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Nazaré Pereira completa 80 anos

Do Xapuri para o mundo: a cantora e compositora reside na França e se mantém em plena atividade, prestes a lançar o 20º disco

Enize Vidigal
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A cantora amazônida que mais levou o repertório do Norte e Nordeste do Brasil para a Europa, Nazaré Pereira, completa 80 anos hoje. Natural do Xapuri, no Amazonas, foi trazida aos sete anos para Belém. Mudou-se para a França nos anos 70, mas estourou como cantora, nas rádios, somente em 1978 com a regravação de "Cheiro de Carolina" (Zé Gonzaga e Amorim Roxo). Antes disso, fez teatro e novela na TV Tupi. Cantou, compôs e gravou com grandes nomes da música brasileira, como o próprio Gonzagão, Beth Carvalho, Dona Ivone Lara, Dominguinhos, Paulinho da Viola e Geraldo Azevedo (com quem fez turnê no Velho Continente). Produzindo intensamente, ela está prestes a lançar do 20º álbum, "Meus Caminhos, Meu Destino", pelo Natura Musical, com 11 faixas inéditas, incluindo cinco autorais e em parceria.

Confira o disco novo aqui.

Nazaré nasceu "no meio da floresta do Xapuri", como declara. O pai, Manoel Tenório da Silva, faleceu quando ela estava com quatro anos de idade. A mãe, Maria Pereira, se casou novamente e a decisão da família se mudar para Belém foi do padrasto, Manoel Sampaio, que estava com o pai doente na capital paraense. A família se estabeleceu no distrito de Icoaraci, onde ainda mantém residência. Na capital paraense, Nazaré cursou magistério no Instituto de Educação do Pará (IEP) e lecionou por dois anos na Escola Avertano Rocha e no Grupo Escolar Tenoné. Mas foi a lembrança do teatro de bonecos que assistiu em um barco, ainda nos primeiros anos da infância, no Amazonas, que plantou no coração da jovem o sonho das artes cênicas. A música só tornou-se realidade na vida dela anos mais tarde.

Nazaré Pereira trocou a sala de aula pelo curso no Conservatório Nacional de Teatro do Rio de Janeiro, onde se formou em atriz e diretora. Em Belém, fez peças com Cláudio Barradas, como "O Auto da Compadecida" (Ariano Suassuna), contracenou e aprendeu francês com Walter Bandeira. "O teatro estava na minha vida". No programa "Grande Chance", do Flávio Cavalcante, na TV Tupi, ela venceu o concurso de melhor atriz e, como prêmio, ganhou um papel para atuar na novela "E nós, onde vamos?", de Glória Magadan. "O meu papel era de doméstica, um papel pequeno. Eu só abria e fechava porta. A Leila Diniz ficou uma fera porque eu tinha tirado (nota) 10 em tudo no programa, e achava ridículo eu não ter espaço na novela. Ela fez greve para me darem um papel melhor. Depois fui namorada do Gracindo Júnior na novela", recorda, rindo.

A cantora recorda que ganhou uma passagem a Portugal, de onde foi à França e conseguiu uma bolsa de estudos de teatro na cidade de Nanci e, de lá, fez uma pós-graduação na mesma área em Sorbonne, Paris. Ela não pretendia mais voltar a residir no Brasil. Lá fez peças de teatro e deu aula de dança, mas começou a cantar na rua para sobreviver porque a vida de atriz ficou difícil: "Fiz algumas peças de teatro com pessoas importantes, mas como eu sou meio escurinha, parda, os papéis para mim tinham que ser mais em peças de teatro mais contemporâneas, porque os franceses são brancos. Aí parei um pouco de fazer teatro, mas tinha que comer. Na França, eu fazia tudo, cantava nas praças e no metrô. Pegava uma toalha branca e estendia no chão e começava a cantar música brasileira nas praças, todo mundo elogiava, mas eu não cantava p... nenhuma. Eu era uma morenaça, jogava as saias compridas, sempre com flor no cabelo", recorda.

O começo

Mesmo sem cantar, ela via potencial na música brasileira na Europa. Naquela época, tocavam Jorge Ben Jor e bossa nova na França. Gravou seis músicas em uma fita cassete e levou a váeias gravadoras, mas ao ouvir as primeiras músicas, todos a reprovavam. Desanimada, ela conta que conseguiu por meio de um amigo o encontro com o dono de uma gravadora que estava em casa, com a perna quebrada. Já sem esperança, foi logo dizendo para ele falar logo se não gostasse e sentou-se ao lado dele para ouvirem juntos a fita. Ao tocar 'Cheiro de Carolina', a quinta música, ouviu o tão esperado sim. A gravação em estúdio ocorreu em dois dias e, antes mesmo do lançamento oficial, a música estourava nas rádios com um vinil compacto promocional. "Foi quando eu virei cantora".

"Era um disco pequenininho, que só tinha duas músicas. No verso, para preencher, fiz a minha primeira composição 'O povo está lá'. Era uma resposta à música da Teca Calazans, que gravou 'Cadê o povo daqui?' e eu me referia que está no Brasil. Mas 'Cheiro de Carolina' era a favorita". Na época, faziam sucesso o Bee Gees e o Abba, quando Nazaré introduziu na França o xote nordestino em ritmo mais lento. Algum tempo depois, ela recorda que produziu o primeiro show de Luiz Gonzaga naquele país, quando cantaram juntos e, depois, fizeram parceria na composição de "Acre Doce".

De lá para cá, ela diz que a carreira "teve altos e baixos porque nem todo mundo é Roberto Carlos para se manter sempre no topo". "O pico da carreira foi entre 90 e 2000. Agora, a moda na Europa é forró, e eu canto muito, apesar de não querer ser forrozeira, mas a minha base é Amazônia, é boi, carimbó, lundu e as minhas composições quase todas falam da nossa fauna e flora". Ela contabiliza cerca de 70 composições autorais e em coautoria, incluindo com parceiros paraenses.

Música do novo disco de Nazaré Pereira, "Marajó É Minha Terra", composição da pajé Zeneida Lima:

O ninho

Algumas composições Nazaré fez em homenagem à mãe, falecida no último dia 13 de junho, aos 100 anos, como "Xapuri do Amazonas", maior sucesso dela, cuja letra fala "Dona Maria minha mãe morena/ Cabocla linda lá do rio jari..." e recorda a infância quando a mãe a embalava na rede "Do balançar de rede, dos igarapés/ Destas coisas lindas que não tem idade/ Dona Maria, mãezinha morena/ Ainda sou tão pequena e sinto saudades". 

Apesar de não ter se casado e nem tido filhos, Nazaré é apegada aos irmãos e muitos sobrinhos, já é tia bisavó. E mesmo mantendo residência fixa em Paris, de vez em quando vem pousar de visita no ninho de Belém, como veio para passar o natalício com a família, sem festa. "Às vezes, me arrependo de não ter vindo antes (morar de volta no Pará), mas já tenho a minha vida toda para lá".

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