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Inflação faz demanda aumentar em restaurante popular de Belém

Iniciativa que vende almoço por R$ 2 em Belém viu crescimento de 25% dos consumidores 

Eduardo Laviano

Os níveis de insegurança alimentar no Brasil aumentaram a demanda em restaurantes populares, que oferecem refeições a preços acessíveis para um público fiel e que enxerga no serviço uma oportunidade de manter uma dieta balanceada, fixa e sem gastar muito.

Em Belém, o restaurante popular mantido pela prefeitura servia 900 refeições até o ano passado. Agora, aumentou para 1.200. Com apenas R$2, é possível se alimentar com arroz, feijão, saladas, frutas e proteínas que variam entre carne, frango e peixe.

80% do público acaba comprando duas refeições: almoçam uma no local e guardam a outra em vasilhas, para a janta.

Na opinião da aposentada Catarina Imar, todo dia a comida está uma delícia. Ela almoçou um guisadinho na sexta-feira (15) e diz que frequenta o local há anos e nunca se decepciona.

"O serviço é muito bom. A gente virou uma família aqui. Quando se encontra na rua, um fala com o outro. Ajuda muito a economizar. Está tudo tão caro. Eu almoço aqui e ainda levo pra jantar. E sinto falta quando não venho. Todo dia estou aqui", conta ela.

A costureira Lepron Cardoso gosta de se referir ao estabelecimento como "meu restaurante". Ela mora na rua Aristides Lobo, onde o restaurante fica localizado, e também está lá quase todo dia.

"Só tenho que agradecer. Às vezes tenho condições de fazer almoço em casa, mas às vezes quando tenho exames e coisas para resolver, prefiro vir aqui. Agradeço a Deus todos os dias porque muita gente aqui precisa. Já pensou um almoço com uma fruta por R$2? Essa semana minha nutricionista me perguntou da minha alimentação e eu falei que almoço aqui. Ela me elogiou, disse para eu vir sempre porque a comida é balanceada e saudável", diz.

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Iniciativas como essa ganham força em um momento de forte inflação nos alimentos, que elevaram o custo médio de almoçar fora em Belém para R$41,04, acima da média nacional de R$40,64, segundo pesquisa do Programa de Alimentação do Trabalhador. 

Em Belém, o aumento foi de 23% em relação à última pesquisa, realizada em 2019, período pré-pandemia. No Brasil, o aumento foi de 17,4%.

“Mesmo com aumentos pontuais, os restaurantes estão se adaptando à nova realidade de mercado trazida pela pandemia de covid-19 e evitando repassar o aumento dos custos aos trabalhadores. Não fosse o benefício-refeição, o trabalhador gastaria um terço do seu salário com o almoço fora de casa. A evolução dos preços dos alimentos reforça a importância do benefício-refeição para que o trabalhador brasileiro tenha acesso a refeições de qualidade, nutritivas e equilibradas”, afirma Jessica Srour, diretora-executiva da Associação Brasileira das Empresas de Benefícios ao Trabalhador.

Na opinião de Alfredo Beijer, fiscal responsável pelo restaurante em Belém, o serviço já está consolidado, especialmente por conta do subsídio da prefeitura, atualmente de R$4,28 por refeição.

Ele relata que a procura aumentou muito por conta da pandemia de covid-19 e que mesmo durante os lockdowns dos anos de 2020 e 2021, o serviço não parou.

"A procura nunca diminuiu. É um público que precisa de acolhimento, desde idosos ou deficientes até trabalhadores informais que atuam ao redor, no comércio. A gente dá o máximo de cuidado que a gente pode. A gente facilita e tenta fazer o melhor", afirma ele.

Matheus Souza, o nutricionista responsável pelos pratos servidos no restaurante, conta que o serviço, que vai de 11h até às 14h, é bastante elogiado. Ele se sente orgulhoso de fazer parte de uma política inclusiva de alimentação.

"Nós pegamos as proteínas e fazemos as mais variadas preparações com eles. Já fizemos escondidinho, por exemplo. Em épocas festivas, como o Círio, já teve frango no tucupi com jambu. O pessoal adorou. A gente sempre tenta adaptar o cardápio para agradar. De uns oito meses para cá eles tem elogiado bastante e falado que estão felizes do valor não ter aumentado, diante de tantos aumentos", diz. 

O autônomo Luiz Melo lembra que já convidou vários amigos para comer no restaurante e que todos aprovaram a comida servida. Segundo ele, o serviço é importante e merecia ser ampliado para outros bairros.

"O país do jeito que está, é claro que a fila sempre vai estar grande. O tempo de espera não é longo, mas isso mostra que tem demanda. Seria ótimo se tivéssemos em outros bairros. É uma refeição boa, confiável, barata. Já me salvou muitas vezes", destaca.

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