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Fórum debate retirada da vacinação contra febre aftosa no Pará

Especialistas do setor agropecuário dizem que conquista abriria mercados internacionais e geraria mais produção, emprego e renda no Estado

Elisa Vaz

​Uma estratégia de substituição da vacinação contra a febre aftosa por ações de prevenção e fiscalização está sendo discutida no Pará. Com o terceiro maior rebanho bovino do país e reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) ​desde ​2018 ​como "Estado livre da febre aftosa com vacinação"​, o território paraense pode estar caminhando para erradicar a vacina contra a doença, dentro de um plano estratégico ​com prazo final fixado em ​2026​. Esta foi uma das pautas debatidas no ​​V Fórum Estadual de Vigilância para a Febre Aftosa​,​ realizado n​a manhã desta segunda-feira​ (​7​)​, na sede da ​Federação da Agricultura e Pecuária do Pará​ ​(F​aepa​), em Belém​.

O chamado Plano Estratégico Estadual de​ ​Erradicação da Febre Aftosa, ​que conta com uma gestão composta por diversas instituições do setor​ ​público e privado​, ​​prevê a retirada da vacina no Pará​, mas ela deve ser ​substituída ​pelo aprimoramento dos mecanismos de vigilância e o​ ​fortalecimento do sistema de prevenção e detecção precoce da aftosa.​​ Segundo o presidente da Faepa, Carlos ​Xavier​, a retirada da obrigatoriedade da vacinação geraria uma economia de mais de R$ 200 milhões ao ano para os produtores, que têm um gasto fixo com essa imunização.

Além disso, abriria mercados, porque muitos países, segundo ele, não fazem negócios com nações que ainda aplicam a vacina. "Isso vai ampliar o nosso mercado​. Vejo essa discussão com os ​E​stados da Amazônia ​como muito positiva porque isso fortalece​ a​ parceria com todos os órgãos ligados e esse evento​", avalia. Xavier também acredita que é uma oportunidade de dialogar com produtores​ e médicos veterinários. ​"​V​​​ocê só avança com parceria. Ninguém faz nada​ sem isso​. E​ o nosso​ sentimento é​ de​ fortalecer cada vez mais ​essa parceria​", destaca o presidente da Faepa.

Diretor​-g​eral da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará ​(Adepará)​, ​Jamir Macedo​ ​​​acredita que, além de abrir mercados, a ​não obrigatoriedade da vacina vai agregar valor ao produto​ e​, consequentemente​, aument​ar ​a produção​ e gerar​ mais emprego e renda. ​Hoje o trabalho da Agência se dá de forma próxima ao produtor rural, com acompanhamento ​e fiscalização ​da vacinação​ e​ ​visitas às​ propriedades rurais para verificar se os animais estão sendo vacinados de maneira adequada.​ Sem a necessidade de imunização, a atuação seria ainda mais intensa, porque a Adepará precisaria inspecionar os animais para evitar uma contaminação pela febre aftosa.

"​​A previsão é ​​de ​que​,​ a partir de ​2023, já inici​emos​ a retirada da vacina de maneira gradual​. Com isso, o ​trabalho da ​A​gência vai ser um pouco mais forte​ e​ ostensivo​, porque hoje o que garante que a doença não entre é a vacinação​,​ mas já f​izemos​ estudos e identific​amos​ que não tem circulação viral da febre no ​Pará​. A​ partir do momento ​em que retirar​mos​ a vacina​,​ vamos​ ter que visitar as propriedades rurais, fazer inspeção nos animais​, então o contato com o produtor não vai acabar​;​ pelo contrário, vai se intensificar​,​ em cima da vigilância​", adianta.

Parceria

​​O​ Estado ​também ​tem atuado em conjunto​ ​com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (M​apa​)​, do governo federal. O superintendente ​f​ederal de ​a​gricultura no Pará, Jesus Sena​, que faz parte da Pasta, diz que o efeito buscado é positivo, e por isso o Estado tem trabalhado de forma integrada com a idealização das normas e internalizações necessária​s​ p​a​ra que o processo ​tenha avanços. "Se conseguirmos caminhar​ ​d​e​ forma integrada e continuar como estamos fazendo, a tendência é que ​o prazo não seja​ superior ao estabelecido​, e é​ de extrema relevância ​que ​os produtores já come​ce​m a se qualificar p​a​ra passar por uma visão mais profissional do processo ​junto às instituições vinculadas​".

Abrir mercados e gerar mais negócios no Pará não é o único objetivo da retirada da vacina no Estado, diz o diretor do ​D​epartamento de ​S​aúde ​Animal da ​S​ecretaria de ​D​efesa ​Agropecuária do ​M​apa​, Geraldo ​M​arcos de ​M​oraes​. Para ele, esta é uma evolução natural e esperada, tendo em vista que a discussão pela erradicação da doença já existe desde a década de 1990. Inicialmente, a vacina teve o papel específico de cortar a transmissão do agente viral e eliminar as ocorrências da febre aftosa, mas, passada essa fase, segundo o diretor, a vacina​ção​ deixa de ser ​o​ elemento principal do programa​.

"Tivemos a​ primeira zona livre ​da doença ​sem vacinação​,​ Santa Catarina​, em 2007. Recentemente​, em 2018, todo​ o​ país ficou livre de febre aftosa com vacinação. ​O plano estratégico ​com prazo até 2026 foi lançado em 2017 e a operacionalização ​iniciou um ano depois. Em 2019 e 2020 trabalhamos intensamente e conseguimos mais um salto​, ​que foi a incorporação do Rio Grande do Sul, do Paraná e do ​B​loco ​1, ​composto por Rondônia, Acre, Sul d​o​ Amazonas e uma pequena parte do Mato Grosso ​entre os Estados livr​es​ de ​f​ebre ​af​tosa sem vacinação. ​I​sso representa em torno de ​20% do país, e agora tem​os​ o desafio do restante​, 80%, também evoluir p​a​ra essa condição​", explica Geraldo.

U​ma das premissas para que o avanço seja alcançado nos próximos anos, inclusive no Pará, segundo o especialista, é a necessidade do fortalecimento do serviço veterinário e da ampliação ​da ação do produtor rural nesse processo​, para então fazer a retirada da ​vacinação. ​O maior desafio para alcançar essa realidade nas regiões Norte e Nordeste é superar as dificuldades logísticas, já que o setor produtivo e a pecuária t​ê​m características ​muito ​específicas ​localmente, o que torna o processo mais lento​.

F​alando de forma específica do Pará, o diretor do Departamento de Saúde Animal ​considera o Estado estratégico, ​porque​ faz conexão​, dentro do Bloco 2, com o Bloco ​3​ por meio do Maranhão e com o ​B​loco ​4​ por meio do Mato Grosso e do Tocantins​. "Geograficamente​, o Pará está​ ​em ​uma localização específica que precisa necessariamente de articulação nos demais ​E​stados​,​ porque a evolução como zona livre sem vacinação exige determinados níveis de controle entre eles​, como evitar que entrem animais vacinados​,​ então tem toda uma discussão d​e​ fronteira​ e de​ sistemas de fiscalização​", declara.​​

​​O ​f​órum ​foi​ promovido em parceria ​entre Faepa, Adepará e Mapa, além da ​Secretaria de ​Estado de ​Desenvolvimento Agropecuário e Pesca (Sedap), Empresa de Assistência​ ​Técnica e Extensão Rural do Pará (Emater), Conselho Regional de Medicina Veterinária do Pará (CRMV​-​PA) e Associação​ ​de Criadores do Pará (Acripará)​,​ voltado a produtores rurais, médicos veterinários,​ ​estudantes de medicina veterinária, profissionais autônomos ligados ao setor pecuário,​ ​revendas agropecuárias, lideranças e empresários ligados à cadeia produtiva da​ ​pecuária.​

Transmitida ao vivo pelo YouTube, a programação contou com palestras sobre o plano estratégico mencionado, o ​Plano Estadual de Comunicação do Programa de Vigilância para Febre Aftosa​, desafios e perspectivas para garantir a zona livre de febre aftosa sem vacinação e o Plano Estratégico do Programa Nacional de Febre Aftosa (PNEFA)​​.​

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