Comércio de segunda mão cresce em Belém

Movimento tomou força na internet e é vantajoso em vários nível, para bolso e o meio ambiente

Abílio Dantas / O Liberal
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A abertura de estabelecimentos que comercializam produtos de segunda mão, no Brasil, cresceu em 48,58% entre os primeiros semestres de 2020 e 2021, de acordo com levantamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), com base em dados da Receita Federal. O Sebrae no Pará vê o crescimento do mercado como reflexo do aumento de consciência ambiental dos consumidores, que cada vez mais se preocupam com o desenvolvimento sustentável do país, e também como um dos efeitos da crise econômica advinda da pandemia de covid-19. 

O gerente-adjunto da Agência Metropolitana do Sebrae no Pará, Leandro Santos, entende a mudança de comportamento dos consumidores como primeiro fator para explicar o novo cenário do chamado comércio de segunda mão, com destaque para as vendas pela internet, e elenca pontos importantes para quem vê no nicho uma oportunidade de renda.

“Para se estabelecer, quem quer se inserir nesse mercado, precisa antes ter informações importantes sobre esse segmento. Eu aconselho que a pessoa defina, inicialmente, qual será o seu canal de vendas, que significa delimitar por onde os produtos serão comercializados. Isso pode ser feito por site próprio, marketplace, redes sociais ou em algum ponto físico, como uma loja própria ou uma loja colaborativa”, explica o gerente, com ênfase na maior variedade de canais em espaços virtuais.

O gestor do Sebrae afirma também que a escolha do tipo de produto a ser comercializado também irá definir formas de atuação dos empreendedores. “Você pode trabalhar com produtos em geral ou escolher um nicho específico de produtos, como, por exemplo, eletrônicos e celulares. Para ajudar nessa tarefa, é possível utilizar ferramentas para saber o que os consumidores buscam e quais as suas preferências”, aconselha o representante do Sebrae.

A formação dos preços é também outro fator demarcado por Leandro Santos. Segundo ele, o preço do produto usado será obviamente menor do que o item novo. “Porém, esse não é o único fator que deve ser considerado. É necessário considerar com cautela os custos envolvidos na comercialização do produto que está dentro da sua empresa. Como os custos de logística, marketing e outros custos fixos da empresa. É importante também preparar o item para a venda, para torná-lo mais atraente ao cliente, o que pode ser feito a partir da higienização do produto, pela utilização de embalagens atrativas e de fotos que destacam a qualidade dos produtos”, aponta.

Referência de moda

Ana Rafaela Chene, 24 anos, cirurgiã dentista e graduanda em design de moda, relata que há muito tempo via revistas e outros veículos de comunicação do mundo da moda exaltando a importância dos brechós, que são lojas de artigos usados, principalmente roupas, calçados, louças, objetos de arte, bijuterias e objetos de uso doméstico. No entanto, ela demorou a conhecer os locais de Belém. “Em 2018, morei fora de Belém e conheci várias feirinhas e brechós, onde fiz muitas aquisições maravilhosas. Eu fiquei encantada pela possibilidade de poder comprar bons produtos por um preço muito baixo. Quando voltei para Belém, comecei a pesquisar os brechós que havia aqui e, depois, a mapear os meus preferidos”, lembra.

Para os profissionais e estudantes de moda, os brechós representam grande variedade para criação e experimentação de novos modelos, afirma Ana Chene. “Quem frequenta brechós acaba fugindo do óbvio das lojas de departamento e do que a maioria das pessoas está usando. Nas andanças por brechós já encontrei muito produtor de moda, muita gente que está produzindo um clip ou um filme curta-metragem e utiliza os brechós para criar os figurinos, já que há muitas opções para diferentes contextos, como referências de moda de décadas passadas e outros climas, como para locais de frio”, exemplifica.

“Já encontrei cada peça, praticamente nova, em brechó. É surreal! Já encontrei uma blusa que na loja seria quase R$ 500, e eu paguei R$ 15, porque ela tinha uma manchinha do lado de dentro, que se enrolar a manga, nem aparece. Realmente, é muito vantajoso para o cliente, para quem está empreendendo nesse meio e para o meio ambiente também, porque, ao invés de ter uma roupa que seria simplesmente descartada, ela terá serventia para outra pessoa”, conclui.

Tradição familiar

A comerciante Marlete Farache de Freitas, de 46 anos, conhecida também como Marry do Brechó, vem de uma família de “brechóeiros”, como denomina as pessoas que trabalham no ramo. De acordo com ela, aos 17 anos começou a trabalhar com a família e a fazer encontros com amigas, e “com as amigas das minhas amigas”, para trocar peças de roupas e vender os materiais comercializados pela mãe. “Assim eu comecei a ganhar algum dinheiro. Eu dava uma parte do que ganhava para a minha mãe, outra para as meninas que deixavam algumas peças. O tempo passou e eu trabalhei em outros empregos. Fui passar a ter dedicação mesmo ao brechó já aos 29 anos, quando me casei, tive meu segundo filho, e montei um local para vender em um dos cômodos da minha casa, que era o quarto do meu filho mais velho”, conta.

Para Marleche, a pandemia foi um dos fatores importantes para o aquecimento do comércio de produtos de segunda mão, já que o desemprego e a queda da renda das famílias fizeram com que aumentasse a busca por opções de consumo mais econômicas. “O dinheiro sumiu para muita gente. Mas com a qualidade e a variedade dos produtos dos brechós, além do preço mais em conta, a demanda ficou maior. A venda aumentou muito”, comemora.

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