Circuito Maré Lançante transforma o bairro do Jurunas em museu vivo da Amazônia urbana
Exposição itinerante do Museu D’Água resgata memórias, promove escuta ativa e debate sobre justiça climática na periferia de Belém

A partir desta quinta-feira, 24, o Museu D’Água apresenta o Circuito Maré Lançante, uma exposição itinerante e interativa que percorre, ao longo de quatro semanas, o bairro do Jurunas, na periferia de Belém. A iniciativa transforma ruas, casas e espaços de convivência dos territórios em verdadeiros "cantinhos da memória": espaços afetivos e vivos onde as histórias dos moradores são o centro da narrativa.
A proposta da exposição vai além da contemplação: é uma plataforma de escuta e diálogo sobre pertencimento, meio ambiente e mudanças climáticas no contexto da Amazônia urbana. A programação começa com uma mobilização comunitária nesta quinta-feira (24), seguida da vernissage de abertura na sexta-feira (25), no Gueto Hub, marco oficial do início do circuito.
“Essa exposição é uma forma de garantir que os moradores não apenas conheçam melhor a história do bairro, mas também se reconheçam nela. É sobre lembrar que o Jurunas é feito de gente, de histórias, de luta e de beleza”, afirma Ruth Ferreira, moradora do Jurunas, ativista e historiadora, uma das curadoras do projeto.
O Circuito Maré Lançante nasceu da vontade de valorizar o território a partir das próprias vozes de quem o habita. A curadora e museóloga Tamires Pinheiro, também moradora do bairro, explica que a escolha do Jurunas não foi apenas geográfica, mas afetiva e política.
“O Museu D’Água nasceu com o propósito de salvaguardar e dar visibilidade à memória viva do Jurunas. É um bairro historicamente marcado por resistências, saberes e memórias que muitas vezes foram invisibilizadas”, diz.
A construção conjunta com a comunidade guiou todas as etapas da criação da exposição. A equipe do museu é composta inteiramente por jovens do próprio bairro, que atuam como pesquisadores, mediadores e articuladores.
A exposição foi pensada desde o início com participação direta da comunidade. Voluntários locais passaram por formações em mediação e comunicação, enquanto as histórias que compõem os “cantinhos da memória” foram coletadas a partir de visitas, entrevistas e escutas sensíveis feitas porta a porta.
Cada parada do circuito revela um "cantinho da memória" — espaços criados com objetos, relatos e imagens cedidos por moradores do Jurunas. São fotografias, santos, plantas, fantasias, bolas de futebol e até jornais antigos que compõem os miniacervos.
“Um dos elementos centrais da experiência é o uso de telefones antigos. Ao levantar o fone, o visitante escuta as entrevistas gravadas com os moradores, ouvindo suas vozes e emoções como se estivesse conversando diretamente com eles”, detalha Tamires.
Esses espaços não apenas expõem, mas convidam à presença, à escuta e à reflexão. Totens com foto, nome e mini-biografias dos protagonistas aproximam ainda mais o visitante da trajetória de quem compartilha sua história.
PROGRAMAÇÃO
O Circuito Maré Lançante tem início oficial no dia 25 de julho, com a vernissage de abertura no Gueto Hub. No dia 24, a equipe realiza uma mobilização interna com os voluntários, finalizando os detalhes e preparando o circuito.
Nas semanas seguintes, a exposição circulará por escolas, ruas, praças e espaços simbólicos do Jurunas, com datas e locais sendo divulgados pelo Instagram do Museu D’Água.
“Não é necessário inscrição. Basta chegar com disposição para ouvir, partilhar e reconhecer o Jurunas como um território de potência e história viva”, convida Ruth Ferreira.
O Circuito Maré Lançante é uma realização do Museu D’Água com apoio do Instituto Clima e Sociedade (ICS).
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