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Pará concentra 31% do potencial de produção de biogás no Norte

Apenas a capacidade estimada da capital seria suficiente para atender mais de 41 mil residências

Andreza Dias

Restos de comida, cascas de frutas, resíduos agroindustriais, dejetos de animais e lodo de estações de tratamento de esgoto criam um cenário ideal para a expansão de projetos de biogás. Esses materiais ao se decomporem geram gases como metano (CH₄) e dióxido de carbono (CO₂). O metano é o principal responsável pelo poder energético do biogás, usado para gerar eletricidade, calor ou produzir biometano. Há redução de emissões de gases de efeito estufa e diminui a dependência de combustíveis fósseis. Segundo o Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás), Estado do Pará apresenta o maior potencial para gerar biogás na região Norte. Corresponde assim, a 166 milhões de metros cúbicos de biogás por ano a partir dos resíduos sólidos urbanos, significando 31% de potencial de produção de biogás na região, aponta estudo.

Belém também se destaca com 40 milhões de Nm³ (metro cúblico normal) anuais, volume suficiente para abastecer mais de 41 mil residências ou substituir 26 milhões de litros de diesel; isto é, se o lixo da capital fosse aproveitado, ele poderia virar energia limpa suficiente para abastecer uma cidade inteira ou reduzir bastante o uso de combustíveis poluentes.

Comparativo com outras fontes de energia renovável 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

De acordo com informações cedidas pelos pesquisadores da Faculdade de Engenharia Química da Universidade Federal do Pará (UFPA) Nélio Teixeira Machado (FAESA/UFPA), Lauro Henrique Hamoy Guerreiro (PPGEC/UFPA) e Renan Marcelo P. Silva (FAESA/UFPA), em comparação com outras fontes de energia renovável, o biogás tem uma vantagem estratégica: “Pode ser produzido de forma contínua, dia e noite, a partir de resíduos disponíveis durante todo o ano. Isso garante uma estabilidade na geração de energia, algo essencial para complementar outras fontes renováveis intermitentes”, pontuam.

Para os pesquisadores, o estado tem um enorme potencial por possuir setores que mais geram resíduos orgânicos. “A agropecuária é, sem dúvida, um dos principais beneficiados. As criações de gado e suínos produzem grandes volumes de dejetos que, quando tratados em biodigestores, podem gerar energia elétrica, calor e biometano, reduzindo custos nas propriedades e ainda contribuindo para a gestão ambiental. Outro setor com grande potencial é o agroindustrial, especialmente as usinas de açaí, dendê, mandioca e cacau, que geram toneladas de resíduos vegetais”, afirmam.

“Além dos benefícios econômicos diretos, o uso do biogás traz ganhos ambientais e sociais. Ele ajuda a reduzir o mau cheiro e a contaminação do solo e da água, promove o uso de biofertilizantes naturais e fortalece a economia circular, criando oportunidades de emprego e inovação tecnológica no campo e nas cidades”, finalizam.

Aterro sanitário de Marituba

A Guamá Tratamento de Resíduos recebe, diariamente, até 1,5 mil toneladas de lixo domiciliar provenientes das cidades de Belém, Ananindeua e Marituba, na Região Metropolitana. Em dez anos de operações, a empresa já tratou mais de 4 milhões de toneladas de resíduos.

Cerca de 70% dos resíduos que chegam ao aterro são oriundos de Belém, 20% de Ananindeua e 10% de Marituba e de empresas privadas. Desde 2023, em parceria com a Equatorial Pará, obteve geração mensal de cerca de 740 MWh de energia elétrica - o que equivale ao consumo médio de até 10 mil pessoas.

De acordo com Reginaldo Bezerra, diretor da Guamá, valorizar o biogás como fonte de energia é importante tanto do ponto de vista ambiental como do econômico. “Esse projeto evita o lançamento de metano na atmosfera, gera créditos de carbono e diminui o impacto ambiental das operações da Guamá. A adoção deste sistema de compensação de energia é um passo significativo rumo a um futuro mais verde e responsável, em consonância com a COP 30”, pontua.

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Projeto de Lei 

A Comissão de Infraestrutura do Senado aprovou uma emenda ao PL 2.647/2022 que inclui o biogás nas diretrizes da política agrícola nacional voltada a incentivos para aquisição de equipamentos de geração de energia renovável, como solar, eólica e biomassa, com foco na agricultura familiar. 

O projeto busca facilitar o acesso de pequenos produtores a tecnologias de geração descentralizada de energia, com redução de custos, ampliação da sustentabilidade e fortalecimento da autonomia energética no campo.