Empreendedores abusam da criatividade para conquistar clientes em Belém

Vendedores de todos os tipos de produtos apostam no bom humor, memes e gentileza

Eduardo Laviano / O Liberal

A criatividade sempre foi um ativo importante para qualquer empreendimento. É a partir dela que estratégias de vendas são desenvolvidas com o objetivo de que os produtos chamem a atenção para turbinar os faturamentos. E mas em tempos de recessão econômica, não é todo mundo que pode pagar por redatores e diretores de arte de agências publicitárias que monetizam a criatividade. Mas isso não é problema algum para alguns empreendedores paraenses.

Branca Sousa é dona de uma loja de brinquedos sexuais e escolheu uma maneira inusitada de vender os produtos: gravar vídeos bem humorados explicando o funcionamento deles. 

Tudo começou com algumas compras pessoais que Branca admite terem excedido a necessidade dela no momento. Ela começou a vender para alguns amigos da faculdade e a notícia foi se espalhando. Hoje, o sex shop virou a principal fonte de renda dela, com ganhos que chegam a nove mil reais nos meses mais prósperos. Mas ela diz que não se acha engraçada. 

"As pessoas me falam que morrem de rir. Mas, sinceramente, acho que falo de maneira natural. Não sei que graça veem. É o meu normal. Me sinto como uma professora explicando. Me formei no início da pandemia e aí não tinha o que fazer mesmo. Como eu tinha muito produto em casa, comecei a postar no Instagram. Eu ainda dou aula, pois ser professora sempre foi meu sonho, mas virou um plano B", afirma ela, que tem 23 anos e é graduada em licenciatura em química. 

O sucesso dos vídeos no Instagram e no TikTok fez até a empresária pensar em abrir uma loja maior, já que o negócio funciona na casa dela no bairro do Atalaia, em Ananindeua. Mas ela conta que a discrição é fundamental para a maioria dos clientes. "A maior parte das compras é feita pela internet. E quando compram pessoalmente eu entrego tudo disfarçado de suplemento alimentar", confessa ela, que possui um catálogo com mais de 100 páginas de opções de vibradores, lingeries e óleos.

Personagens empreendedores

Robson Sacolé ganhou esse apelido vendendo chopp de frutas na avenida Arterial 18, em Ananindeua. Ao longo da pandemia de covid-19, os vídeos e fotos dele se espalharam pela internet sempre levando bom humor para os clientes, mas com um diferencial: ele estava sempre fantasiado de maneira inusitada. Seja como o Quico, do seriado Chaves, como o Chapolin Colorado, Robson sempre levava alto astral para os consumidores e transeuntes. 

Ele, porém, deu uma pausa na profissão. "Eu era uma pessoa muito criativa e buscava sempre oferecer o melhor. Os clientes reconheciam, em plena rua, que é um local muito castigado e que sofre preconceito. Eu tenho família e filho pequeno e precisava ir para rua. Era difícil. Mas foi uma experiência muito enriquecedora. No semáforo a gente vive a realidade. A realidade da rua, das críticas, da convivência de quem trabalha no semáfora, entre pessoas boas e pessoas que prejudicam a imagem dos vendedores de rua", diz ele, que atualmente trabalha como entregador e tem investido em um canal no Youtube que leva o nome dele. 

Cartaz diferente chama a atenção

A inflação pegou em cheio todos os produtos do cotidiano do brasileiro e sobrou até para as paçocas vendidas nos semáforos de Belém. Uma única unidade pode chegar a custar R$ 5 na avenida Duque de Caxias.

Mas, calma: o preço é fictício e faz parte de uma estratégia do vendedor Matheus Vinicius, que passa as manhãs buscando sorrisos dos compradores e oferece em troca um desconto de 80% na paçoca.

"Anuncio por cinco reais, mas com um sorriso fica um real. A gente precisa se destacar no meio de tantas coisas iguais, né?", conta. Ele estava trabalhando como recepcionista em um salão de beleza antes de embarcar na nova empreitada, que se iniciou no dia 6 de janeiro. Das 8h às 12h, Matheus tem foco total nas vendas de paçocas, que, segundo ele, é um degrau para sonhos futuros.

"Estou arrecadando dinheiro para até o final do ano entrar no ramo da internet, para mexer com Youtube, Instagram, Facebook", afirma ele, que quer ser criador de conteúdo. Matheus considera a estratégia bem-sucedida: em um bom dia, consegue vender até R$ 100 de paçoca - ele conta que o movimento sobe no início do mês, quando a maioria dos trabalhadores recebe o salário, mas que cai por volta do dia 15 até o dia 26. "É quando o pessoal tá liso, mas é assim mesmo", diz.

O vendedor de paçocas e sorrisos conta que a ideia não é dele, e sim que viu na internet um trabalhador em São Paulo utilizar esta "ação de marketing" para já quebrar o gelo com os possíveis clientes.

"No ônibus alguns clientes ficam retraídos. Às vezes os clientes não querem ouvir historias de lamentação, tem gente que já chega matando o pai e a mãe nas histórias que contam. Queria fazer diferente. Parece uma atitude pequena mas foi uma forma que encontrei para fazer o dia das pessoas um pouco melhor", afirma.

Moda improvável

Ser um empreendedor bem sucedido também requer que os negócios estejam antenados nas tendências de mercado. Quando a participante Jade Picon do Big Brother Brasil viralizou na web com o umbigo tampado por uma fita crepe, outra coisa chamou a atenção: o biquíni de crochê florido utilizado pela influenciadora. Mas a costureira Roselene Tourinho não esperava que esse biquíni fosse mudar a vida dela. 

image Roselene Tourinho dez réplica de biquíni de sister do BBB 22 (Cristino Martins / O Liberal)

Ela costurou uma réplica para uma cliente e levou para expor em um manequim em mais um domingo normal na praça da República, onde ela trabalha. Uma foto foi tirada e em poucas horas mais de 300 mil pessoas curtiram e compartilharam o biquíni no Twitter. O que era para ser um meme virou dinheiro. 

"Quando foi na segunda-feira minha vida mudou. Acordei uma outra pessoa, mesmo sem saber de nada. Tem cinco anos que eu não entrava no Facebook, nunca tive Instagram nem Twitter. só usava grupo do whats app. eu nem sei explicar o que é isso, foge do meu entendimento. para mim, só fiz um biquíni. Não sou de acompanhar a internet. Sempre vendo minhas peças na praça e nos grupos de croché que participo no Whats App", conta ela, ainda assustada mas vendo a situação com muito bom humor. Acontece que em pouco tempo 20 pessoas pediram que ela fizesse o biquíni. "Mas não é bem assim. Crochê é uma técnica lenta e muito precisa. Então de início aceitei só 5. Estou trabalhando igual uma doida", ri. 

O crochê é a única fonte de renda de Roselene, que afirma que entre os meses de fevereiro e abril o faturamento é mais baixo, mas que os negócios começam a esquentar a partir de maio até o mês de janeiro. "Veio em boa hora. Costumo dizer que de crochê só não sei fazer marido", brinca. 

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