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Círio abre debate sobre conceitos de sagrado e profano: 'Tudo é cultura'

Festa da Chiquita, Arraial do Círio e Auto do Círio também voltam às ruas em 2022, celebrando a fé do jeito popular

Lucas Costa
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Quando se fala em Círio de Nazaré é comum ouvir a descrição de que a festa une o sagrado e o profano. É difícil identificar quem criou essa definição, mas ela é a mesma que aparece nos registros da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), quando declarou o Círio de Nazaré como Patrimônio Cultural da Humanidade.

Em termos práticos, a divisão serve para demarcar o que é realizado pela Igreja Católica em seus dogmas, e as manifestações ao seu entorno - como a Festa da Chiquita, o Arraial do Pavulagem e o Auto do Círio, assim como expressões de outras religiões. Mas se todas estas também carregam a devoção religiosa em suas motivações, por que então são definidas como algo que desrespeita tanto a religião?

"Profano", que vem do latim "profanus" significa literalmente “diante do templo”, e carrega o sentido de qualquer coisa que não está ligada às coisas sagradas. Em alguns dicionários também é possível identificar significados como algo "que deturpa ou viola a santidade de coisas sagradas" (Oxford), ou "desrespeitoso no que diz respeito às crenças religiosas" (Michaelis).

O Auto do Círio, uma espécie de cortejo de artistas pelas ruas do bairro da Cidade Velha, é realizado sempre na noite da sexta-feira de Círio. O desfile chega a vigésima oitava edição em 2022, desta vez sob o tema "Agradecer, Bendizer, Celebrar". Tarik Coelho, professor universitário e coordenador do Programa de Extensão do Auto do Círio, da Universidade Federal do Pará (UFPA), conta que os participantes já não a chamam de "manifestação profana". O termo não cabe dentro da grande produção feita em homenagem à padroeira.

"O auto do Círio vem como um complemento de fé, é um momento em que nós artistas conseguimos realizar nossa devoção. Ele não é atrelado a festa do Círio de Nazaré, as peregrinações da Igreja Católica, mas ele é sim nosso momento de fé e homenagem à Nossa Senhora", pontua Tarik.

Mesmo com desentendimentos entre o sagrado e o profano, não há sinais de que o Círio vá perder o que Ronaldo Silva, presidente do Instituto Arraial do Pavulagem, prefere chamar de "devoção popular" - ou de que essas demonstrações de fé estejam próximas das definições dos dicionários, quando o que ocorre é oposto.

No ano em que o Círio de Nazaré volta às ruas após um hiato causado pela pandemia, voltam também os "Viva Nossa Senhora de Nazaré" que ecoam de vozes fantasiadas e dançantes, tudo em saudação à padroeira dos paraenses.

"Na minha compressão, a Virgem de Nazaré não cabe dentro de uma coisa institucionalizada, e isso o pessoal na rua, no Círio, é a prova concreta. E independente de a gente reconhecer que tem uma aura institucional, e que a gente tem que respeitar, o que penso nessa relação com o profano e sagrado é que ela não é separada, porque você acaba mergulhando nessas duas histórias", pontua Ronaldo. "Particularmente, pelas minhas experiências e escolhas, prefiro mais a devoção popular. Não é essa coisa dita como profana, porque isso é preconceito, acho que são formas, outras formas que o tempo inteiro vem à tona, por uma necessidade individual, ou às vezes por uma necessidade coletiva", defende.

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