Toni Soares, de Bragança, recebe título de Mestre de Cultura do Pará
Reconhecimento da Secult valoriza 40 anos de trajetória musical marcada pela pesquisa e salvaguarda da cultura amazônica

Com mais de 40 anos de carreira, o cantor e compositor Toni Soares, natural de Bragança, recebeu na última quinta-feira (21) o título de Mestre de Cultura do Pará, concedido pela Secretaria de Estado de Cultura (Secult). O reconhecimento veio a partir de um edital de avaliação de mérito cultural que destaca mestres e mestras das artes e tradições paraenses.
O processo de avaliação começou em fevereiro deste ano e destacou as contribuições relevantes do artista para o desenvolvimento artístico e cultural do estado.
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Trajetória dedicada à música e à cultura amazônica
Com uma trajetória marcada pela experimentação e pela pesquisa musical, Toni Soares passa a ser oficialmente reconhecido como mestre da cultura. Para os pareceristas, sua obra “é profundamente vinculada à salvaguarda do patrimônio imaterial amazônico, especialmente da Marujada de Bragança e do boi-bumbá”.
O relatório que fundamenta a premiação aponta que o músico “atua na transmissão intergeracional de saberes populares e na inclusão cultural de populações vulneráveis, tanto no meio urbano quanto no rural”. O documento também destaca que o artista tem “uma trajetória de vida inteiramente dedicada à cultura amazônica em suas múltiplas manifestações”, articulando criação autoral, pesquisa de campo, documentação, preservação de bens imateriais, formação de novos artistas, inclusão social e excelência técnica.
Reconhecimento e memória de lutas
Ao receber a honraria, Toni relembrou os desafios enfrentados ao longo de 41 anos de carreira.
“Eu comecei pela porta do teatro, compondo trilhas. Depois parti para um trabalho solo, entrei no Arraial do Pavulagem e formamos o grupo com os três compositores. Ainda continuei fazendo trilha para teatro até que vim para Bragança atuar como arte-educador. Fizemos uma imersão na espiritualidade bragantina e ficamos fora da cena da capital. O sentimento é de persistência. Estou meio entrincheirado aqui em Bragança, longe da cena musical de Belém, que me traz muita saudade. Mas sou reconhecido pelo meu trabalho na periferia e nas escolas”, afirmou o mestre.
A criação da banjola e a valorização das tradições
Pesquisador sensível das sonoridades populares amazônicas, Toni Soares tem inspiração na Marujada de São Benedito, tradição religiosa e cultural de Bragança. De suas pesquisas surgiu até mesmo a criação de um instrumento musical próprio: a banjola, uma combinação de banjo e rabeca, desenvolvida a partir da experimentação com timbres amazônicos.
O mestre também destaca a importância de sua atuação junto às escolas e comunidades. “Por mais que eu esteja longe do centro, eu faço um trabalho na periferia, nas escolas e também em áreas afastadas de Bragança. Sou chamado nas comunidades e vou com o maior carinho para levantar a bandeira da tradição musical bragantina, dessa marujada linda que nós temos aqui”, disse.
Referência da cultura bragantina
O título reafirma a posição de Toni Soares como uma referência da cultura amazônica, que dialoga com ritmos, espiritualidade e tradições populares, além de propor novas linguagens. A honraria valoriza a cultura da chamada Pérola do Caeté por meio de um de seus filhos mais ilustres, simbolizando não apenas o reconhecimento institucional, mas também o fortalecimento da identidade cultural bragantina.
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