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Com o quilo mais caro, castanha-do-pará afeta produção de sobremesas regionais

Quilo da castanha média, antes entre R$ 70 e R$ 80, agora chega a R$ 150; a de maior calibre ultrapassa R$ 170 — alta de quase 90%

Thaline Silva

Um dos ingredientes indispensáveis das sobremesas favoritas dos paraenses está pesando no bolso de microempreendedores: a castanha-do-pará. Usada para enriquecer receitas típicas como bolos e bombons, ela está mais cara e, segundo feirantes do Ver-o-Peso, também mais difícil de encontrar.

Basta circular pelas bancas do tradicional mercado para ouvir uma constatação recorrente: a castanha está escassa. Há até quem tema que os estoques fiquem tão baixos a ponto de o produto desaparecer até a COP 30, conferência da ONU sobre o clima que Belém sediará no fim do ano.

Segundo os vendedores, o cenário atual é resultado de uma combinação de fatores: a estiagem severa de 2024, o aumento nas exportações e a especulação de preços. Essa conjuntura provocou uma alta histórica no valor da castanha-do-pará, que ameaça sua oferta nos próximos meses. O preço do quilo da castanha média, que antes variava entre R$ 70 e R$ 80, agora chega a R$ 150. Já a de maior calibre ultrapassa os R$ 170 — um aumento de quase 90%.

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Das feiras para a produção

De acordo com Dayane Santos, vendedora em uma loja de bombons regionais, os clientes têm sentido o impacto do aumento de preços: “Mesmo com o preço dos bombons de castanha ficando mais altos, os clientes compram, mas reclamam bastante". Na loja em que Dayane trabalha, um bombom de chocolare com castanha-do-pará custa R$ 5. 

Já a empresária Vânia Bordalo, sócia-proprietária de uma doceria, relata os impactos nos custos: “O aumento no preço da castanha tem gerado um impacto significativo nos nossos custos de produção, especialmente nos produtos em que esse ingrediente representa uma parcela importante da formulação de nossas sobremesas regionais. Como a castanha é um insumo de alto valor agregado e com forte oscilação de mercado, esse aumento pressiona diretamente nossas margens". 

Segundo Vânia, a empresa precisou repassar parte do custo ao consumidor, mas de forma calculada: “Em alguns casos, foi necessário realizar reajustes pontuais nos preços das nossas sobremesas regionais, que utilizam castanha como ingrediente principal. Buscamos, no entanto, manter os reajustes o mais equilibrado possível para não comprometer o acesso dos consumidores aos nossos produtos". 

Estratégias para driblar o aumento

A doceria tem adotado diferentes estratégias para mitigar os efeitos da alta no preço da castanha. Entre elas estão negociações com fornecedores, diversificação da origem do insumo, reformulação de receitas e aprimoramento dos processos internos.“Além disso, ampliamos nosso planejamento de compras para antecipar variações sazonais e reduzir o impacto de picos de preços”, destaca Vânia.

A escassez também afetou a variedade de produtos oferecidos pela doceria.“Em alguns casos, tivemos que ajustar temporariamente a oferta de certos produtos que dependem fortemente da castanha, priorizando os itens com maior demanda e melhor performance de mercado". 

Vânia acrescenta que o cenário atual tem impulsionado a inovação na doceria: “A empresa estuda substituições pontuais ou o desenvolvimento de novas receitas que mantenham o padrão de qualidade, mas com maior viabilidade econômica". 

Ela cita como exemplo o uso de ingredientes típicos da região, como o cupuaçu: “Criamos outras sobremesas regionais que não dependem da castanha, como a torta Maria Izabel e a torta de cupuaçu com crumble de tapioca". 

*Thaline Silva, estagiária de jornalismo, sob supervisão de Keila Ferreira, coordenadora do núcleo de Política e Economia