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Economia criativa gera oportunidades de renda no Pará

O setor deve gerar 1 milhão de empregos até 2030, no Brasil.

Enize Vidigal
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A economia criativa vem possibilitando alternativas de trabalho e renda para cada vez mais pessoas, inclusive no Pará. Para o professor e pesquisador André Cutrim Carvalho, Doutor em Desenvolvimento Econômico e Pós-Doutor em Economia, esse modelo tem potencial imenso de agregação de valor no estado devido aos conhecimentos tradicionais e culturais que permeiam o artesanato, a gastronomia, o turismo e outras áreas, criando identidade própria. A expectativa de crescimento vai além da futura sede da COP 30, em 2025. Pesquisa do Observatório Nacional da Indústria (ONI), da Confederação Nacional da Indústria (CNI), aponta que a economia criativa vai gerar 1 milhão de empregos no Brasil até 2030.

A economia criativa é formada por atividades, produtos e serviços desenvolvidos a partir do conhecimento, criatividade ou capital intelectual de indivíduos para a geração de trabalho e renda. O crescimento dessa economia no Pará, segundo Cutrim, se explica pela redução gradual da “subvalorização” dessa modalidade com o direcionamento de políticas públicas de Estado e a participação de instituições, que possibilitaram, inclusive, a inserção de minorias, como periferias, negros, indígenas, mulheres. “Ainda temos um caminho longo a percorrer. Belém é um caldeirão com extremo potencial para a economia criativa. É uma metrópole da Amazônia preocupada em ser mais progressista. É preciso criar um ambiente para a economia criativa com pressupostos básicos de sustentabilidade, criar mecanismos de valorização cultural, de atenção às questões ambientais”.

“A economia criativa e a cultura funcionam como importante motor do crescimento na economia formal e informal, pois gera emprego de carteira assinada e impostos, movimenta o PIB (Produto Interno Bruto), mas também, no campo informal, gera alternativa de renda para consumir. Tem oportunidade de ganhos econômicos para todos os lados, distribui renda, promove a mobilidade social, é bom para o estado e principalmente para o mercado”.

O segmento emprega 7,4 milhões de trabalhadores no país, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) alusiva ao 4º trimestre de 2022. A participação no PIB nacional é 3,11%.

image Professor e pesquisador André Cutrim. (Carmem Helena)

 

A vida melhorando

A moradora do bairro do Bengui, em Belém, Terezinha Oliva, de 52 anos, é qualificada em técnica de enfermagem, mas ficou sem vaga no mercado de trabalho e começou a empreender. “Dez anos desempregada, só fazia bico de assistente de cozinha e limpeza. Com a pandemia tive que trabalhar em casa, cozinhar para fazer entregas”, recorda. Hoje, a rotina dela é participar de feiras e atender encomendas com a culinária de comidas típicas e o artesanato de biojoias de cerâmica, desde 2021. Inclusive, várias pessoas da família dela se envolvem nas atividades, multiplicando a oportunidade de renda.

Sob o nome fantasia de “Tetê Art’s e Sabores”, ela transporta fogão, geladeira e utensílios para onde quiser no pequeno caminhão do esposo. Na Prefeitura de Belém, ela conseguiu parte dessa estrutura com o crédito solidário, além da oportunidade de participar de feiras organizadas pela gestão, como no arraial Junino. Já no ramo de artesanato, ela integra o Coletivo de Mulheres Mãos de Marias Belém, que funciona na República de Emaús, onde as artesãs aprenderam o ofício. Juntas, elas produzem em maior escala para atender encomendas. “Estamos nos preparando para o Círio, fazendo colares, pulseiras, brincos, imagens de santa, terços, capelas e utilitários, como porta-copo e porta-guardanapo. Mas também produzo no meu ateliê em casa”.

“Já consigo ajudar as minhas filhas e sobrinhos pagando diárias. Quando vou para evento grande, como o Arraial Junino, que tem dez dias de festa, exige estrutura e trabalho grandes. A gente tem que ter esse elo, se fortalecer, não caminhar só, a gente tem que se ajudar. Já cheguei a envolver de oito a dez pessoas”, conta a artesã.

Inclusão e valorização

image Feira Indígena de Economia Criativa, em Altamira. (Jaime Souzza)

Em Altamira, na região do Xingu, o Festival Canção da Transamazônica (Fecant) movimenta a economia local, fomentando a cadeia criativa dos compositores, do empreendedorismo e do turismo a cada edição. Em 2022, o festival organizou a Feira Indígena de Economia Criativa, que funcionou durante o evento com a participação de representantes de nove etnias da região, na venda de bijuterias, cestarias, pinturas e cerâmicas.

Na 9ª edição, que será em novembro, a feira indígena estará de volta, dessa vez com o reforço de mulheres empreendedoras. “É um evento de grande porte, com os shows gratuitos que atraem grande público. Convidamos as pessoas para exporem os seus negócios e fomentar essas vendas. Este ano, teremos 15 estandes para três dias de evento, fora a praça de alimentação com três empreendedores”, conta a cantora e coordenadora Joelma Klaudia.

Em Belém, o Projeto Circular estimula a circulação de pessoas no centro histórico, movimentando cerca de 3.500 pessoas. Em média, 40 empreendimentos participam oferecendo programações culturais, gastronomia, moda, artesanato e decoração, entre outros. A circulação impulsionada pelo evento, que prepara a 47ª edição para outubro, costuma triplicar o número de prestadores de serviço nesses espaços e ampliar o faturamento de 30 a 40%, dependendo da edição e da programação de cada espaço, conforme explica a coordenadora Adelaide Oliveira.

“O projeto tem impacto real, atrai novos negócios, envolve os moradores e ajuda a preservar e a valorizar o centro histórico. Os governos poderiam garantir a infraestrutura básica; pensar alternativas como IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) para pequenos negócios; regime tributário diferenciado para a economia criativa; microcrédito diferenciado; facilitar acesso à informação e cursos para estimular os empreendimentos existentes e os novos”, defende.

image Atração do Projeto Circular (Divulgação)

Já a ONG Arte pela Vida, que atende pessoas com HIV e Aids, promove desde 2018 a Feira do Empreendedorismo LGBTQIA+ - atual Feira da Diversidade – em Belém. O projeto já teve 14 edições no hall do Centur, chegando a 360 expositores diversos, como de moda, gastronomia e artesanato, além das atrações culturais. ”. A 15ª edição será em dezembro.

O coordenador Davidson Porteglio, conta que, além da feira, a ONG estimula a economia criativa com a promoção de oficinas ao público atendido. “Essas pessoas estão fora do mercado formal, mas são excelentes profissionais e precisam mostrar e vender. Entretanto, ele avalia que ainda faltam incentivos governamentais e do setor privado. “Graças a Deus, temos o apoio da Secult (Secretaria de Estado de Cultura), da Fundação Cultural do Pará (FCP), da Prefeitura de Belém, pois nosso evento é grande. Sem não, a gente não conseguiria realizar”. Ele acrescenta a dificuldade de acesso a financiamentos e capacitação. “As empresas privadas deveriam atentar e investir na economia criativa. É um nicho que cresce e muda no mundo atual”.

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