Transporte e energia são gargalos para indústria, aponta CNI

No Pará, setor afirma que as estradas estão sobrecarregadas e hidrovias e ferrovias necessitam de mais investimentos

Daleth Oliveira
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Quase 73% das indústrias do País acreditam que o transporte é o maior gargalo que impede o avanço do setor, aponta pesquisa inédita da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada na última semana. O segundo maior obstáculo é a energia, citada por 13% dos empresários.

O levantamento mostra que quem depende das estradas do Brasil diz que o estado das rodovias é o maior problema atual no transporte de cargas, sendo a infraestrutura citada por 77% dos entrevistados. Em seguida, vêm a infraestrutura das ferrovias (34%), a falta de ampliação ou de duplicação de rodovias (10%), o custo do combustível (9%) e o acesso aos portos (9%).

Quase 40% das indústrias deixariam de usar as rodovias do Brasil se houvesse outro tipo de transporte em bom estado de estrutura. As ferrovias seriam a principal opção de escoamento da produção para 75% das empresas. Atualmente, somente 8% das indústrias transportam a produção por trilhos. Sem a opção pelas ferrovias, 99% das indústrias usam os caminhões, transporte aéreo (46%) e portuário (45%). Em seguida, aparecem a navegação de cabotagem (13%) e hidrovias (12%).

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Sobre os motivos para as mudanças, 64% disseram que seria para obter redução de custos. Outras razões apontadas foram a busca de mais agilidade e rapidez na entrega (16%); maior segurança no transporte (6%); maior capacidade de carga (5%); melhor logística (3%); menos poluente (2%); possibilidade de desafogar as rodovias (1%); e maior facilidade e proximidade dos centros de produção (1%).

Custo de logística alto

Entre os empresários entrevistados, 84% consideram o custo do transporte e da logística na indústria alto ou muito alto e 79% indicam o frete como principal custo logístico. Outros problemas relatados são o roubo de cargas (22%), a má condição dos modais (20%) e a má qualidade da frota (7%).

Energia tem transmissão sem qualidade

Quanto ao segundo gargalo mais citado, a energia elétrica, a transmissão sem qualidade foi o problema mais contabilizado na pesquisa (23%). Em seguida, vêm o alto custo de energia (17%), falta de incentivos para energia solar (17%), pouco investimento em energia renovável (16%), dificuldade em expandir as redes de transmissão (10%), pouco uso da energia eólica (7%), dependência das usinas hidrelétricas (4%), falta de concorrência no setor (3%) e uso de gás natural como forma de energia (2%).

Encomendada pela CNI, a pesquisa foi realizada pelo Instituto FSB Pesquisa. Ao todo, foram ouvidos 2,5 mil executivos de grandes e médias empresas industriais, nas 27 unidades da Federação, sendo 500 em cada região. As entrevistas foram feitas de 23 de junho a 9 de agosto. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%.

O que diz o setor

Para José Maria Mendonça, vice-presidente executivo da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa) e presidente do Conselho Temático de Infraestrutura (Coinfra/FIEPA), a pesquisa transmite a realidade paraense. “Nossa estrutura de escoamento está defasada, não aproveitamos os nossos rios com todo o potencial e pouco investimos em ferrovia. Precisamos sim melhorar nossas rodovias, mas não adianta oferecer apenas estrada, precisamos investir também em hidrovias e ferrovias. Enquanto o mundo todo diz que o meio ferroviário é o mais ecológico, a Amazônia tem fobia à modalidade”, afirma.

“Sem atenção aos outros modais, sobrecarregamos nossas rodovias e prejudicamos as estruturas das estradas com cargas excessivas. Por isso, o Brasil e o Pará precisam criar uma política de investimento em hidrovia e ferrovia, além de melhorar a rodovia, porque o ideal é trabalharmos com multimodalidade”, defende Mendonça.

O diretor executivo da Associação das Indústrias Exportadoras de Madeiras do Estado do Pará (Aimex), Deryck Martins, também concorda com os dados levantados pela CNI e diz que as hidrovias, principal modal utilizado pelo setor madeireiro, precisam ter mais atenção do poder público.

“Sabemos que as rodovias são as que mais precisam de manutenção, pois temos estradas que nem sempre têm manutenção periódica. Mas é imprescindível aumentar nossa malha hidroviária para melhorarmos o escoamento da produção paraense, além de investir também nas estruturas dos nossos portos”, conta Deryck.

Quanto ao gargalo da energia, Mendonça afirma que o problema é o encarecimento do serviço, resultado da falta de investimento em hidrelétrica com grandes lagos na Amazônia. Para ele, grandes complexos de geração de energia seria ideal para baratear os custos do paraense, além de promover também energia limpa, solar e eólica.

“Nosso custo aumentou porque o Brasil abandonou a construção de hidrelétricas com grandes lagos. Nós do Pará, temos as duas maiores hidrelétricas do País. Em Tucuruí, os 12 meses da hidrelétrica são produtivos. Já em Belo Monte, temos quatro meses improdutivos, sem geração de energia. Esse período de inatividade resulta no aumento de energia’, diz o vice-presidente da Fiepa.

Esperança

O setor tem esperança de que projetos como Ferrogrão e Pedral do Lourenço melhorem o escoamento da produção do Estado. “O projeto do Ferrogrão é muito importante. Acreditamos que ele vai regular o preço das outras ferrovias, além de gerar uma riqueza no oeste paraense. Precisamos lutar para a construção dessa ferrovia, e mais que isso, gostaríamos que os trilhos fossem estendidos à Santarém”, disse Mendonça sobre a ferrovia longitudinal projetada para ligar os estados de Mato Grosso e Pará, entre os municípios de Cuiabá e Itaituba.

Quanto ao Pedral de Lourenço, projeto que deve aumentar a navegabilidade no rio Tocantins, facilitando o escoamento de toda a produção mineral, agrícola e da pecuária sob sua área de influência com destino ao porto e terminais localizados em Vila do Conde (PA) e no baixo Amazonas, Deryck comemorou a recente autorização do Ibama para o andamento das obras.

“O Pedral é um projeto que discutimos há pelo menos 10 anos. Será muito útil para a indústria paraense, pois vai permitir uma nova rota de escoamento da produção. Mas é importante que a obra avance com responsabilidade ambiental, pois cuidados sociais e ambientais devem ser cumpridos”, finaliza o diretor executivo.

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