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Crônica: Aposentado aos 33

Agüero nunca mais vai saber o que é trabalhar o dia inteiro e depois tomar uma gelada com os amigos no bar

Eduardo Laviano

O capitalismo deixa a gente tão preocupado com dinheiro 24 horas por dia que quando li que o Agüero, futebolista argentino, iria se aposentar aos 33 anos, por conta de problemas cardíacos, meu primeiro pensamento foi: “Que sortudo!”.

Não me levem a mal: saúde é tudo. Mas, no Brasil, qualquer outro membro da classe trabalhadora precisa do dobro da idade para receber um descanso remunerado de, em média, R$1.197.

Com 33 anos, a maioria das pessoas está começando a ganhar prestígio profissional – no futebol, já é o início da despedida. Com 33 anos, muitos começam a achar que ser solteiro não é tão legal assim.

Não por estarem sozinhos e carentes, mas porque eventualmente eles vão precisar somar a renda mensal com a de outra pessoa, tudo em nome do aluguel de um apartamento de 60m2 que não seja tão longe do trabalho.

Com 33, você precisa responder que ainda não teve filhos porque ainda não é o momento, para não ter que dizer que acha que ter filhos está muito caro nessa crise toda que o país atravessa. Aguero não vai precisar se preocupar com isso.

Hoje em dia, além de trabalhar muito para se aposentar no Brasil é preciso também fazer dezenas de cálculos, tempo de contribuição, idade, pedágio, salário integral ou parcial. Agüero também pulou fora dessa cilada e com a grana que ganhou pode até pagar matemáticos para afirmarem que dois mais dois são cinco.

Por outro lado, o que era basilar no dia a dia dele agora se tornará uma memória distante. Ele nunca mais vai desfrutar da sensação de ver uma bola chutada por ele balançar a rede, que transforma o estádio num caos de barulho e alegria frações de segundo após o gol.

E nem vai saber o que é tomar um banho gostoso e se jogar na cama após 1h30 correndo atrás de uma bola. Agüero não vai mais saber o que é férias e nem aquela última semana antes de sair de férias, na qual nenhuma tarefa é urgente o suficiente que não possa ficar para o mês que vem.

Ele também nunca mais vai saber o que é trabalhar o dia inteiro após ter pegado chuva a caminho do trabalho e às 18h sair com os amigos do trampo para tomar uma gelada e resolver todos os problemas da humanidade na mesa de um bar. Tadinho. Não dá para ter tudo na vida.

Agüero foi um dos jogadores mais celebrados do tempo dele e agora inicia um novo capítulo de uma vida que parecia longe de turbulências. Com o dinheiro que juntou, vai poder investir em novos negócios, viajar com a família, dedicar-se às artes.

Ou seja, tudo o que eu gostaria de fazer mas não alcancei estabilidade suficiente para tal. E a culpa é minha: desde quando eu tinha uns oito anos a minha mãe fala que eu deveria passar em um concurso público.

Já tenho 24 e até agora ela está esperando. Mas não estou reclamando, juro. Afinal, se estabilidade não veste bem em quem tem 33 anos, imagine em quem tem 24.

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Economia
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