De Deodoro a Bolsonaro, jornalista reúne a trajetória dos presidentes do Brasil em livro

“O Brasil precisa combater essa noção de tratar políticos como heróis, vilões de história em quadrinho, mitos, e por aí vai...”. O conselho vem do jornalista Rodrigo Vizeu, que, em 2018, mergulhou na história dos presidentes da República do Brasil e jogou luz sobre a personalidade e contexto de cada um deles. O resultado pode ser considerado uma aula de conscientização para qualquer eleitor e do caminho que ainda deve ser percorrido para transformar o Brasil em uma democracia mais sólida.

O passado do Brasil República pode trazer grandes lições para o presente. Pensando em compartilhar informações importantes sobre a nossa história, Rodrigo Vizeu, editor do jornal "A Folha de S. Paulo", lançou no ano passado a série de podcasts "Presidente da Semana", que narra as peripécias dos mandatários brasileiros ao logo destes 130 anos.

A popularidade alcançada com o programa também rendeu um livro, "Os Presidentes". “Precisamos estudar constantemente nossa história. O olhar ao passado pode servir como um atalho, para que não sigamos cometendo os mesmos erros de sempre”, avalia.

O interesse pela história cresceu a partir do contato com leituras como a série sobre a ditadura militar do jornalista Elio Gaspari. “São livros que recomendo a todos para entender um período crucial de nossa história, com repercussões até hoje. O estudo do período, somado à cobertura jornalística das presidências recentes levou a um interesse natural por nossa história presidencial como um todo”, justifica.

Para ele, um dos pontos mais importantes em conhecer essa história e superar de uma vez por todas a noção de que nossa República foi construída por heróis e vilões. “Não recomendo a ninguém buscar seus heróis na Presidência da República. Eles são seres humanos, que erram e acertam, embora obviamente eu não tenha tratado os desiguais como iguais - são melhores aqueles que respeitam a democracia”, aponta. Os mandatários são servidores que executam medidas respaldadas pelo voto, mas também sob constante fiscalização da opinião pública, do Congresso e do Judiciário.

A natureza cíclica da história também transpareceu na análise. “Aprofundando-me nas pesquisas sobre a história republicana, chamou-me atenção como parece que alguns problemas parecem se repetir. É claro que cada época tem suas características, mas alguns elementos sempre pairam: nossos líderes muitas vezes cederam a tentações autoritárias, quando não nasceram com elas; é muito comum a ideia dos salvadores da pátria; repetem-se casos de desprezo pelas vontades e demandas do povo; e há os inúmeros escândalos e irregularidades. O Brasil parece não gostar muito de leis”, pontua o jornalista.

A inspiração para a série de podcasts veio de algo parecido feito pelo jornal "The Washington Post", que, em 2016, lançou "Presidential", resumindo a história de cada dos, até então, 44 presidentes americanos. As diferenças entre as repúblicas brasileiras e americanas superam suas semelhanças.

“A começar porque lá os presidentes são eleitos naquele sistema peculiar do colégio eleitoral. Há ainda o bipartidarismo, o que torna mais simples gerir sua base no Congresso caso detenha maioria. Uma grande diferença são as instituições mais sólidas, o que contribui para que os mandatos presidenciais americanos tenham se sucedido, via de regra, de forma regular, de acordo com a mesma Constituição. Nunca houve impeachment, embora ele tenha chegado perto de acontecer algumas vezes”, elencou. Há um ponto em comum, porém. “Os sistemas presidencialistas em países de dimensões continentais parece contribuir para a formação de lideranças presidenciais que investem no carisma, na emoção e no personalismo”, explica.