Aumento da produção de carne na Amazônia pode ser feito sem desmatamento, afirma estudo

Atualmente, cerca de 90% da área desmatada na região é ocupada por pastagens

Abilio Dantas
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A demanda e a produção brasileira de carne bovina devem crescer até 2,4% na próxima década, segundo projeções do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Para que os aumentos não signifiquem alta no desmatamento na região amazônica, estudo do projeto Amazônia 2030, publicado ontem, afirma que é necessário combater a grilagem de terras, recuperar pastagens degradadas e torná-las mais produtivas, ações que custariam menos para os pecuaristas do que derrubar floresta para abrir pastos novo; um total de R$270 milhões por ano, contra R$950 milhões do cenário em que há desmatamento. 

O engenheiro florestal Paulo Barreto, pesquisador associado do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), é o autor do estudo “As políticas para uma pecuária mais sustentável na Amazônia”. Após realizar uma revisão de publicações científicas sobre políticas públicas contra o desmatamento, o especialista chegou à conclusão de que é necessário rever o modelo de agropecuária atual, para que a atividade se torne mais eficiente na região. “Cerca de 90% da área desmatada na Amazônia é ocupada por pastagens”, afirma.

Paulo Barreto estima que, para que a nova demanda por carne bovina seja atendida no próximos anos sem que haja desmatamento, o setor da agropecuária na Amazônia deverá reformar entre 170 mil e 290 mil hectares de pasto degradado, por ano, até 2030, ao custo de R$ 3 mil por hectare. Os investimentos deverão ser, também por ano, entre R$ 270 milhões e R$ 873 milhões. A produtividade das pastagens, por sua vez, deve passar da faixa atual de 80 quilos por hectares para 300 quilos por hectares.

“Já existe dinheiro para isso: para produzir sem desmatar, os produtores da Amazônia Legal precisariam de um valor que pode variar entre 3% e 9,5% do crédito rural contratado para a região em 2020.  São empréstimos feitos pelos produtores rurais e que, hoje, são principalmente empregados na compra de novos animais — mas que podem ser redirecionados para a recuperação de pastagens degradadas”, aponta o pesquisador.

O engenheiro demarca ainda que, em contrapartida, a opção pelo desmatamento derrubaria entre 634 mil e 1 milhão de hectares de floresta por ano. “No custo por hectare, é um caminho mais barato do que o de recuperar pastagens: R$1,5mil por hectare, valor necessário para desmatar e plantar pasto. Mas, nesse cenário, a área afetada é maior.  Além do custo ambiental associado à derrubada da floresta, a medida tem um custo global maior:  somados todos os investimentos que seriam feitos pelos pecuaristas, o desmatamento custaria entre R$ 950 milhões e R$ 1,63 bilhão por ano”, informa.

Para modificar o modelo de produção, a pesquisa estabelece que o poder público deve induzir o uso mais produtivo das terras, desestimulando a expansão de fronteiras agrícolas especulativas e ineficientes, e deve trabalhar para fornecer os serviços e a infraestrutura que vão facilitar os investimentos nas áreas já desmatadas. “É preciso promover treinamento e assistência técnica continuados, oferecendo crédito rural focado em ganhos de produtividade e instalando infraestrutura e serviços necessários em regiões”, conclui.

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