Safra de grãos no Pará pode alcançar 6,6 milhões de toneladas em meio a desafios
Setor defende melhorias logísticas, burocráticas e rentabilidade de culturas menos priorizadas
A previsão de grãos no estado do Pará pode alcançar 6,597 milhões de toneladas, um aumento de 6,8% em comparação com a safra anterior, que registrou 6,175 milhões. O crescimento, ainda que positivo, foi impactado por atrasos no calendário agrícola, reflexo da demora das chuvas no fim de 2024, como explica o produtor Vanderlei Ataíde, presidente da Aprosoja-PA (Associação dos Produtores de Soja, Milho e Arroz do Pará). A estimativa foi divulgada em abril pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), no 8º levantamento da safra 2024/2025. Segundo Ataíde, a produção é recorde e, ano após ano, há um aumento dela.
O boletim da companhia também projeta um aumento da área plantada no estado de aproximadamente 7,7% em relação à safra anterior. É estimada uma área de cultivo de 2,041 milhões de hectares este ano, contra 1,895 milhão da safra 2023/24. Em contrapartida, a produtividade deve apresentar redução, ainda que pequena, de 0,8% entre os dois períodos analisados.
Entre os cultivos, a soja lidera a produção estadual, saindo de 2,57 milhões de toneladas em 2022 para 4,3 milhões este ano, aumento de 67%, com base em dados do setor estatístico da Sedap (Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca). A cultura apresentou uma evolução contínua no rendimento médio, alcançando cerca de 3.341 quilos por hectare este ano. Esse bom desempenho da soja se deu, segundo o presidente da Aprosoja, apesar dos obstáculos do último ano, que incluem o atraso das chuvas.
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“Até agora, tudo indica que teremos uma boa produtividade, haja vista que tivemos um atraso de plantio na nossa região de algo em torno de vinte dias para mais, e com isso estamos um pouco atrasados. Por isso, pode haver alguma diferença no número de relatórios anteriores”, explica.
Segundo ele, o cultivo de grãos ainda é algo recente no estado, se comparado a outras regiões que lidam com essas culturas há mais tempo. “A cada ano que passa, o estado está aumentando a sua área de plantio também, então a gente espera uma boa colheita este ano”, estima o representante do setor. Nos últimos quatro anos, os dados da Sedap confirmam a expectativa do setor e indicam um crescimento de 53% da área colhida, sendo 889 mil hectares em 2022, ante 1,28 milhão este ano.
A previsão inicial da cultura era plantar em meados de novembro de 2024, mas as chuvas só apareceram por volta do dia 29 de dezembro. Apesar dos fatores climáticos, as lavouras seguem firmes e sem produções comprometidas, na avaliação de Ataíde. As anomalias também foram indicadas no boletim de abril da Conab, que identificou prejuízos em regiões específicas.
“O clima seguiu favorável ao bom desenvolvimento das lavouras e às operações de colheita da cultura. No entanto, nas primeiras áreas colhidas na região intermediária de Redenção e sul da BR-163, houve excesso de chuvas e problemas com soja ardida, o que reduziu a produtividade em muitas áreas. Esse fato ocorreu também nas primeiras colheitas do polo Paragominas”, indica o boletim.
Outras culturas
A outra produção com destaque, do ponto de vista do representante do setor, é o milho, que tem uma grande possibilidade de rentabilidade, em especial na segunda safra do verão. No entanto, para que isso seja uma opção viável, ele destaca a necessidade de investimento em estruturas de armazenagem. As tecnologias existem, mas estão todas focadas na soja, e com a possibilidade de cultivar e colher ambos simultaneamente, o espaço seria inviável.
“Nós estamos plantando soja sobre soja há muitos anos e, infelizmente, esse fenômeno vem devido às empresas financiadoras das commodities, que têm o foco de investir em soja. Então, nossas áreas de milho estão um pouco deixadas de lado. E o correto é você fazer rotação de culturas”, afirma Ataíde.
A situação pode explicar a queda brusca da produtividade do milho no estado, que registrou 1,22 milhão este ano, uma redução de aproximadamente 30% (ou 530 mil toneladas) em comparação aos 1,75 milhão alcançados em 2024, segundo dados da Sedap. Apesar da oscilação, a área colhida cresceu cerca de 236 mil hectares até este ano. As demais culturas de grãos apresentam balanços com oscilações e até quedas.
No caso do arroz, a cultura voltou a apresentar índices positivos este ano, com 109.591 toneladas, após uma queda no ano anterior, quando registrou 92.912 toneladas. Os resultados do feijão este ano demonstram queda contínua de 39% nos últimos quatro anos, com uma produção de 20,9 mil toneladas em 2022, ante as 12,8 mil toneladas deste ano. Os dados sobre a produtividade do dendê terminam no ano de 2023 e indicam estabilidade sem evolução.
Gargalos
O presidente da Aprosoja acredita que os números podem ser ainda maiores se houver investimentos em infraestrutura logística e melhorias em processos burocráticos. Ele se refere às dificuldades com o transporte nas estradas do estado e com as taxas e pedágios cobrados aqui e em outros estados nessa movimentação. Valores altos e vias difíceis de trafegar encarecem o envio de cargas e, consequentemente, o preço do produto final.
Isso, somado ao entrave com ONGs e à própria legislação em alguns casos, impede o crescimento de algumas culturas. Ataíde enfatiza que, mesmo ocupando apenas cerca de 1% do território, a produção de grãos contribui com a geração média de 70 mil empregos. Para amenizar a demanda de transporte, inclusive nos portos do estado, ele sugere a duplicação de rodovias e a implementação de projetos como o derrocamento do Pedral do Lourenço, na região de Marabá, que prevê facilitar a navegação na extensão dos rios Araguaia e Tocantins.
“Agora, o Governo Federal e do Estado precisam olhar com muito carinho, com muita urgência, a questão de leilões ali para liberação de mais portos no nosso estado. Está complicado isso aí, muito complicado”, avalia Ataíde.