Nany People compartilha com público em Belém que ‘Ser mulher não é para qualquer um’
Espetáculo traz histórias da vida de Nany, fã de Fafá de Belém, marcando 50 anos de carreira artística dessa atriz e comediante mineira, e terá como palco o centenário Theatro da Paz, nesta sexta-feira (26)

Ponha-se no lugar de uma atriz e comediante que celebra 60 anos de idade e a marca de 50 anos de carreira artística. São muitas histórias nessa trajetória de encenar situações do cotidiano das pessoas e, em particular, memórias, reflexões e passagens divertidas de sua própria vida diante de públicos diversos pelo Brasil afora. E tudo começa com a descoberta e a valorização desse talento pela própria artista, em uma sociedade em geral homofóbica e machista. Esse relato, com todo o estilo que marca seus shows, será compartilhado nesta sexta-feira (26), às 20h, no Theatro da Paz pela multiartista Nany People com o espetáculo “Ser mulher não é para qualquer um”. Ela superou desde o bullying na escola e maus tratos do pai, por ter corpo de homem (nasceu Jorge Demétrio Cunha Santos) e jeito afeminado, até muitas outras situações ao longo de sua trajetória nas artes cênicas. E valeu a pena.
Nany conta que o espetáculo teve como ponto de partida o livro sobre a sua vida e carreira - histórias que não cabiam no livro e foram levadas para o teatro, ou seja, ganharam nova conotação porque nesse espaço o processo é bem visual, com projeções. O espetáculo foi baseado na biografia, escrita por Flávio Queiroz, portanto traz uma carga emocional nas histórias de vida de Nany, mas também traz o humor impecável dela.
“A ideia da concepção visual foi traduzir de forma impactante, mágica até. É como se o público pudesse enxergar os pensamentos dela através da interação com as projeções do cenário. A cena mais significativa pra mim, é a que ela interage com a sua versão criança. É emocionante. Aliás, foi a primeira ideia visual criada para o espetáculo’, detalha Nany.
A história de Nany dialoga com as de outras mulheres no Brasil. “As minhas referências profissionais foram sempre pessoas, mulheres que fizeram a sua história muito além da profissão. Mulheres que impactam a gente pelo seu modus operandis de ação. Então, tem cinco mulheres em minha vida que eu sou muito fã mesmo: minha mãe, Hebe (apresentadora Hebe Camargo - 1929-2012), Rogéria (atriz, apresentadora e pioneira no movimento travesti -1943-2017), Fafá de Belém (cantora paraense) e Lilia Cabral atriz paulista). Sobre essas quatro mulheres, eu acabei conseguindo literalmente conviver com elas por meio do palco. O palco foi minha grande apresentação, o meu grande contato com elas, Essas mulheres me inspiram pela sua força, pela sua coragem, pela maneira como dirigem sua profissão, como agem na vida”, destaca.
Arte na vida
Nany costuma dizer que nunca saiu na Playboy, mas vive no imaginário das pessoas. Nascida em Machado (MG), ela chegou em São Paulo aos 20 anos de idade, sem muitos recursos, e fez shows com drag queen em casas de espetáculo, passou a atuar no teatro, na rádio e na televisão. Foi na TV que se tornou conhecida nacionalmente - fez programas de Goulart de Andrade, Amaury Júnior, Hebe Camargo e de Carlos Alberto da Nóbrega. Assinou uma coluna na revista “G Magazine” por quase dez anos.
Nas últimas décadas, o Brasil conseguiu avançar na questão de costumes, comportamento, ainda que muito ainda precise ser feito para salvaguardar a cidadania, a dignidade de pessoas LBGTQIA+ e o combate à violência contra mulheres e crianças e ao racismo, entre outros tópicos. Entretanto, como salienta Nany, essa contradição envolve ainda a política, a vida pública, a criação artística, enfim, mostra-se em tudo.
“A gente convive num país onde os nossos políticos se acham imortais, se acham acima até dos direitos humanos. Todo mundo, todo homem é igual perante a lei, perante Deus. Mas, eles se acham invulneráveis, intocáveis. Complicado, né? É muito complicado. A gente vive com essa ideologia, do ego, pessoas ególatras”, ressalta. Nany pontua que a carreira artística mexe com o ego dos artistas, “mas o nosso ego ensina que a gente nunca é, a gente está; a gente nunca é sucesso, a gente está em um momento de sucesso, porque todo mundo tem altos e baixos na carreira. Todos nós temos plateias cheias e vazias. Isso nos faz continuar com o nosso propósito de fazer teatro, arte, fazer a nossa história acontecer”, completa.
Essa atriz e comediante celebra 60 anos de vida, 50 de carreira e 30 de televisão. Para festejar, Nany People roda o Brasil com “Ser mulher não é para qualquer um”, espetáculo com direção de Marcos Guimarães. Ela considera comemorar 50 anos de estrada como um sinônimo de perseverança.
“Eu me sinto literalmente uma vencedora, porque me mantive no propósito. Eu fiz uma opção, atitude de escolher a carreira artística e não abri mão do propósito. É muito difícil você se manter no propósito, então eu acho que eu consegui ,aos 50 anos de carreira, fazer do meu sonho a realidade da minha vida e do meu destino”, enfatiza Nany, prestes a reencontrar o público em Belém. Como diz a artista, o roteiro preza pela instantaneidade dos fatos e “ o espetáculo ficou crem de lá creme”.
“Cada momento é um momento, eu não sou muito saudosista, o meu melhor momento é agora, a minha cabeça vai de acordo com a minha contemporaneidade, todos os momentos que eu passei, cada momento com sua singularidade e sua importância, com seu tempo. Eu acho que o melhor momento é o agora. Estar celebrando 60 anos de idade, 50 de palco é um feito muito grande”, diz Nany.
Serviço:
Espetáculo “Ser mulher não é para qualquer um” - Nany People
Data: 26 de setembro de 2025
Horário: 20h
Local: Theatro da Paz
Ingressos: site Ticket Fácil e bilheteria do Theatro da Paz
Classificação: 16 anos
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