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Bioeconomia na Amazônia: especialistas destacam potencial da biodiversidade no LibTalks

Evento discutiu uso de recursos naturais, saneamento, geração de empregos e o papel da pesquisa no fortalecimento da bioeconomia

Maycon Marte

Tradição e inovação caminharam juntas no LibTalks Amazônia da tarde desta quarta-feira (26), encontro que reuniu pesquisadores, especialistas e outros nomes importantes do segmento para debater a bioeconomia na Amazônia. As contribuições reforçam uma agenda de diálogos que busca colocar temas estratégicos da região em destaque e discutir novos rumos para o desenvolvimento sustentável.

Com mediação do jornalista e diretor de Entretenimento e Rádio Web do Grupo Liberal, Ney Messias, os convidados abordaram desde as matérias-primas a serem pesquisadas até os investimentos e o potencial de empregabilidade do setor. A conversa ocorreu no Espaço Rômulo Maiorana, em Belém, com realização do Grupo Liberal e transmissão ao vivo pelo YouTube.


O potencial da biodiversidade amazônica foi central nas discussões e evidenciado nos projetos apresentados. O engenheiro químico e pesquisador da Universidade Federal do Pará (UFPA), Dr. Raul Carvalho, destacou a necessidade de olhar atentamente para os recursos naturais da região, reforçando sua experiência de mais de 20 anos estudando frutos e outros produtos amazônicos. Ele citou exemplos como o óleo de açaí e o enxaguante bucal de jambu, desenvolvidos em pesquisas lideradas por sua equipe.

“Apesar de trabalhar há vinte anos com isso, não consegui pesquisar nem 1% da nossa biodiversidade. Há muitas plantas medicinais e informações novas que ainda não conhecemos e que possuem potencial para se tornarem produtos de alto valor agregado”, afirmou.

Ele reforça que esse conhecimento precisa ser amplamente divulgado para que mais pessoas conheçam as pesquisas e os benefícios do que considera um enorme patrimônio. “Não temos apenas biodiversidade; temos inteligência, pesquisadores capazes e um conhecimento fantástico aqui”, completou.

A engenheira de produção Ingrid Teles, diretora-executiva da startup Ver-o-Fruto, também ressaltou a importância de explorar os recursos naturais de forma sustentável, destacando os impactos positivos na saúde, na economia local e na qualidade de vida. Com seis anos de experiência na área, ela enfatiza que “não existe investimento em bioeconomia sem água de qualidade”, explicando que sua startup desenvolve um mecanismo de filtragem feito a partir do caroço de açaí descartado, capaz de tornar água imprópria em água potável.

“Não há como pensar em desenvolvimento local sem acesso à água. A Ver-o-Fruto chega com esse propósito, porque a água é vida. Trabalhamos o acesso à água como a primeira etapa desse desenvolvimento", declarou.

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Durante o debate, Ingrid revelou que seu próximo foco é o tucumã, fruto que conheceu em visitas ao Amazonas. Segundo ela, o tucumã tem para o Amazonas um valor semelhante ao do açaí para o Pará, abrindo novas oportunidades de reutilização com potencial de transformação social.

Outro convidado que tratou a questão da água com destaque foi André Facó, diretor-presidente da companhia Águas do Pará, responsável pelos serviços de água e esgoto em diversos municípios. Ele estima que, até 2039, aproximadamente 99% das residências paraenses terão acesso ao tratamento de água e 90% ao esgotamento sanitário. Apesar de a atuação da companhia ser recente — iniciada em 1º de setembro — os trabalhos começaram por áreas mais vulneráveis, como a Vila da Barca.

“Não existe sociedade justa, próspera, saudável e sustentável se a lacuna do saneamento básico não estiver resolvida. O Pará tem um desafio imenso, com cerca de 39% da população sem acesso ao abastecimento de água”, afirmou.

Para Facó, a comunicação é crucial para tirar do anonimato os esforços realizados pelo saneamento no estado. Ele destaca o papel do LibTalks Amazônia como uma “janela de visibilidade” para alcançar a população com informação clara e confiável.

Pioneirismo e planejamento

O Pará já avança na discussão sobre o potencial da biodiversidade amazônica para impulsionar uma economia de baixo impacto ambiental, com a criação do Plano Estadual de Bioeconomia. A secretária-adjunta de Bioeconomia da Semas, Camille Bemerguy, explica que o plano reúne 122 ações distribuídas por todo o estado, inclusive em Belém, e pode ser acompanhado por meio da plataforma de monitoramento no Portal da Transparência.

Bemerguy afirma que a COP 30 evidenciou a crescente relevância da bioeconomia como um novo modelo econômico, colocando as comunidades locais no centro da transformação.

“A bioeconomia deixou de ser algo restrito, uma oportunidade de nicho. Hoje ela se consolida como um novo modelo econômico, que impulsiona a economia verde e coloca as pessoas no centro do processo”, destacou.

A jornalista socioambiental Mary Tupiassu, diretora de portal e redes do Grupo Liberal, também participou do debate e ressaltou a necessidade de alinhar a pauta da sustentabilidade às questões climáticas no período pós-COP 30. Ela defende a mudança da visão da Amazônia — de território de exploração para território de cura — e destaca a bioeconomia como um novo vetor econômico para a região.

“A bioeconomia representa uma nova matriz econômica, não só para o Pará, mas para o mundo. É o momento de mudar a perspectiva e ver a Amazônia como um espaço de cura”, afirmou.

Uma das instituições que atuam diretamente para fortalecer esse movimento é o Sebrae-PA. O diretor-superintendente Rubens Magno participou do encontro e reforçou que impulsionar os pequenos e microempreendedores é essencial para a construção da bioeconomia na escala local. Ele lembrou a participação do Sebrae na COP 30 e as metas projetadas para estimular uma economia de menor impacto ambiental.

Segundo Magno, o objetivo é dar visibilidade aos empreendedores, valorizando a qualidade dos produtos amazônicos, o consumo global, a ancestralidade e o valor familiar por trás das produções locais.

“Estamos muito felizes em continuar discutindo sobre socioeconomia e bioeconomia. O LibTalks cumpre esse papel de manter essa chama acesa”, concluiu.