Pássaros Juninos voam sobre Belém em junho para contar histórias da Amazônia
Grupo Tucano, do bairro do Telégrafo, se prepara para apresentações com apoio das leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo. Guardiã Iracema Oliveira, de 88 anos, mantém viva a tradição
Uma das manifestações culturais mais expressivas da Amazônia, os Pássaros Juninos voltam a sobrevoar Belém durante a quadra junina de 2025. É mais uma oportunidade para que públicos de todas as idades conheçam — ou reencontrem — esse espetáculo único da cultura popular paraense. Um dos grupos mais tradicionais que se prepara para a temporada é o Pássaro Tucano, do bairro do Telégrafo, com cerca de 40 integrantes sob a liderança da guardiã Iracema Oliveira, de 88 anos.
Um teatro popular criado no Pará
Segundo o poeta e professor João de Jesus Paes Loureiro, os Pássaros Juninos não são folclores nem ópera: tratam-se de um gênero teatral popular musicado, criado por autores simples do Pará. “Sua importância decorre de ser a expressão artística teatral que incorpora e valoriza a cultura paraense-amazônica em sua estrutura”, explica.
Cada espetáculo traz personagens fixos que representam figuras da formação social do Pará: a fada, o caçador, a princesa, o marquês e a marquesa, o conde e a condessa, indígenas, feiticeiras e moradores do interior da Amazônia, além do balé e da porta-Pássaro — personagem principal que carrega o pássaro cenográfico na cabeça.
Tradição ameaçada e falta de incentivo
Apesar da riqueza cultural, o número de grupos caiu em comparação com anos anteriores. “É um teatro popular complexo e o mais belo e importante do país, mas vive à custa dos pequenos recursos dos guardiões e guardiãs”, lamenta Paes Loureiro. O professor reforça que a falta de apoio do poder público enfraquece o movimento, e que é necessário valorizá-lo antes que vire apenas memória.
Pássaro Tucano: quase 100 anos de resistência
Com sede na rua Curuçá, no bairro do Telégrafo, o Pássaro Tucano foi criado ainda na década de 1920 e mantém viva a tradição graças ao empenho de Iracema Oliveira, que assumiu o grupo na década de 1980, a convite do professor e dramaturgo Laércio Gomes.
“Com o Tucano, consigo levar adiante o legado deixado pelo meu pai, o ‘Velho Chico’”, diz Iracema. Além de dirigir os espetáculos, ela costura indumentárias e ajuda na produção. O grupo tem integrantes de todas as idades — da porta-Pássaro, uma criança de 4 anos, até membros da terceira idade.
Programação inclui apresentações em Belém, Icoaraci e Mosqueiro
Este ano, o grupo está mobilizado com uma agenda intensa. O Tucano fará parte da programação cultural do Estado e da Prefeitura de Belém e foi contemplado por projetos das leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo.
“No dia 30 de maio, estaremos no Teatro Cláudio Barradas com outro grupo, e logo depois começamos o circuito ‘Voo do Pássaro Tucano’, com apresentações em Belém, Icoaraci (6 de junho) e Mosqueiro, em julho”, informa Paulo Jorge Oliveira, da coordenação do grupo.
A nova peça: “O Impostor”
Para a temporada, o Tucano ensaia a peça “O Impostor”, de autoria da dramaturga Esther Sá, que também já participou do grupo. A história gira em torno de dois irmãos príncipes, um dos quais se perde na floresta. Anos depois, um impostor aparece na corte fingindo ser o herdeiro desaparecido — e tudo se esclarece ao final.
Além da dramaturgia envolvente, o espetáculo é resultado de leituras de texto, caracterização dos personagens e ensaios regulares, que acontecem duas a três vezes por semana.
Cultura viva e presente
Com aproximadamente 20 grupos em Belém e vários em outras cidades do Pará, os Pássaros Juninos resistem com criatividade, dedicação e o esforço de seus guardiões. A retomada das apresentações marca não só a volta dos espetáculos às ruas e palcos, mas também o renascimento do orgulho cultural de uma tradição amazônica centenária.
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