Adriana Calcanhotto lança o novo álbum 'Errante'; vídeo

A cantora gaúcha concedeu entrevista exclusiva sobre o novo projeto, terá uma turnê mundial depois de maio.

Enize Vidigal

Os violões que pertenceram à Nara Leão e a Orlando Silva se mantém ativos na música popular brasileira. Adriana Calcanhotto é a proprietária desses instrumentos de valor histórico. Ela compôs e gravou neles as canções do novo álbum “Errante”, que chegou às plataformas digitais na última sexta-feira (31). Em entrevista exclusiva a O Liberal, a artista gaúcha fala sobre o novo projeto, a turnê atual com músicas de Gal Costa, os planos para a próxima turnê mundial e recorda o que passou na pandemia, além das passagens pelo Pará e a amizade com o cantor e compositor paraense Arthur Nogueira.

Com 11 faixas, o 13º disco da carreira da cantora reúne variados ritmos e muitas surpresas, como o uso de instrumentos inusitados, como lira, tamburello e rolo de papel higiênico, a confissão de suas influências musicais em “Prova dos nove” – da raiz brasileira, à alma lusitana e referência africana – e a faixa em homenagem a Gilberto Gil com frases ditas por ele, em “Nômade”.

Ouça aqui.

Por que o disco se chama “Errante”?

É uma palavra latina irresistível, que em português tem mais de um sentido (de erro, de vagar sem rumo). E porque essa ideia da errância, da itinerância, da vida nômade é um gosto que ficou mais claro pra mim quando precisei ficar isolada, confinada involuntariamente (na pandemia). Não foi ruim durante um tempo, mas grande parte do tempo eu me perguntava ‘o que eu tô fazendo aqui?’ se o meu normal era estar dentro de um avião ou numa fila. Senti falta até dos perrengues da vida na estrada. Não importa a estrada, o estar em movimento é que é o importante.

O teu disco tem uma variação grande de ritmos, samba, xote, rock, funk... conta pra gente.

Tem maxixe, tem tudo isso (risos). Não é uma faixa para cada uma dessas coisas, os ritmos estão misturados. O disco é poliritmico. Eu gosto muito disso.A banda escolheu esse caminho que me agrada muito, fiquei muito feliz com o resultado, apesar da gente não ter combinado isso. Deu muito certo.

‘Prova dos Nove’ tem letra forte é a música destaque do disco?

Acho que sim, gosto de abrir os discos com uma música que funcione como um editorial, uma carta de intenções. As coisas que digo nessa canção, você reconhece no meu trabalho, nos meus discos. Eu tenho uma forte influência da poesia brasileira, poesia portuguesa e da poesia em língua portuguesa na África, em Moçambique e Angola. Dá pra notar a influência da música negra na minha música, seja brasileira, africana ou americana.

Você está com os shows em homenagem à Gal Costa e já se prepara para a turnê mundial do “Errante”. Algum desses shows vem para Belém?

Não sei ainda. Só vou fazer os shows da Gal em abril e maio. Essa turnê é para cumprir datas (de show) que ela tinha. Fiz um esforço para encaixar, fiz com muito prazer e alegria de ter recebido esse convite, que considero um grande presente, um privilégio inacreditável. O ‘Errante’ terá uma turnê grande. Depois de Portugal, vem para o Brasil, depois volta para a Europa, Estados Unidos e Japão, vai ficar um tempo rodando.

Você esteve no Pará em novembro para um show no Festival Canção da Transamazônica (Fecant), em Altamira. Como foi?

É o povo do Pará, maravilhoso, incrível. É muito bom poder ir não só a Belém, mas adentrar e conhecer as pessoas que moram mais para dentro da floresta. Experiência inesquecível.

Você está sempre se movimentando na cena, conhecendo pessoas. Você tem uma amizade na cena musical paraense...

Com o Arthur (Nogueira)! Ele produziu o meu disco ‘Só’ (2020). Ele é um cara maravilhoso, muito inteligente e sensível, faz um trabalho de excelência. Temos uma parceria legal, adoro ele. A gente tem uma promessa de fazer mais coisas juntos.

Você usou no disco alguns instrumentos incomuns, como os violões da Nara Leão e do Orlando Silva, tamburello e lira. Como foi escolher esses instrumentos?

Eu tenho comigo alguns violões importantes, eu componho neles e as pessoas sabem e é por isso que eles vêm parar na minha mão. Imagina pegar o violão da Nara Leão, tocado por ela, e compor nele. E é um super instrumento, não é só porque era dela. Decidi registrar esse som no estúdio com eles e, mais do que isso, dizer para as pessoas que instrumentos são esses. Resolvi compartilhar tudo com as pessoas no encarte, pois o ‘Errante’ vai ter CD e vinil em alguns lugares. Eu coloquei os detalhes, como o tamburello italiano, o suporte de papel higiênico que o Domênico (Lancellotti) toca, seria uma pena colocar percussão apenas.

A lira comprei na Grécia de um luthier que reproduz as liras antigas. Essa lira é a réplica da de Safo, poeta grega. E ficou incrível misturada com o violão brasileiro que foi da Nara, que foi do Orlando, com o acústico e os outros instrumentos. A lira está em duas faixas: ‘Prova dos Nove’ e no ‘Quem te disse’.

Na última faixa do disco, ‘Nômade’, você traz frases que ouviu do Gilberto Gil. Como foi isso?

Uma vez peguei a estrada com ele (na Europa) e confirmei algumas coisas da disciplina, generosidade, simplicidade e da acessibilidade das pessoas com ele. Ele vai dizendo umas pérolas para as pessoas, que pra ele são conversas ordinárias, mas que pra mim são versos. A minha imagem atrás dele na turnê, lembra um pouco aqueles versos do Chico Buarque em ‘Vitrine’: ‘Catando a poesia que entornas no chão’. A batida da música fiz no violão, sentada no chão do ônibus, comecei a ler a primeira parte da letra e ele gostou, mas ele não conhece ainda a música toda e a gravação.

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