Inflação e desemprego fazem salários caírem, aponta CNC

O salário médio real de admissão no país no mercado formal foi de R$ 1.792,07 em agosto – o menor valor dos últimos 12 meses

Elisa Vaz / O Liberal
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A alta taxa de desemprego e a disparada da inflação, resultados da crise econômica provocada pela pandemia da covid-19 no Brasil, tiveram impacto direto na remuneração dos trabalhadores formais e informais. Um levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), com base nos dados do Caged, do Ministério da Economia, mostra que, das 100 ocupações com o maior número de empregados com carteira assinada, que correspondem a 72% do estoque total de postos de trabalho formais no Brasil, 59 têm remuneração de no máximo dois salários mínimos, ou R$ 2.200; e uma das profissões que mais empregam, operador de telemarketing, tem o valor de contratação mais baixo do mercado: R$ 1.144,96.

O Ministério da Economia aponta que o salário médio real de admissão no país no mercado formal foi de R$ 1.792,07 em agosto – o menor valor dos últimos 12 meses. Descontada a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), o valor representa uma queda de R$ 25 em relação a julho (R$ 1.817) e de R$ 113 na comparação com agosto do ano passado (R$ 1.905). Os especialistas afirmam que, com a disparada da inflação e o número ainda elevado de desempregados disputando uma vaga, os salários oferecidos estão cada vez mais baixos.

Na avaliação do administrador de empresas e contador Rogério Moura, este é um comportamento de mercado que reflete a chamada “lei da oferta e da demanda”. Um dos impactos da pandemia da covid-19 na economia, segundo ele, foi o alto índice de fechamento de empresas, que, por conta da crise, não conseguiram manter as portas abertas. Com isso, muitos trabalhadores perderam seus empregos e ficaram sem renda, e agora há um excesso de pessoas desempregadas em busca de remuneração.

“O mercado tem uma demanda muito grande de trabalhadores desempregados, enquanto a oferta de empregos acaba sendo reduzida porque as empresas ainda estão se recuperando do cenário da pandemia. O fato, então, é que tenho muitos desempregados e pouca oferta de trabalho – automaticamente, caímos na lei da oferta e da demanda, ou procura. Se tem muita gente procurando emprego, eu, enquanto empresa, estabeleço o valor que quero pagar para contratar aquele empregado. E aí hoje as empresas conseguem contratar uma pessoa que antes ganhava R$ 4 mil e acaba se sujeitando a outro cargo porque quer ficar empregada e suprir os seus gastos básicos”, explica o administrador.

Para Rogério, esse desequilíbrio afeta, principalmente, o poder de compra do trabalhador, que fica menor já que a inflação aumenta, mas os salários não acompanham o reajuste. O especialista lembra que, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o salário mínimo ideal para o trabalhador brasileiro seria na casa dos R$ 5 mil, mas a pesquisa mostra que a maioria fica perto dos R$ 2 mil, o que representa um déficit de R$ 3 mil. Com isso, ele diz que as pessoas precisam buscar outra fonte de renda para suprir suas necessidades e podem até ficar inadimplentes, outro problema da economia.

“É uma bola de neve, que faz com que o próprio país fique em uma situação complicada, porque vários trabalhadores estão ganhando um salário baixo, não pagam suas despesas, viram devedores, isso prejudica também as empresas, que estão deixando de receber e ficam, elas mesmas, inadimplentes, perdem trabalhadores porque não têm arrecadação para pagar os salários e esses trabalhadores ficam sem emprego. Ou seja, é uma cadeia sucessória que se cria quando não há poder aquisitivo no mercado”, enfatiza Rogério.

Transformar este cenário, no entanto, não depende apenas de as empresas aumentarem os salários pagos aos trabalhadores. Isso porque elas próprias têm muitos gastos para manter um funcionário contratado, segundo o especialista. Ele diz que, no modelo em vigor hoje no Brasil, uma organização gasta, em média, o dobro do salário de um funcionário. Além da remuneração paga ao colaborador, ainda há outras despesas com o Fisco Federal, explica.

“É desumano para as empresas, para o empregador e para o empregado. Se hoje um empregador contrata uma pessoa com um salário mínimo, gasta o dobro do valor, com contribuição patronal e outros recolhimentos de tributos, sem contar os direitos trabalhistas como Fundo de Garantia de Tempo de Serviço (FGTS), décimo terceiro salário, gratificações, férias e outros, tudo isso é computado para que esse trabalhador possa ser mantido na empresa. Mas a culpa também não é do trabalhador, é do modelo que temos no Brasil. Se essas arrecadações feitas em cima da folha de pagamento ficassem todos com o trabalhador seria positivo, porque iria incrementar valores no mercado e fazer com que o poder aquisitivo do empregado crescesse, isso geraria um incremento na economia. É esse modelo que precisamos mudar para dar mais liberdade para que aquela empresa possa contratar alguém e não pague o dobro do valor, isso até aumentaria número de empregados, porque o empregador não teria gastos tão exorbitantes com cada um”, opina Rogério.

Para quem não tem a intenção de aceitar cargos abaixo de sua competência no mercado de trabalho, o administrador indica a qualificação. Na avaliação do especialista, as pessoas mais qualificadas, que estão em educação continuada, em treinamentos, fazendo cursos e especializações terão mais força no currículo, mais equilíbrio diante de um mercado que procura pessoas capacitadas e um salário que vai ser compatível com o conhecimento que adquiriu durante a vida. Além disso, ele orienta que os trabalhadores acompanhem as mudanças e transformações dentro das profissões.

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