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Morre Mestre Piticaia, fundador do Boi Ponta de Ouro, de Cachoeira do Arari

O mestre morreu durante a madrugada desta quarta (22), em Cachoeira do Arari

Bruna Lima
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Mais um mestre da cultura popular do Pará morre de exaustão e sem recursos. Mestre Piticaia, fundador do Boi Ponta de Ouro, em Cachoeira do Arari, no Marajó, morreu na madrugada desta quarta-feira (22). A idade do mestre é estimada entre 75 a 80 anos. Ele morava em uma casa simples e vivia em situação de insegurança alimentar. O fazedor de cultura era um brincante da cultura popular e defendia a leveza das brincadeiras como um ato de felicidade para as crianças e adolescentes com quem dividia seus ensinamentos.

Benedito Gama de Miranda, o popular Mestre Piticaia, da terra de Dalcídio Jurandir e dos campos de Cacheira do Arari, era um produtor cultural, da cultura do boi-bumbá. Suas últimas apresentações foram no Festival Marajoara de Cultura Amazônica.

Por muito tempo, mestre Piticaia morou em uma área de lixão no município de Cachoeira do Arari. Aos 20 anos de idade ele resolveu colocar no mundo o Boi Ponta de Ouro. A partir da manifestação cultural ele passou a ser reconhecido pela comunidade e por artistas.

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Artistas lamentam morte

Ronaldo Silva, um dos fundadores do Arraial do Pavulagem, diz que mestre Piticaia, assim como mestre Damasceno, mestre Cardoso e entre outros são ícones da cultura popular e levam a cultura do estado para o mundo. Ronaldo sente uma grande tristeza por não existir políticas públicas aos fazedores de cultura que produzem conhecimento e ensinamento em suas comunidades.

"Hoje eu choro de tristeza por ver que é mais um mestre que morre de exaustão da vida difícil que eles levam. Na última vez que encontrei Piticaia, lá em Cachoeira do Arari, ele não tinha o que comer, dá para imaginar o que é isso? Mas eu também fico feliz por tudo o que ele fez e nos deixou e sei que ele está melhor que todos nós", desabafa Ronaldo Silva.

Há 15 anos, o Instituto Arraial do Pavulagem tem parceria com o Cordão do Galo, em Cachoeira do Arari, que faz homenagem ao padre Giovanni Gallo, fundador do Museu do Marajó. O mestre Piticaia e seus ensinamentos sempre fizeram parte dessa festividade. Ronaldo Silva reforça que Piticaia e outros mestres são figuras tocadas pelo dom de Deus por levar alegria mesmo vivendo os sacrifícios que encontram na vida.

Tratam-se de artistas, muitos sem reconhecimento, mas são pessoas que levam alegria. "A missão dos trabalhadores da arte não é nada fácil, alguns oscilam entre a imensa tristeza e depressão e vão até o delírio, que é outro extremo. Mas a vida pede equilíbrio e quem consegue domar esse equilíbrio consegue viver melhor. O mais importante é que esses conhecimentos e esses saberes populares, as habilidades de confeccionar os instrumentos, os bordados das roupas, isso tudo faz parte da beleza e feito por seres humanos", desabafa Ronaldo Silva.

O Mestre Piticaia foi um grande fazedor de Cultura. Colocava Boi há quase 50 anos. Era um símbolo de resistência cultural em Cachoeira do Arari. Mesmo com muita dificuldade manteve sua criação presente nesses quase meio século. Adotou as "Caixas Quadradas" para fazer seus cortejos e transmitindo essa arte às novas gerações.

Ele construía as caixas ao lado de outros integrantes do "Ponta de Ouro". Ultimamente, alguns instrumentos e adereços foram doados a ele após as Oficinas do Cordão do Galo. 

Albertinho Leão, amigo e envolvido com a cultura de Cachoeira do Arari, diz que ele foi bastante valorizado pelo Ronaldo Silva e a Turma do Arraial do Pavulagem. Especialmente, nos últimos 15 anos com o Cordão do Galo que é realizado pelo Instituto Irmandade, Museu do Marajó e outros parceiros. Também o Festival Marajoara de Cultura Amazônica tem proporcionado este Diálogo de Resistência Cultural envolvendo os Mestres e Mestras da Região.

“É mais um dos nosso mestres que se vai sem que pudéssemos ter dado uma resposta a todo legado que ele nos apresenta. Piticaia é herdeiro de uma família de produtores rurais de Cachoeira do Arari e como todo homem dos campos ele também advém da vivência com os animais, com a natureza. Tudo isso foi construído nas dificuldades que o Marajó apresenta”, reflete o amigo.

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