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No Dia da Visibilidade Trans, performance alia arte e resistência

Atriz Isabella Valente encena "Transbella", no auditório do Conselho Regional de Psicologia do Pará e Amapá

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“Não se nasce mulher, torna-se”. A frase icônica da feminista Simone de Beauvoir ganha um desdobramento existencial complexo na perspectiva de corpos transgêneros. “Ser quem sou exigiu desconstrução e resistência. Me tornar mulher me exige uma trajetória que ainda está em percurso. Sou um devir”, diz Isabella Valente, atriz que encena nesta quinta-feira, 30, a performance autoral “Transbella: Uma cartografia poética de um corpo em transformação".

A apresentação será às 19h30, no auditório do Conselho Regional de Psicologia do Pará e Amapá, em Belém, dentro da programação em alusão ao Dia da Visibilidade Trans. A entrada é franca.

A atriz, formada pela Universidade Federal do Pará (UFPA), relata que há cinco anos se descobriu transgênero. E a arte teve um papel fundamental nessa inflexão de vida. “Embora me identificasse como homossexual, eu sentia que ainda não cabia naquele corpo. Foi dentro da pesquisa e das aulas de teatro que pude me encontrar. O teatro me abriu novos horizontes, me fez renascer”, diz.

No palco, objetos que simbolizam fases da trajetória da atriz: a descoberta da maquiagem, lingerie, salto alto, faixas de interdição em cena de crime. A performance é resultado do projeto de pesquisa da atriz que, a partir de teóricos como Judith Butler, Gilles Deleuze e Félix Guattari, alinhava a narrativa que condensa sua vivência e se conecta à existência política da comunidade trans.

“Minha história é a de tantas pessoas trans, que enfrentam muitos desafios para serem respeitadas em sua existência, enquanto também enfrentamos conflitos internos sobre a busca da adequação de um corpo que reflita o que somos. Estamos sempre nesse processo de nos tornamos. Cada dia é uma luta para conseguir ser reconhecido pelo nome que nós escolhemos, para nos identificar por quem somos de fato”, diz.

Isabella conta que no processo de conquista da própria identidade, enfrentou o afastamento de alguns parentes e amigos, mas ganhou o fortalecimento de laços com outras pessoas: uma dinâmica que revela o preconceito e a negação da cidadania de pessoas trans, ao mesmo tempo em que indica que novos tempos, mais plurais e afetuosos, já se revelam.

“Houve ainda problemas no tratamento público de hormonização. Também fui agredida em um assalto, que claramente teve sua violência potencializada pela homofobia e transfobia. Esses obstáculos me trouxeram certo desamparo e sofrimento, mas contei com a ajuda de muitas pessoas, inclusive de professores, para seguir adiante”, relata.

Entre os destaques da nova safra de artistas do Pará, Isabella já participou de peças como “Quem me leva aos meus fantasmas?”, “Casa das Madalenas”, “Os fuzis” e “Zeca de uma cesta só”. A performance “Transbella” traz o auxílio de direção das professoras Iara Regina e Larissa Latif, e concepção de cena de Vandiléia Foro.

“Tive conquistas, vou em busca de outras, me desapeguei de muitas vaidades que o padrão colocava sobre o meu corpo. Sou feliz com o que me tornei e continuarei me tornando. Quando achar que está tudo perdido e acabado, quebro a linha e crio outra, e volto de novo”, garante Isabella.

Livro

Além da performance, a programação terá o lançamento do livro “Tentativas de aniquilamento de subjetividades LGBTIs”. Organizado pelo Conselho Federal de Psicologia, por meio de sua Comissão de Direitos Humanos, a publicação apresenta uma reunião de relatos de pessoas que foram submetidas a tratamentos “terapêuticos” de “cura gay”.

“Colhidos entre pacientes de diversas cidades do país, incluindo Belém, os depoimentos retratam o intenso sofrimento psicológico desencadeado pelo preconceito e potencializado pela atuação de profissionais da saúde que se amparam no fundamentalismo religioso para patologizar a sexualidade – um comportamento marcado pela falta de ética e que pode culminar em consequências devastadoras já que reafirma e produz a exclusão e a opressão”, pontua Jureuda Duarte Guerra, presidente do Conselho Regional de Psicologia.

Agende-se:

"Transbella: Uma cartografia poética de um corpo em transformação"
Data: quinta-feira, 30, às 19h30
Local:auditório do Conselho Regional de Psicologia do Pará e Amapá, localizado na Avenida Generalíssimo Deodoro, 511, Umarizal
A entrada é franca

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