Comerciantes de Belém relatam dificuldade na hora do troco
Manter caixa fracionado é um desafio, mas a aprovação do texto obriga a reorganização
Um dos maiores entraves na relação entre consumidores e clientes - o troco - ganhou um ingrediente extra nos últimos dias. A Comissão de Indústria, Comércio e Serviços da Câmara dos Deputados aprovou, na última quarta-feira, 26, um projeto de lei que define como prática abusiva não fornecer o troco integral ao consumidor. Com o avanço de formas de pagamento digital como Pix e cartões de crédito e débito, empreendedores veem mais dificuldade no momento de repassar valores em espécie aos clientes.
O comerciante Brenno Rodrigues conta que já teve que recorrer à lotérica para conseguir troco para clientes e que o pagamento em dinheiro tem sido cada vez mais raro no empreendimento, sendo mais usado o PIx e pagamento por cartão. “A maioria só usa o Pix, teve um dia aqui que passei o dia inteiro só recebendo por cartão e Pix e no final do dia apareceu um cliente com R$ 20,00 e eu não tinha uma nota para o troco e geralmente eu consigo dinheiro em espécie trocando com flanelinha ou na lotérica.”
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Com as festas de final de ano e o pagamento do 13° salário, mais dinheiro em espécie circula no comércio e aumenta a dificuldade em ter troco. É o que garante o comerciante Lael Almeida Junior que conta que recorre a alternativas como troco em Pix ou em balas para atender os clientes. “Desde que o valor seja baixo eu recorro a bala ou pago no Pix. No final do ano piora muito, muitas pessoas recebem a parcela do 13° salário e vem direto do banco querendo trocar, mas vamos levando e buscando alternativas.”
Lael conta também que desde que o sistema de pagamento instantâneo se popularizou no Brasil o número de moedas em circulação caiu muito, dificultando ainda mais na hora de repassar o valor ao cliente. “Está extremamente complicado porque o dinheiro sumiu, principalmente moedas, por exemplo R$2,00 reais e R$0,50 centavos é muito difícil de encontrar, temos que nos virar para passar troco.”
De acordo com o texto aprovado, empresas que não dispuserem de troco adequado poderão ser responsabilizadas por violação aos direitos do consumidor. A medida busca evitar práticas já recorrentes no varejo, como a substituição do troco por produtos, vales ou arredondamentos sem consentimento do cliente. O projeto segue, agora, para análise nas demais comissões da Câmara antes de poder ser votado no plenário. Caso seja aprovado, passará a valer em todo o país após sanção presidencial.
Para muitos microempreendedores, manter caixa fracionado é um desafio, mas a aprovação do texto obriga a reorganização. “Hoje a maioria dos meus fornecedores só recebem por Pix ou no cartão, eu quando não tenho dinheiro eu tento repassar por Pix, mas já aconteceu de cliente não aceitar porque queria o dinheiro trocado para pagar o ônibus e aí não teve jeito, tive que recorrer a outras pessoas para pagar ele”, explica Brenno Rodrigues.
Em Belém, a cena é comum: o consumidor paga uma compra em dinheiro e, ao esperar o troco exato, recebe em troca uma bala, um chiclete ou até descontos improvisados que nem sempre compensam o valor devido. A prática, que se espalha desde feiras tradicionais como o Ver-o-Peso, Jurunas, Pedreira e Guamá até lojas de bairro, padarias e pequenos restaurantes, é alvo de reclamações constantes.
“Já tive dificuldade para receber troco em um estabelecimento. A situação aconteceu quando paguei uma compra em dinheiro e o atendente não tinha o valor exato para devolver e expliquei que precisava do troco correto. O atendente chamou o responsável, que conferiu o caixa e completou o valor”, conta a auditora de loja Maria vitoria Reis Silva.