamento pessoal ou familiar das responsáveis.

Uma delas é a assistente social Laura Lima, de 40 anos. Ela é mãe de Enzo, que é autista, epilético e tem ansiedade e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Segundo ela, o preço do plano de saúde que atende a criança, hoje com oito anos, tem subido bastante. Neste ano o reajuste ainda não ocorreu, mas se ficar com um percentual próximo ao nacional, Laura adianta que será muito difícil.

“Há mais ou menos um ano eu venho pagando sempre com dificuldades as mensalidades, porque vêm aumentando todo ano em média 13%. Eu sempre fico devendo três meses, ou seja, ando pagando atrasado o plano e nem sei como será caso aumente”, relata. Uma alternativa para economizar e organizar o orçamento seria o atendimento público, mas Laura acha que a qualidade não é boa. “Infelizmente, na rede pública o atendimento ainda é precário, com fluxo muito grande e filas de espera pelo Estado. No município só tem pelo Caps [Centro de Atenção Psicossocial] e lá não tem terapeuta especialista. Faz muita falta”.

Outra dificuldade é que, muitas vezes, as consultas precisam ser feitas de maneira particular. O processo da descoberta das necessidades especiais de Enzo começou quando o pequeno tinha apenas um ano e oito meses; a mãe passou a ir atrás de especialistas em busca do diagnóstico. Embora o filho fosse paciente de um plano de saúde desde que nasceu, na maioria das vezes, Laura pagou especialistas particulares. Mesmo assim, o diagnóstico só veio quando Enzo tinha seis anos, por meio de atendimento particular com uma neuropsicóloga. “Paguei e não fui reembolsada. Hoje o meu filho tem oito anos”, lembra. Os valores foram os seguintes: R$ 1.900 a avaliação neuropsicológica; R$ 400 cada consulta com a neuropediatra; R$ 200 reais cada sessão de psicologia comportamental; e R$ 200 reais cada sessão com fonoaudióloga.

O plano também não cobria a Applied Behavior Analysis (ABA), terapia chamada, em português, de Análise do Comportamento Aplicada, essencial para o desenvolvimento da criança. Mas hoje a mãe tem uma liminar na Justiça. Enzo ainda faz, pelo plano de saúde, o método Therasuit, desenvolvido para auxiliar no tratamento de doenças neurológicas.

Consultora farmacêutica, Priscila Diniz Pinheiro, de 36 anos, é outra mãe que depende do plano de saúde para o tratamento dos filhos: Davi, de 11 anos, tem autismo, e Ana Luiza, de sete, é autista e tem paralisia cerebral, sequela de uma negligência médica. Geralmente, os planos de saúde das crianças têm uma alta anual de 7% - na única vez que subiu mais que isso, Priscila denunciou à Agência Nacional de Saúde (ANS) e conseguiu manter o preço normal.

“Nesse ano ainda não passei por uma alta tão drástica, mas já ouvi relatos de terceiros que tiveram acréscimo de 74%. Essas pessoas precisam denunciar à ANS, é a reguladora. Existem regras para percentuais e os planos devem seguir. Certamente, se houver um reajuste muito grande, vai pesar no orçamento, porque as contas sobem, mas o salário não. Por isso existe uma norma de acréscimo, porque nunca vamos deixar de pagar. Tem gente que deixa de se alimentar, mas não de pagar o plano. De alguma forma vamos continuar pagando”, comenta.

Uma dificuldade que Priscila tem com o plano de saúde é quanto a cirurgias. A filha, de sete anos, precisou passar por um procedimento que não estava no rol da ANS, mas foi necessário para garantir qualidade de vida à pequena. “O plano negou, entramos na Justiça, foi dado o direito e o plano arcou. Agora ela precisa fazer uma cirurgia no quadril, que está com desgaste, e o plano negou novamente. Estamos entrando com demanda judicial porque o procedimento consta no rol da ANS e mesmo assim eles negaram”.

A importância de ter um plano de saúde, na opinião da mãe, é garantir o serviço aos filhos, que são pacientes recorrentes e que precisam de tratamentos intensivos, com atendimento até diário, dependendo do caso e do momento. No Sistema Único de Saúde (SUS), Priscila diz que há uma sobrecarga em que, muitas vezes, as demandas não conseguem ser atendidas. Mesmo nos casos em que a família chega ao início da fila “gigantesca”, nas palavras dela, se deparam com atendimentos que não são constantes e nem intensivos. Como muitas famílias não têm entendimento para garantir seus direitos por meio do plano de saúde ou mesmo condições financeiras para pagar este serviço, a consultora acredita que é importante auxiliar mães e pais para garantirem atendimentos aos filhos de alguma forma. Os filhos da consultora fazem terapia com cannabis.

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