No Dia do Quadrinho Nacional, artistas paraenses comentam sobre produção em tempos de pandemia
Arte sequencial continuou a todo vapor em 2020

Neste sábado, 30, é comemorado o Dia do Quadrinho Nacional, uma forma de arte que alia imagem e escrita para contar todos os tipos de história. No Pará, a produção seguiu e continua a todo vapor, mesmo em período de pandemia. O ano foi de desafios para muitos, pois vários artistas tiveram que se adaptar para seguir produzindo no meio do caos, enquanto outros contam que seguiram com rotinas praticamente inalteradas.
Joe Bennett, que trabalha para a Marvel desde 1994 e há quase 30 anos produz para editoras internacionais, conta que seu processo de criação segue o mesmo. “A gente trabalha em casa a vida inteira, então tá tudo igual. Eu me cuidei, cuidei da minha família, e no demais, foi a mesma coisa: acordar, vir para o meu estúdio, trabalhar. O estranho é saber que todo mundo faz a mesma coisa, aí fica uma sensação terrível”, disse o artista. Atualmente, Joe desenha o título “Immortal Hulk”, quadrinho da Marvel mais vendido no momento e que já concorreu duas vezes ao Eisner Award, maior premiação do mundo das HQs.
“Essa foi minha melhor experiência na Marvel, pois eu sempre gostei do Hulk, desde criança, com a série do Lou Ferrigno e Bill Bixby. Meu pai também adorava o personagem, e eu estou realizando um sonho meu e do meu pai, que já faleceu há 30 anos, mas eu faço pensando nele”, conta o artista.
Outro que encarou com mais naturalidade o seu trabalho no momento que o mundo vive foi Vladimir Cunha, que recentemente, roteirizou a Turma do Ypê, projeto que une imaginário paraense e conscientização ambiental. “O quadrinho tem essa vantagem de ser feito por poucas pessoas. Ele não é um filme, não é um show, um ensaio de banda, é geralmente feito por duas ou três pessoas, então o Turma do Ypê foi feito todo remoto. Eu e Ismael [Machado, outro roteirista], fizemos reuniões via Zoom [plataforma online de reunião], e com o roteiro pronto, ele foi enviado para o Woylle Masaki, desenhista. Ai as dúvidas que ele tinha, os ajustes, e até as ideias mesmo que ele tinha, pois foi um processo democrático, foram enviadas tudo via internet”, comenta.
Por outro lado, uma artista relativamente nova nesse meio das HQs como Anna Júlia Lustosa contou que precisou trabalhar bastante seu lado emocional para seguir fazendo arte. Atualmente, ela se prepara para o lançamento de mais uma coletânea do coletivo Açaí Pesado, iniciativa para viabilizar publicações impressas, criadas e desenvolvidas por autores paraenses e que está em financiamento coletivo.
“Eu iniciei no mundo dos quadrinhos em 2019, que foi quando surgiu a oportunidade de participar do Açaí Pesado. A próxima edição foi um total desafio para a gente por estarmos no período de pandemia, no pico, em lockdown. A gente teve que saber lidar com nossas emoções para construir aquele projeto, então muitas vezes eu estava me sentindo mal, triste com alguma coisa, mas eu tinha aquela responsabilidade. Ao mesmo tempo, aquilo me trouxe uma segurança, pois eu usava o desenho para me esconder do mundo, das notícias ruins”, revela a ilustradora.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA