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Entregas por drones pode representar um avanço logístico

Apesar do entusiasmo do setor, o uso comercial dos drones para entrega de produtos ainda depende da conclusão de uma regulamentação clara e legislação específica

Madson Sousa / Especial para O Liberal

Em tempos de debates e busca por soluções sustentáveis, especialistas veem nas entregas aéreas uma oportunidade para transformar a mobilidade urbana e o mercado logístico na Amazônia. Belém pode ser um dos próximos destinos de um futuro que já começa a ganhar forma no céu brasileiro: o das entregas por drone. Com testes bem-sucedidos realizados pelos Correios, em parceria com a Prefeitura de Curitiba e a Atech, e operações pilotos conduzidas por empresas como o iFood em outras capitais, o país se aproxima de um novo modelo de logística mais rápido, limpo e eficiente.

Mas, apesar dos avanços tecnológicos, o setor ainda esbarra na ausência de uma regulamentação e legislação específica para operações comerciais regulares. “O arcabouço jurídico brasileiro tem se desenvolvido para acompanhar essa transformação. As normas visam, primordialmente, garantir a segurança do espaço aéreo e das pessoas em solo”, comenta o advogado paraense Alisson Soares.

O movimento é acompanhado de perto por empresas privadas como o iFood que anunciou no início de outubro, a retomada e expansão da operação de entregas por drone em Sergipe, em parceria com a Speedbird Aero. De acordo com a empresa, esta rota pioneira de delivery no Brasil e América Latina será ampliada após a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) conceder a primeira autorização permanente do país para voos seguros sobre áreas com circulação de pessoas.

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iFood privilegia lugares com barreiras geográficas

O iFood informou que avalia constantemente novas localidades para expandir os testes e operações com drones, mas destacou que a decisão de incluir Belém entre elas depende de um estudo técnico detalhado. Segundo a empresa, o objetivo é priorizar regiões que apresentem barreiras naturais, como rios ou áreas de difícil acesso, além de trajetos que “não fariam sentido para o entregador”, que continuará sendo direcionado a rotas mais produtivas. “A adoção desse tipo de entrega só ocorre quando há viabilidade operacional e regulatória”, explicou a companhia ao Grupo Liberal.

Sobre a regulamentação do setor, o iFood afirmou que acompanha de perto todas as discussões relacionadas ao tema no Brasil. A empresa destacou que, em parceria com a Speedbird Aero, responsável pelas aeronaves, mantém diálogo constante com órgãos como a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea). O objetivo, segundo o iFood, é garantir que as operações “estejam em total conformidade com as normas de segurança e logística aérea”.

Ao comentar por que os testes começaram no Nordeste, a empresa citou o caso de Sergipe como exemplo de operação viável. “A rota liga o shopping RioMar, em Aracaju, a condomínios residenciais em Barra dos Coqueiros, separados pelo rio Sergipe”, explicou. O trajeto, que por terra levaria cerca de uma hora devido ao trânsito e soma 36 quilômetros de ida e volta, é percorrido de forma multimodal: um mensageiro recolhe o pedido, o drone cruza o rio e outro entregador finaliza a entrega. O iFood afirmou ainda que as condições geográficas e meteorológicas favoráveis do estado permitiram o sucesso dos testes, abrindo caminho para a expansão do modelo em outras regiões do país.

A empresa também declarou que os investimentos em inovação são parte essencial da sua estratégia, incluindo o desenvolvimento de entregas por drones. “Estamos comprometidos com o impulsionamento da inovação no país por meio de novas tecnologias e entregas multimodais”, destacou.

Sobre o treinamento dos operadores, o iFood esclareceu que as aeronaves são certificadas e que, para operá-las, é obrigatório realizar um curso oferecido pela fabricante, a Speedbird Aero.

Atualmente o uso de drones é regulamentado por três principais órgãos públicos: Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) e ANAC. Os equipamentos devem ser homologados para operar em frequências permitidas, evitando interferências em serviços essenciais. Na DECEA, os pilotos precisam se registrar e agendar voos no sistema SARPAS (Solicitação de Acesso de Aeronaves Remotamente Pilotadas) para garantir a segurança do espaço aéreo e na ANAC os drones acima de 250g devem ser cadastrados no Sistema de Aeronaves não Tripuladas (SISANT) para uso recreativo ou profissional.

Com a 30° Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30) se aproximando, Belém se projeta como um território estratégico para discutir o futuro da mobilidade e da logística sustentável. A capital paraense passa a ser um ambiente propício para testar entregas aéreas, especialmente em regiões onde o transporte terrestre é limitado por fatores geográficos, como ilhas, rios e áreas de difícil acesso.

Além de reduzir a emissão de poluentes, os drones poderiam diminuir o fluxo de veículos nas ruas, agilizar entregas e estimular novos modelos de negócio, como startups de tecnologia, serviços logísticos verdes e soluções integradas para o e-commerce.

Apesar do entusiasmo do setor, o uso comercial dos drones para entrega de produtos ainda depende da conclusão de uma regulamentação clara e legislação específica para operações de equipamentos em ambientes urbanos, garantindo a segurança das pessoas, a privacidade e o cumprimento de normas aéreas. 

Para Belém, que se prepara para receber milhares de visitantes durante a COP 30, a inovação pode representar um salto estratégico: unir crescimento econômico, mobilidade e compromisso ambiental. Enquanto a regulamentação não sai do papel, o setor segue em expectativa. 

A jornalista e produtora audiovisual Daiane Coelho acredita que o novo sistema pode contribuir muito com a logística na região e na redução de poluentes. “Consigo enxergar muitas vantagens principalmente para nós que vivemos na Amazônia, pode ser uma solução real de entrega de medicamentos, alimentos e doações. A entrega por drones representa menos deslocamento, poluentes e gastos.”

Mas enquanto empresas testam novas tecnologias de entrega aérea, cresce também a preocupação com o impacto sobre os entregadores e o mercado de trabalho. Daiane defende uma transição equilibrada entre inovação e inclusão.

“Minha preocupação é que esse método possa substituir algumas rotas e acabe representando risco de exclusão e desemprego, então acho que tem que ter uma transição justa. O avanço tecnológico precisa vir acompanhado de avanços de direitos”, argumenta.

Mas de acordo com o Ifood, o drone realiza apenas uma parte da entrega, em geral a parte mais complicada para ser percorrida por via terrestre, por causa dos tráfego e condições urbanas. “Não há autorização, no Brasil, para entregas diretamente por drones nas casas das pessoas. Sempre haverá um ponto de distribuição de pedidos, onde eles serão coletados por entregadores.”

Em resposta ao Grupo Liberal a Uber informou que não tem previsão de qualquer teste dessa natureza em Belém. Também procuramos o Ifood para saber se a empresa pretende trazer para Belém os testes de entrega por drones e qual a estimativa de investimentos da companhia nesse serviço, mas não obtivemos resposta até o fechamento desta matéria.