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Carimbó Cobra Venenosa lança primeiro álbum nas plataformas de streaming

Trabalho traz, além do carimbó pau e corda, faixas de lundu, boi, influências latinas e tambores de matriz africana

Enize Vidigal
fonte

O grupo Carimbó Cobra Venenosa lança o primeiro álbum nas plataformas streaming. O pau e corda norteia o trabalho autoral, que também acolhe em algumas faixas o lundu, boi, influências latinas e tambores de matriz africana.

O passeio dançante é norteado pela crítica social contundente e pela valorização das origens afrodescendente e indígena em plena exaltação do povo amazônida, sobretudo na poesia incidental. O show de lançamento do projeto homônimo da banda será nesta quarta-feira, 29, no evento Maré de Lance, na Casa das Artes, a partir das 17 horas.

Nascido e criado nas rodas de carimbó de Icoaraci, desde 2016, o grupo idealizado pela jornalista multimídia e mestre em Sociologia Priscila Duque (vocal e maracas) e pelo produtor, poeta e estudante Hugo Caetano (banjo) bebe na fonte do tradicional pau e corda para cantar a contestação social em meio à poética do imaginário místico e a realidade urbana.

Da nascente da cultura popular do carimbó surge a vazão de versos contundentes que jorram mensagens de resistência, emponderamento feminino, antirracismo e contra homofóbicos. Os demais integrantes do grupo não são fixos, mas o Cobra Venenosa contempla novos artistas do circuito underground de Belém. O nome do grupo foi inspirado na letra da música “O carimbó não morreu” do disco “A volta do carimbó”, de 1994, do Mestre Verequete.

Com 13 faixas, sendo oito gravadas em estúdio e cinco ao vivo, "Carimbó Cobra Venenosa" aposta na força dos tambores e nos arranjos tradicionais e modernos com efeitos orgânicos e experimentações. O álbum está disponível no endereço: https://ps.onerpm.com/4529734280. E também será apresentado nos shows que o grupo realizará no próximo domingo, 2, às 19 horas, no Espaço Cultural Coisas de Negro (Rua Lopo de Castro, 1081, Icoaraci) e no próximo dia 16, no 4º Festival de Música Independente de Trancoso, na Bahia.

O disco traz as participações especiais dos Mestres Ney Lima e Tomaz Cruz, de Icoaraci, na faixa "O Carimbó Vem De Bike" (Hugo) - que foi inspirada na forma de fazer carimbó do grupo mantido por esses mestres, "Os Africanos de Icoaraci" -; Mestre Sapucaia, do mesmo distrito, que gravou clarinete no carimbó "Eu Vou Para Outeiro" (Mestre Lúcio Freitas e Lucimar Freitas); e Mestre Neves, de Marapanim, que assina os arranjos do carimbó "Tropical da Mata" (letra de Priscila). "Tropical da Mata traz a visão fronteiriça entre ser filha da cidade, que reivindica a identidade preta, e nascida na Amazônia, que me traz a identidade indígena, além da vivência da mulher metropolitana e também da floresta", descreve a compositora.

Além dessas faixas, também foram gravadas em estúdio: "Flores Para Iemanjá" (Hugo e Mestre Lourival Igarapé), carimbó que fala sobre as datas alusivas à essa entidade na umbanda e no candomblé, que são 2 de fevereiro e 8 de dezembro, e a relação da orla do Outeiro com essa festa religiosa; "Eu Venho De Longe" (Renato Caranã), ritmo de boi que narra o sonho do povo em usufruir da riqueza da Amazônia; e "Velório do Caranguejo" (Lourival Igarapé), embalada por arranjos atípicos, de início acelerado com influência de ritmos latinos, que evolui para o carimbó e depois o xote para terminar com uma marcha fúnebre.

A faixa de abertura é a poesia "Manda Quem Tem Mais Bala" (Hugo) sobre a violência urbana e o extermínio da juventude negra nas periferias: "De coturno ou de sandália escorre o sangue da chacina/ Largados à própria sorte querem nos ver na senzala", diz trecho da letra. Outra poesia, que recebeu arranjo experimental de pau e corda, é "Manifesto Marielle Vive" (Priscila).

Esse segundo poema gerou um vídeo performance que foi premiado no I Festival Zélia Amador de Deus de Cinema Periférico. Já entre as faixas de poesia ao vivo, Priscila também assina "Feminista" em um desabafo sobre ser feminista novamente embala em pau e corda: "Vou dizendo que é pela vingança às mulheres bruxas queimadas pela Igreja Católica e às negras sequestradas e estupradas pela sociedade machista e escravocrata brasileira". Enquanto Hugo Caetano é autor de "Tambores da Mãe África", que novamente faz referência ao trabalho de "Os Africanos de Icoaraci".

Outras músicas ao vivo são "Flor de Mururé" (Maria Eduarda e Movimento Vacas Profanas), o conhecido lundu que evolui para o carimbó acelerado e cuja letra ressignifica a lenda para dialogar com o assassinato de mulheres e de LGBTQI+; "Cutuca Jaca Cai Uxi" (Hugo e Tom Vasconcelos), uma brincadeira com o falar caboclo com os nativos da Praia do Paraíso, de Mosqueiro, que traz o verso: 'Cutuquei jaca, caiu uxi quando eu cheguei aqui, quando eu cheguei aqui'; e a mistura de ijexá e carimbó "O Ponto de Pomba Gira", versão criada pelo Movimento Mulheres do Fim do Mundo sobre a música de matriz africana e domínio público, que ganhou nova o refrão 'Toma cuidado com ela, ela é um perigo, Rainha Pomba Gira, mulher de nenhum marido".

O álbum foi contemplado pelo VI Prêmio Proex-UFPA de Arte e Cultura, com a gravação e mixagem de Thiago Albuquerque, do Estúdio Z; direção musical de Priscila, Hugo, Rodrigo Ethnos e Mestre Ney Lima; e a identidade visual de Vilson Vicente. As gravações foram iniciadas em 2018, mas se estenderam por mais de um ano.

"É muito custo fazer um álbum. Contamos com a parceria, desde os músicos, a produção musical, a gravação e a mixagem. Toda a nossa história de atuação no carimbó envolve a resistência, seguir fazendo planos, tocando e ensaiando em casa... A gente já fez shows no Rio, Salvador e Manaus, todas as vezes que saímos do Pará foi na forma de parceria, circuitos independentes, nunca por parcerias comerciais que cobrissem todas as despesas. É um grande desafio conseguir ser um grupo de carimbó, sair da periferia, sem grandes fomentos e apoios comerciais. Exige determinação e coragem".

Agende-se:

Show de lançamento do álbum "Carimbó Cobra Venenosa"
Data: quarta-feira, 29, a partir das 17h
Local: Casa das Artes (Rua Dom Alberto Gaudêncio Ramos, 236, ao lado da Basílica de Nazaré, bairro de Nazaré)

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